Substância de mil e uma utilidades

Uso da toxina botulínica foi aprovado para fins terapêuticos em 1992, oito anos antes de receber o aval na cosmiatria
Cinthya Leite
Publicado em 17/03/2012 às 13:42
Uso da toxina botulínica foi aprovado para fins terapêuticos em 1992, oito anos antes de receber o aval na cosmiatria Foto: Igo Bione / JC Imagem


Nos quatro cantos do planeta, a população passou a conhecer a toxina botulínica depois que o uso dela se popularizou na cosmiatria. Afinal, foi através da substância que várias pessoas passaram a contar com uma ferramenta eficaz para amenizar as rugas de expressão.

No entanto, a utilização da toxina botulínica, em procedimentos cosméticos, só foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2000 – oito anos depois de receber o aval para fins terapêuticos.

E antes disso, em 1989, nos Estados Unidos, a toxina botulínica já havia recebido autorização para ser uma alternativa no tratamento do estrabismo. Hoje, o produto tem várias indicações aprovadas no mundo para tratamentos terapêuticos e procedimentos estéticos.

(Este é um texto vinculado à matéria Toxina do bem)

Na dermatologia, por exemplo, o medicamento é usado para combater as linhas faciais hipercinéticas, também são conhecidas como rugas ou linhas de expressão. Essa especialidade também recorre à substância para tratar a hiperidrose, caracterizada pelo suor excessivo na palma das mãos, nas axilas e na planta dos pés.

E na neurologia, a toxina botulínica é utilizada nos casos de espasticidade - rigidez excessiva da musculatura (braços e pernas principalmente) que afeta a mobilidade dos pacientes. Trata-se de uma sequela comum em pessoas que tiveram acidente vascular cerebral (AVC), paralisia cerebral, lesões medulares, esclerose múltipla e outras patologias ligadas ao sistema nervoso central.

Quem tem distonia, uma enfermidade que provoca contrações involuntárias da musculatura em diversas regiões do corpo (como o pescoço), também é beneficiado com a terapêutica do botox. Pelos sinais que causam no paciente, a distonia pode ser confundida infelizmente com tique nervoso, o que adia a procura por um tratamento certeiro.

Recentemente, a Anvisa aprovou o uso da toxina botulínica da empresa Allergan (marca comercial Botox) para enxaqueca crônica. Porém, o medicamento não deve ser usado para outros tipos de dores de cabeça, e sim para aquela que aparece 15 dias por mês, com duração de mais de quatro horas por dia, por mais de três meses.

Já na odontologia, o produto é direcionado para pacientes que convivem com bruxismo, um problema que se caracteriza pelo ranger de dentes durante o sono, quando o músculo mastigatório trabalha além da conta. Isso leva ao atrito entre os dentes e, como consequência, ao desgaste deles. Ainda na cadeira do dentista, a substância pode ser aplicada em quem tem sorriso gengival, que é uma disfunção em que a gengiva é exposta excessivamente quando a pessoa ri.

O caráter múlti da toxina botulínica também é percebido na oftalmologia. Portadores de estrabismo, que é o desalinhamento dos olhos causado por um desequilíbrio dos músculos que agem sobre o globo ocular, podem recorrer à terapêutico com o medicamento em questão e, dessa maneira, evitar a cirurgia.

No blefaroespasmo, conhecido por contrações involuntárias do músculo que controla as pálpebras e faz o paciente piscar incontrolavelmente, a substância é mais uma opção de tratamento. O problema lamentavelmente é confundido com tique nervoso e, durante muito tempo, já foi considerado como manifestação de natureza psiquiátrica.

É bom mencionar que a urologia é mais uma especialidade médica que usa a toxina botulínica. Nesse caso, o produto é recomendado para tratar a bexiga hiperativa, que é caracterizada por contrações involuntárias do músculo da bexiga, capazes de causar vontade urgente e excessiva de urinar.

Por fim, vale a pena salientar que nem tudo é botox. É importante compreendermos que a toxina botulínica do tipo A é um produto biológico e cada marca possui características específicas, como dosagem, tempo de resposta, duração de efeito e indicações, devido ao processo de fabricação, tipo de cepa utilizada e envasamento.

Entre os nomes comerciais da toxina botulínica do tipo A, estão Botox (o mais conhecido por ter sido pioneiro no segmento), Dysport, Prosigne e Xeomin. Essas quatro são as marcas mais usadas na medicina e na odontologia. Mas não são genéricos e biossimilares. Esses produtos, disponíveis no mercado brasileiro, possuem diferentes indicações aprovadas pela Anvisa, tanto no uso cosmético como terapêutico.

TAGS
doenças fins terapêuticos toxina botulínica botox
Veja também
últimas
Mais Lidas
Webstory