Novos detalhes sobre a chacina ocorrida em Pernambuco como a pá de cal na guerrilha urbana no Brasil pelo Dops (Departamento de Ordem Política e Social) são revelados no livro O massacre da Granja São Bento, lançado nesta terça-feira (29) pela Cepe, às 19h, no Paço Alfândega. A obra do jornalista Luiz Felipe Campos reconstitui como o agente duplo José Anselmo dos Santos, o cabo Anselmo, atraiu para a morte em um sítio de Abreu e Lima seis militantes da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), dentre os quais a paraguaia Soledad Barret, com quem era casado.
Fruto de uma pesquisa de cinco anos, o livro reconta como Anselmo, já a serviço do delegado Sérgio Fleury, foi ao Chile e convenceu a VPR a apostar na guerrilha no Nordeste, fugindo da ferrenha repressão no Rio de Janeiro e São Paulo. Era uma emboscada para entregar aos militares, um por um, militantes de diversas organizações de esquerda. Quando a infiltração se tornou evidente, o cabo articulou com Fleury a prisão dos seis guerrilheiros sob seu comando, inclusive a esposa. Eles foram executados com 32 tiros, 14 dos quais na cabeça.
Ao reconstituir o período em que os militantes conviveram no Grande Recife, Luiz traz a tona episódios sádicos, como quando o grupo foi levado a uma festa no Janga, em Paulista, e a tcheca Pauline Reichstul, uma das vítimas do massacre, dançou com o torturador Fleury. Narra como Genivalda Melo da Silva, que desconhecia a vida de guerrilheiro do marido José Manoel da Silva, viajou quilômetros para tentar pagar uma fiança, por achar que ele havia sido preso vendendo mercadorias sem nota fiscal.
“Foi o único grupo guerrilheiro de que morreu sem disparar um tiro. Anselmo deixava todo mundo com a rédea muito curta. E não tinha assalto a banco porque ele tinha dinheiro quando queria, a partir do Chile”, conta Luiz. Para o autor, o Dops foi bem sucedido no plano de usar o massacre para acabar com a luta armada. “Depois disso a gente só teve a Guerrilha do Araguaia. Mas não foi no ambiente urbano”, explica.
A pesquisa incluiu entrevistas no Chile, Uruguai e Argentina. Para Luiz, relembrar essa história tem dois significados. O primeiro é que os torturadores e agentes da ditadura estão soltos, sem punição. O próprio Anselmo nunca foi julgado. “Tem também um pessoal mais jovem que eu não sei se faltou a aula de história, mas que está com essa maluquice de que na época da ditadura era melhor”, afirma.