“Negro nesse País ainda sofre discriminação. Negro, pobre, mulheres, homossexuais." É assim que Judite Botafogo (PSDB), a prefeita eleita de Lagoa do Carro, na Mata Norte, descreve a campanha municipal. Mulher e negra, Judite é exceção no mapa político de Pernambuco. Dos 2.259 prefeitos e vereadores eleitos no Estado, apenas 5,4% têm a pele preta. Maioria no eleitorado, as mulheres são apenas 12,6% dos eleitos.
Quando disputou a primeira eleição, há exatos 20 anos, a tucana ouviu que ninguém ia votar numa “menina negra”. Professora da rede pública, ela adotou o slogan “com lápis e caneta, vote na preta”. “Usaram de tudo para me atacar. O fato de ser negra e o fato de ser pobre foram os ataques maiores”, conta. Dos 184 prefeitos pernambucanos recém-eleitos, apenas cinco declararam à Justiça Eleitoral ter a pele preta, são eles: Erivaldo Oliveira (Serrita), Pel (São José da Coroa Grande), Luiz Aroldo (Águas Belas) e Botafogo (Carpina), irmão de Judite.
Num Brasil em que 52% do eleitorado é feminino, apenas três mulheres vão comandar uma das 92 grandes cidades com mais de 200 mil eleitores. Uma delas é a caruaruense Raquel Lyra (PSDB), que, quando criança, ouviu que o pai, o ex-governador João Lyra Neto (PSDB), não teria herdeiros políticos por não ter filhos homens. Raquel é a primeira mulher eleita para a Prefeitura de Caruaru.
“Têm estudos que mostram que nesse compasso vão ser 185 anos para a gente conseguir igualdade”, grifa a tucana. Uma das 26 prefeitas eleitas em Pernambuco, ela explica a baixa representatividade de mulheres, inclusive no parlamento. “Vai desde a impossibilidade de a gente participar de partidos políticos, que são na sua grande maioria gerenciados por homens. A definição dos recursos (partidários) é deles na grande maioria das vezes. E a grande dificuldade que a mulher tem de conseguir sair de casa e ultrapassar todos os obstáculos que existem para que ela possa entrar na vida política”, lembra.
Pernambuco, atualmente, é formado por dez etnias e 13 povos indígenas. É aqui onde está a quarta maior população do Brasil, mas nem por isso há maior participação deles na política. Este ano, foram eleitos somente 13 pessoas que se declararam índios no Estado, sendo dois prefeitos, em Lajedo, no Agreste, e Tacaratu, no Sertão.
Na cidade sertaneja moram os pankararus. O prefeito reeleito, José Gerson da Silva (PSB), 50 anos, é filho de índios da etnia kambiwá, mas, apesar da descendência, enfrenta resistência das aldeias. Inclusive, conta ele, “ganhei em todas as localidades, menos na área dos índios”. Os pankararu são um dos povos mais politizados e cheios de divisões internas. “Eles são muito rigorosos e cobram muito do prefeito, mas eles têm o direito de cobrar, porque a maioria das terras em Tacaratu são indígenas”, conta. A cobrança é por mais assistência à saúde, à educação e acesso à água. O município sertanejo passa sufoco por causa da seca que atinge várias cidades nordestinas. Ciente das dificuldades, o prefeito promete tirar do papel, nessa segunda gestão, a secretaria indígena, dedicada exclusivamente ao atendimento à população.
Esta é a primeira eleição municipal em que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) solicitou dados aos candidatos sobre raça e cor. Há no Brasil uma subnotificação nas declarações, a exemplo de pessoas pretas que se declaram pardas ou pardas que se declaram brancas. Nos Estados do Norte e Nordeste, a maioria dos eleitos se diz parda, com exceção do Rio Grande do Norte. Já nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, grande parte se autodenomina branca.