Queda de braço entre governo e PMs atrapalhou negociação do reajuste

Nas negociações, governo cobra disciplina, e PMs disputam liderança da categoria
Franco Benites e Paulo Veras
Publicado em 08/02/2017 às 2:18
Nas negociações, governo cobra disciplina, e PMs disputam liderança da categoria Foto: Foto: reprodução/Facebook


Como se não bastasse sofrer com a violência nas ruas, os pernambucanos também ficam no meio do fogo-cruzado da disputa política na área de Segurança. Governo e oposição têm aumentado o tom das críticas entre si e também há rusgas do mesmo lado. Em reserva, aliados do governador Paulo Câmara (PSB) afirmam que o Estado errou ao esticar demais a corda em alguns pontos da negociação com os policiais. Já na oposição há divergências por conta das pretensões eleitorais das principais lideranças ligadas às associações de policiais militares.

Principais porta­vozes da categoria, o deputado estadual Joel da Harpa (PTN) e o presidente da Associação de Cabos e Soldados, Albérisson Carlos (PSDB), disputarão ambos a eleição para a Assembleia Legislativa no próximo ano. Para o governo, há uma disputa de base eleitoral entre os dois. Joel ganhou visibilidade após liderar a greve da PM de 2014. Albérisson foi preso antes de uma assembleia que poderia deliberar pela paralisação da mesma categoria no ano passado.

Há dois dias, o vice­líder do governo Rodrigo Novaes (PSD) afirmou no plenário que Joel e Albérisson "disputam para ver quem mais radicaliza para ter mais votos em 2018". O líder da oposição, Silvio Costa Filho (PRB), cobrou respeito ao colega. Fora da mesa de negociação, Albérisson tem incentivado a operação padrão como forma de pressionar o Executivo. No Legislativo, Joel já chegou a dormir no gabinete para cobrar o envio do reajuste da PM. Os dois costumam se comunicar com suas bases através de transmissões ao vivo diárias no Facebook.

"No momento em que começou a existir os ruídos, faltou alguém que abafasse. Não sei se na base do governo, não sei se do governo ou da oposição. Esticaram a corda, tentaram um cabo de guerra. Isso não é bom para a população", avaliou o deputado Romário Dias, relator da proposta na CCJ da Alepe. A avaliação é feita, em reserva, por outros parlamentares governistas. A visão é que se os militares se excederam, por um lado, o governo não ajudou ao bater de frente.

Durante coletiva para detalhar a proposta de reajuste de policiais e bombeiros militares, auxiliares do governador fizeram uma ofensiva contra a Associação de Cabos e Soldados (ACS­PE) e a Associação dos Militares de Pernambuco (AME). "O que eles buscam é a anarquia e não podemos permitir. Infelizmente, investem no caos porque o que se busca é espaço político. Não há previsão constitucional que permita a policiais e bombeiros militares atuarem com representação sindical. Eles não têm legitimidade", disse o secretário de Defesa Social, Ângelo Gioia.

As declarações são reforçadas pelo secretário de Administração, Milton Coelho. "Não é um movimento classista. É um movimento de um braço armado policial do Estado. Quando ele entra em motim, vemos um atentado à ordem pública." O secretário de Planejamento, Márcio Stefanni, endossou as críticas. "Essas pseudo­lideranças vão ao jornal dizer que a operação padrão foi um sucesso. Ela representa mais assalto a ônibus e mais homicídios, porque estamos tirando parte da capacidade operativa das ruas. É uma luta suja contra a sociedade de Pernambuco".

'NÃO VAMOS ADMITIR'

O próprio governador usou o Facebook para acusar representantes de associações ­ sem citar nomes ­ de não observarem a hierarquia militar e ressaltou a ligação política deles com partidos de oposição. "Essa minoria tem tentado politizar um tema tão importante. Não vamos admitir isso. Sabemos que a maioria dos policiais trabalham de maneira séria e comprometida", adverte Paulo Câmara em seu post na rede social.

As contestações do governo não ficam apenas na retórica. O Blog de Jamildo informou que a corregedoria da Secretaria de Defesa Social abriu 43 processos disciplinares relacionados à operação padrão e que o Ministério Público ajuizou uma ação criminal contra as principais lideranças da ACS­PE e da AME.

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