Caruaru é a cidade mais procurada pelos Turistas no polo de confecções

Em Caruaru, quase 70% das produções são informais, além de ter quase 20% do PIB da cidade influenciado pelo mercado informal de confecções
Anna Tenório e Mirella Araújo
Publicado em 16/09/2019 às 15:01
as pequenas empresas forma as que tiveram maior dificuldade de credito durante a pandemia e as que mais dmeitiram. Foto: Rhudá Jardim/Divulgação


Entre os municípios que compõem o polo têxtil no Agreste pernambucano, Caruaru é a cidade mais desenvolvida, mais populosa e um dos principais destinos dos turistas e comerciantes que procuram comprar roupas a preços acessíveis. Também é de lá que vem os 30% de toda a produção de confecção do Estado. Esse papel de liderança, consequentemente, acaba refletindo em toda a dinâmica econômica do município, mexendo na cadeia produtiva de forma a causar impacto nas atividades comerciais, nas ofertas de serviços e educação e no desenvolvimento da tecnologia.

No início do mês, o governo do Estado lançou um conjunto de ações para valorizar a cadeia têxtil e de confecções. Entre os temas abordados nestas propostas está a interiorização de políticas públicas e maior participação na aplicação de recursos. Todas as ações eram demandas antigas do setor. De acordo com Luverson Ferreira, presidente da Associação Comercial de Caruaru (ACIC), as associações já vêm travando esse debate sobre distribuição de recursos e instalação de espaço de discussão entre os setores públicos e privados há “pelo menos três anos”.

“A gente pleiteava a aplicação dos recursos, um percentual maior de aplicação do dinheiro aqui no interior. Nas rodadas de negócios aos eventos que fomentam em torno da feira”, explicou.
Ainda de acordo com o presidente da ACIC, Caruaru tem grandes fornecedores e empresas. Mas, segundo ele, algumas demandas de infraestrutura da cidade, como abastecimento de água e a deterioração da rodovia, impedem que o município possa se desenvolver ainda mais neste setor.
Na avaliação de João Melo Neto, gerente de Projetos Especiais da Prefeitura de Caruaru e ex-secretário de Desenvolvimento Econômico do município, o Fundo de Desenvolvimento da Cadeia Têxtil (Funtec) atua como um agente “superimportante” na modernização do parque e das práticas, obviamente, de produção. Os recursos do fundo estão em um orçamento vinculado à Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado (Sdec), que passará a ter gestão compartilhada com a iniciativa privada e prefeituras das cidades que mais contribuem com ele.
Um dos grandes desafios da gestão municipal com o desenvolvimento do setor é lidar com a questão da informalidade. Em Caruaru, quase 70% das produções são informais, além de ter quase 20% do PIB da cidade influenciado pelo mercado informal, de acordo com João Melo.

“Na prática, no dia a dia, a gente sabe que são várias famílias que perderam o emprego, como há muitos desempregados no Brasil. E a gente sabe que na confecção eles acabam tendo um alento para passar esse tempo de desemprego ou até mesmo criando novas oportunidades de negócios. Às vezes, a informalidade gera muita formalidade”, defendeu.
Uma das demandas atendidas pelo Estado é a criação de uma Câmara Setorial Têxtil e de Confecções, que no governo fica sob a responsabilidade da Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (AD Diper). No órgão, Maíra Fisher é a responsável pela gestão deste departamento, que tem como atribuição a formalização de um espaço onde o setor privado, que será representado pelas associações, poderá dialogar com o setor público. “A gente vai trabalhar o regimento interno e ter uma eleição para a presidência da Câmara até 30 de setembro. A partir daí, o governo do Estado é quem vai estar puxando essas reuniões, que vai estar nesse papel de articulador”, explicou Maíra.

Apesar do Estado se propor a atender uma demanda antiga dos setor de confecções com a proposta de instalação das Câmaras Setoriais, o secretário de Desenvolvimento Econômico de Santa Cruz do Capibaribe, Isac Aragão, criticou a forma como o processo está sendo guiado. “Discordamos nessa sugestão do comitê, pois o Moda Center – o principal centro comercial e produtor – não está entre as entidades que foram selecionadas. Também não está a CDL que fornece a matéria-prima para gerar esses empregos. O governo do Estado só olha com força com os olhos da secretaria da Fazenda. Não é só confecção, tem um leque grande de atividades, o bem-estar da população e dos visitantes”, disse.

 Em Pe, são mais de 964 produtores

No segmento de vestuário em moda, Pernambuco possui 964 unidades produtores com CNPJ e porte industrial – no quadro da informalidade o número supera a casa dos 8 mil agentes econômicos. Em 2017, estima-se que foram produzidos 235,8 milhões de artigos de vestuário em moda, uma alta de 4,9% em relação a 2016. Com o mercado em constante transformação, a forma de consumo tem ressignificado o modelo atual de produção e capacitação na área têxtil.
A interiorização das ações do Marco Pernambucano da Moda – que oferta serviços e apoio a empresários profissionais da cadeia com a difusão de técnicas e ferramentas de gestão, inovação, design e empreendedorismo – vem para acompanhar essa evolução. “Estamos falando de digitalização da produção, de indústria 4.0, isso vai exigir uma mudança de cultura nos sistemas que produzimos hoje. No modelo tradicional, as empresas fabricam e depois vendem. Isso gera um desperdício enorme e o mundo não aguenta. As empresas que entendem isso, passam a vender e depois fabricar”, afirmou o gestor do Marco Pernambucano de Moda, Fredi Maia.

A ideia é levar a estrutura que hoje está localizada no Recife Antigo para a cidade de Caruaru. O Marco possui um espaço coworking para abrigar empresas, projetos e pessoas que trabalham com moda e economia criativa. Também há um laboratório para o desenvolvimento de produtos - uma espécie de mini fábrica. Também são realizado no espaço, palestras, oficinas, desfiles e exposição de produtos colaborativos.

“Nós não estamos ausente no Estado, sempre realizamos ações no Agreste. Provavelmente essa estrutura será instalada em Caruaru, que é um centro regional. Será feito um novo contrato de gestão, que deve tá equacionado no ano que vem. A partir disso será feito um plano de ação”, comentou Maia. Capacitação profissional e investimentos na área de educação voltados ao polo têxtil é uma demanda antiga. “Nós precisamos ter uma faculdade pública voltada para a confecção. As que existem são pagas e em outras cidades. Quem mora em Santa Cruz precisa sair para Campina Grande (PB) e Caruaru para ter acesso à formação. Os cursos que são oferecidos pelo Senai são de nível tecnólogo. Precisamos que o governo atenda essas demandas”, declarou o gerente-geral do Moda Center Santa Cruz, George Pinto.

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