Como se não bastasse sofrer com a violência nas ruas, os pernambucanos também ficam no meio do fogo-cruzado da disputa política na área de Segurança. Governo e oposição têm aumentado o tom das críticas entre si e também há rusgas do mesmo lado. Em reserva, aliados do governador Paulo Câmara (PSB) afirmam que o Estado errou ao esticar demais a corda em alguns pontos da negociação com os policiais. Já na oposição há divergências por conta das pretensões eleitorais das principais lideranças ligadas às associações de policiais militares.
Principais portavozes da categoria, o deputado estadual Joel da Harpa (PTN) e o presidente da Associação de Cabos e Soldados, Albérisson Carlos (PSDB), disputarão ambos a eleição para a Assembleia Legislativa no próximo ano. Para o governo, há uma disputa de base eleitoral entre os dois. Joel ganhou visibilidade após liderar a greve da PM de 2014. Albérisson foi preso antes de uma assembleia que poderia deliberar pela paralisação da mesma categoria no ano passado.
Há dois dias, o vicelíder do governo Rodrigo Novaes (PSD) afirmou no plenário que Joel e Albérisson "disputam para ver quem mais radicaliza para ter mais votos em 2018". O líder da oposição, Silvio Costa Filho (PRB), cobrou respeito ao colega. Fora da mesa de negociação, Albérisson tem incentivado a operação padrão como forma de pressionar o Executivo. No Legislativo, Joel já chegou a dormir no gabinete para cobrar o envio do reajuste da PM. Os dois costumam se comunicar com suas bases através de transmissões ao vivo diárias no Facebook.
"No momento em que começou a existir os ruídos, faltou alguém que abafasse. Não sei se na base do governo, não sei se do governo ou da oposição. Esticaram a corda, tentaram um cabo de guerra. Isso não é bom para a população", avaliou o deputado Romário Dias, relator da proposta na CCJ da Alepe. A avaliação é feita, em reserva, por outros parlamentares governistas. A visão é que se os militares se excederam, por um lado, o governo não ajudou ao bater de frente.
Durante coletiva para detalhar a proposta de reajuste de policiais e bombeiros militares, auxiliares do governador fizeram uma ofensiva contra a Associação de Cabos e Soldados (ACSPE) e a Associação dos Militares de Pernambuco (AME). "O que eles buscam é a anarquia e não podemos permitir. Infelizmente, investem no caos porque o que se busca é espaço político. Não há previsão constitucional que permita a policiais e bombeiros militares atuarem com representação sindical. Eles não têm legitimidade", disse o secretário de Defesa Social, Ângelo Gioia.
As declarações são reforçadas pelo secretário de Administração, Milton Coelho. "Não é um movimento classista. É um movimento de um braço armado policial do Estado. Quando ele entra em motim, vemos um atentado à ordem pública." O secretário de Planejamento, Márcio Stefanni, endossou as críticas. "Essas pseudolideranças vão ao jornal dizer que a operação padrão foi um sucesso. Ela representa mais assalto a ônibus e mais homicídios, porque estamos tirando parte da capacidade operativa das ruas. É uma luta suja contra a sociedade de Pernambuco".
O próprio governador usou o Facebook para acusar representantes de associações sem citar nomes de não observarem a hierarquia militar e ressaltou a ligação política deles com partidos de oposição. "Essa minoria tem tentado politizar um tema tão importante. Não vamos admitir isso. Sabemos que a maioria dos policiais trabalham de maneira séria e comprometida", adverte Paulo Câmara em seu post na rede social.
As contestações do governo não ficam apenas na retórica. O Blog de Jamildo informou que a corregedoria da Secretaria de Defesa Social abriu 43 processos disciplinares relacionados à operação padrão e que o Ministério Público ajuizou uma ação criminal contra as principais lideranças da ACSPE e da AME.