O aumento nos índices de criminalidade e a surpreendente ação de bandidos na madrugada desta terça-feira (21/02) na Avenida Recife fizeram a socióloga do Gabinete de Assessoria à Organizações Populares (Gajop), Édna Jatobá, concluir que “o Estado perdeu o controle na condução da política de segurança”. Ela é da coordenação da entidade que por três décadas atua na área de justiça e direitos humanos. Nesta quarta (22/2), às 9h30, o Gajop promove, junto com a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, uma audiência pública para discutir a crise na segurança e no sistema penitenciário.
“Esses números vêm aumentando, há um crescimento absurdo de assassinatos, de estupros e da violência doméstica e a gente não vê uma resposta efetiva do Estado na reorganização do Pacto Pela Vida”, analisa. “O que a gente tem visto é uma quebra de braço com a polícia (policiais militares), mas de fato não há uma iniciativa de relevância. Voltamos a uma situação de dez anos atrás, na qual as pessoas temiam sair de casa com medo de violência”, completa, numa crítica ao governo Defesa Social e de comando das polícias, mas faltou o governador de Pernambuco se posicionar sobre a política de segurança pública do Estado. “Ele só diz que está fazendo as mudanças, que está retomando coisas do Pacto Pela Vida, mas a gente não sabe, não tem conhecimento. Se estão fazendo a gente desconhece e desacredita se de fato estão fazendo alguma coisa”.
Cadê as operações de repressão qualificada a homicídios?, pergunta.”O Estado está apagando incêndios. Tem que investir no todo, tem que agir na prevenção da violência com a Defesa Social e de forma articulada com outras secretarias. Como está chegando esse armamento nas mãos da criminalidade? O Pacto previa o controle de armas. Dos 138 projetos do programa, não conseguimos saber o que foi e não foi realizado”.
Para o doutor em sociologia e ciência política Valdir Eduardo Ferreira, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) em Garanhuns, o Estado (União, governo estadual e prefeituras) não tem assumido o papel de protetor dos cidadãos nem se preocupado com a concentração de riqueza e desigualdades sociais.
“Esse modelo cria privilégios, não gasta um centavo com quem considera ser improdutivo, pessoas que não interessam", diz, criticando a omissão com os excluídos.
As pessoas de renda inferior estão entrgues a si mesmas. Além disso, segundo ele, há uma indústria se beneficiando da violência, de flores, de artigos de segurança, por exemplo. "Como acreditar num País que faz comercial de cemitérios?"