A necessidade de incluir o empreendedorismo na pauta política das próximas eleições foi apontada por empresários entrevistados pela reportagem. Um dos pontos principais é a redução da burocracia. Alan Cavalcanti, que está à frente do Malakoff Café, cafeteria aberta há dois anos e quatro meses no Recife, disse que adiou em quatro meses a abertura da primeira unidade. Sócio da esposa, ele contou que o casal se preparou para reduzir o trabalho formal e se dedicar ao negócio. "Até hoje sentimos o reflexo disso. Gastamos um recurso inicial para gerir o negócio e diminuímos os investimentos", relatou.
Para ele, é preciso que a agenda política tenha uma aproximação com os pequenos empresários para que entenda melhor as demandas. "Chamaria a atenção um candidato que colocasse isso na pauta. A economia é impulsionada pelos pequenos negócios. A gente tem leis até bem definidas, mas falta conectividade entre os órgãos, até mesmo entre funcionários de um mesmo órgão. Não existe uma padronização de procedimentos", disse Alan.
O Malakoff Café enfrenta o período de crise, mas conseguiu atravessar a turbulência e crescer. A cafeteria nasceu no bairro do Prado e há um ano abriu sua segunda unidade no Paço do Frevo, no Recife Antigo. Juntas, as lojas empregam 12 pessoas. Os planos de expansão se voltam agora para o setor de franquias.
O negócio integra uma rede de cafeterias que se uniram para fazer o festival Recife Coffee, que chegou ao seu segundo ano reunindo empresas inicialmente concorrentes e oferecendo produtos diferenciados. Para implantar, eles buscaram o Sebrae para elaborar um modelo de gestão. "É um projeto que pode ser expandido e pode ajudar a rever a questão da concorrência. Já que havia essa troca de clientes, por que não estimular?", questiona.
Alberto Borges uniu a saída da empresa onde trabalhava com o plano de montar uma consultoria de gestão e planejamento de recursos humanos. Tirou o projeto da Lumi do papel neste ano e enfrentou sete meses de idas e vindas em órgãos públicos para legalizar seu negócio.
"O empreendedorismo precisa entrar na pauta política porque vivemos um momento de desaquecimento da economia. O problema não é cumprir as exigências legais e burocráticas, mas ser colocado diante de tantos pontos adversos. Isso tira tempo, tira ânimo e até mantém muita gente na informalidade. É preciso ter um esforço político para criar uma câmara de empreendedorismo, abrir caminho para quem quer contribuir para a economia, gerar empregos e divisas", opinou.
Em junho, um levantamento feito pelo Sebrae com base no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), mostrou que os pequenos negócios abriram 35,8 mil novos postos de trabalho no Brasil, 14,4% a mais que maio. As médias e grandes empresas fecharam 26,7 mil vagas, segundo o mesmo levantamento.