Livro revela detalhes do Massacre da Granja São Bento em Pernambuco

Livro revela detalhes do Massacre da Granja São Bento, que neutralizou luta armada no Brasil
Paulo Veras
Publicado em 29/08/2017 às 7:30
Livro revela detalhes do Massacre da Granja São Bento, que neutralizou luta armada no Brasil Foto: Foto: Nathalia Pereira/divulgação


Novos detalhes sobre a chacina ocorrida em Pernambuco como a pá de cal na guerrilha urbana no Brasil pelo Dops (Departamento de Ordem Política e Social) são revelados no livro O massacre da Granja São Bento, lançado nesta terça-feira (29) pela Cepe, às 19h, no Paço Alfândega. A obra do jornalista Luiz Felipe Campos reconstitui como o agente duplo José Anselmo dos Santos, o cabo Anselmo, atraiu para a morte em um sítio de Abreu e Lima seis militantes da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), dentre os quais a paraguaia Soledad Barret, com quem era casado.

Fruto de uma pesquisa de cinco anos, o livro reconta como Anselmo, já a serviço do delegado Sérgio Fleury, foi ao Chile e convenceu a VPR a apostar na guerrilha no Nordeste, fugindo da ferrenha repressão no Rio de Janeiro e São Paulo. Era uma emboscada para entregar aos militares, um por um, militantes de diversas organizações de esquerda. Quando a infiltração se tornou evidente, o cabo articulou com Fleury a prisão dos seis guerrilheiros sob seu comando, inclusive a esposa. Eles foram executados com 32 tiros, 14 dos quais na cabeça.

Ao reconstituir o período em que os militantes conviveram no Grande Recife, Luiz traz a tona episódios sádicos, como quando o grupo foi levado a uma festa no Janga, em Paulista, e a tcheca Pauline Reichstul, uma das vítimas do massacre, dançou com o torturador Fleury. Narra como Genivalda Melo da Silva, que desconhecia a vida de guerrilheiro do marido José Manoel da Silva, viajou quilômetros para tentar pagar uma fiança, por achar que ele havia sido preso vendendo mercadorias sem nota fiscal.

'SEM DISPARAR UM TIRO'

“Foi o único grupo guerrilheiro de que morreu sem disparar um tiro. Anselmo deixava todo mundo com a rédea muito curta. E não tinha assalto a banco porque ele tinha dinheiro quando queria, a partir do Chile”, conta Luiz. Para o autor, o Dops foi bem sucedido no plano de usar o massacre para acabar com a luta armada. “Depois disso a gente só teve a Guerrilha do Araguaia. Mas não foi no ambiente urbano”, explica.

A pesquisa incluiu entrevistas no Chile, Uruguai e Argentina. Para Luiz, relembrar essa história tem dois significados. O primeiro é que os torturadores e agentes da ditadura estão soltos, sem punição. O próprio Anselmo nunca foi julgado. “Tem também um pessoal mais jovem que eu não sei se faltou a aula de história, mas que está com essa maluquice de que na época da ditadura era melhor”, afirma.

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