Como mulheres podem reagir a assédio e agressões

Ouvir calada as cantadas e tolerar abordagens físicas é coisa que muitas mulheres se recusam a consentir
Emídia Felipe
Publicado em 08/03/2015 às 8:42
Foto: NE10


Uma mulher anda na rua e escuta piadinhas de um desconhecido. Uma menina é puxada pelo braço em uma festa por um rapaz. Uma adolescente é perseguida por garotos nas redes sociais por ser contra o machismo. O texto podia ir até o fim da página com casos de diferentes níveis de violência que provam a lamentável presença das agressões diárias contra as mulheres, de todas as idades e classes sociais. Mas ele vai contar duas dessas histórias, mostrar como essas mulheres reagiram e porque o posicionamento contra o desrespeito é essencial para que, um dia, matérias como essa sejam desnecessárias.

“(...) eu sei o quanto pode ser perigoso reagir a um assédio. Mas sei também que é perigoso ouvir calada, porque isso dá cada vez mais poder a esse machismo violento. É de um assédio verbal que nascem outras formas de agressão (...)”. O trecho é do blog Ideias de Fim de Semana, da publicitária Anna Terra, que decidiu contar suas experiências contra o assédio nas ruas. “Vou continuar respondendo e alertando os homens, mesmo quando não for comigo. Quem sabe um dia isso acaba”, diz Anna Terra.

Infográfico


Site da campanha recolhe relatos de assédio e agressão


VIRTUAL - O ambiente virtual também é ponto de cultivo de hostilidade contra mulheres que se posicionam. A estudante Elvira Freitas, 16 anos, passou a ser perseguida e ofendida nas redes sociais depois que se posicionou contra uma postagem machista de um rapaz sobre a cidade de Arcoverde, onde Elvira nasceu. Além disso, ele disse que Elvira “não podia lutar contra o machismo porque o machismo não existe”. Como resposta, ela mobilizou amigos e professores a mostrar que lutam contra esse tipo de agressão (imagem do começo da matéria). A estudante ganhou apoio de grupos de garotas na internet e disse que não pretende se calar.

Para uma das organizadoras da Olga, Luíse Bello, atitudes como as de Anna e Elvira estão cada vez mais comuns e são fundamentais para quebrar o ciclo da banalização dessas agressões e do medo que as mulheres sentem de ter uma postura firme. “É uma inspiração para outras mulheres. Temos nossos direitos e podemos, sim, exercê-los”, lembra Luíse. Para ela, o apoio mútuo é muito importante para fortalecer a vontade de reação das mulheres. “Quando uma mulher denuncia a violência, ela pode virar alvo de ainda mais violência, porém quanto menos se reage, mais se alimenta esse mal”.

No infográfico que acompanha esta matéria (acima, à direita), é possível ver dicas de como se proteger do assédio virtual e outras agressões.

DEFENDA-SE - “Uma agressão verbal pode acabar em uma agressão física. Se você já tem autoconfiança e segurança no que vai fazer, já pode eliminar a ameaça nesse ponto”, ensina o professor Edgar Torres, representante da Federação Sul-Americana de Krav Maga em Pernambuco.


Ele explica que a reação começa na postura firme na hora da abordagem: a mulher já pode indicar que não quer conversa a partir da expressão do rosto e o tom de voz. “Se você conseguir evitar essa possível agressão só indo embora, ótimo. Mas com a técnica adequada você estará preparada para se defender da violência”, orienta. No Krav Maga, técnica de defesa pessoal de origem israelense, em seis meses é possível reagir a um grande número de agressões. “O que fazemos está previsto no Código Penal: legítima defesa”, esclarece Edgar, cujas turmas têm 30% de mulheres. “Elas estão preocupadas com a violência urbana, mas muitas também querem se precaver contra violência doméstica”, afirma.

Nas aulas de Muay Thai do professor Daniel Bastos, conhecido como Daniel Cipó, a defesa pessoal também está entre os principais interesses das alunas. “A maioria quer perder peso e a defesa vem em segundo lugar. Mas quando elas começam a aprender, percebem que podem de fato se defender”, conta.

Ele diz que esse tipo de atividade é importante principalmente para situações em que é impossível fugir. “Quando a mulher sabe que não vai ter mais como dialogar, tem que usar o combate, mesmo que seja para minimizar danos”, comenta Cipó.

 


Veja cartilha elaborada pelo governo de São Paulo e pela Olga:

 

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MACHISMO
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