Nos quatro cantos do planeta, a população passou a conhecer a toxina botulínica depois que o uso dela se popularizou na cosmiatria. Afinal, foi através da substância que várias pessoas passaram a contar com uma ferramenta eficaz para amenizar as rugas de expressão.
No entanto, a utilização da toxina botulínica, em procedimentos cosméticos, só foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2000 – oito anos depois de receber o aval para fins terapêuticos.
E antes disso, em 1989, nos Estados Unidos, a toxina botulínica já havia recebido autorização para ser uma alternativa no tratamento do estrabismo. Hoje, o produto tem várias indicações aprovadas no mundo para tratamentos terapêuticos e procedimentos estéticos.
(Este é um texto vinculado à matéria Toxina do bem)
Na dermatologia, por exemplo, o medicamento é usado para combater as linhas faciais hipercinéticas, também são conhecidas como rugas ou linhas de expressão. Essa especialidade também recorre à substância para tratar a hiperidrose, caracterizada pelo suor excessivo na palma das mãos, nas axilas e na planta dos pés.
E na neurologia, a toxina botulínica é utilizada nos casos de espasticidade - rigidez excessiva da musculatura (braços e pernas principalmente) que afeta a mobilidade dos pacientes. Trata-se de uma sequela comum em pessoas que tiveram acidente vascular cerebral (AVC), paralisia cerebral, lesões medulares, esclerose múltipla e outras patologias ligadas ao sistema nervoso central.
Quem tem distonia, uma enfermidade que provoca contrações involuntárias da musculatura em diversas regiões do corpo (como o pescoço), também é beneficiado com a terapêutica do botox. Pelos sinais que causam no paciente, a distonia pode ser confundida infelizmente com tique nervoso, o que adia a procura por um tratamento certeiro.
Recentemente, a Anvisa aprovou o uso da toxina botulínica da empresa Allergan (marca comercial Botox) para enxaqueca crônica. Porém, o medicamento não deve ser usado para outros tipos de dores de cabeça, e sim para aquela que aparece 15 dias por mês, com duração de mais de quatro horas por dia, por mais de três meses.
Já na odontologia, o produto é direcionado para pacientes que convivem com bruxismo, um problema que se caracteriza pelo ranger de dentes durante o sono, quando o músculo mastigatório trabalha além da conta. Isso leva ao atrito entre os dentes e, como consequência, ao desgaste deles. Ainda na cadeira do dentista, a substância pode ser aplicada em quem tem sorriso gengival, que é uma disfunção em que a gengiva é exposta excessivamente quando a pessoa ri.
O caráter múlti da toxina botulínica também é percebido na oftalmologia. Portadores de estrabismo, que é o desalinhamento dos olhos causado por um desequilíbrio dos músculos que agem sobre o globo ocular, podem recorrer à terapêutico com o medicamento em questão e, dessa maneira, evitar a cirurgia.
No blefaroespasmo, conhecido por contrações involuntárias do músculo que controla as pálpebras e faz o paciente piscar incontrolavelmente, a substância é mais uma opção de tratamento. O problema lamentavelmente é confundido com tique nervoso e, durante muito tempo, já foi considerado como manifestação de natureza psiquiátrica.
É bom mencionar que a urologia é mais uma especialidade médica que usa a toxina botulínica. Nesse caso, o produto é recomendado para tratar a bexiga hiperativa, que é caracterizada por contrações involuntárias do músculo da bexiga, capazes de causar vontade urgente e excessiva de urinar.
Por fim, vale a pena salientar que nem tudo é botox. É importante compreendermos que a toxina botulínica do tipo A é um produto biológico e cada marca possui características específicas, como dosagem, tempo de resposta, duração de efeito e indicações, devido ao processo de fabricação, tipo de cepa utilizada e envasamento.
Entre os nomes comerciais da toxina botulínica do tipo A, estão Botox (o mais conhecido por ter sido pioneiro no segmento), Dysport, Prosigne e Xeomin. Essas quatro são as marcas mais usadas na medicina e na odontologia. Mas não são genéricos e biossimilares. Esses produtos, disponíveis no mercado brasileiro, possuem diferentes indicações aprovadas pela Anvisa, tanto no uso cosmético como terapêutico.