EUA esperam seu primeiro eclipse solar total em 99 anos

Mexendo com a paixão dos astrônomos amadores e os preços dos hotéis, os EUA esperam seu primeiro eclipse solar total em quase um século
AFP
Publicado em 18/08/2017 às 16:02
Mexendo com a paixão dos astrônomos amadores e os preços dos hotéis, os EUA esperam seu primeiro eclipse solar total em quase um século. Foto: Foto: NASA/AFP/Arquivos


Mexendo com a paixão dos astrônomos amadores, as esperanças dos cientistas e os preços dos hotéis, os Estados Unidos esperam seu primeiro eclipse solar total em quase um século, quando uma sombra será projetada sobre milhões de habitantes de costa a costa do país na segunda-feira.

Batizado de "o grande eclipse americano", o evento está provocando todo tipo de celebrações, incluindo casamentos programados para coincidir com o grande momento e uma apresentação ao vivo do hit musical dos anos 1980 "Total Eclipse of the Heart" interpretada pela cantora britânica Bonnie Tyler.

Expedições em canoa, festas em terraços e jogos de beisebol também estão agendados para marcar o fenômeno, em meio a uma eclipsemania que vem acompanhada de um aumento nas vendas de óculos falsos para olhar para o Sol.

Tanta expectativa entusiasma o mundo científico, que poderia ganhar pontos ante os céticos em um país onde temas como as mudanças climáticas geram profundas divisões políticas.

"Uma grande parte da população poderá ver o eclipse facilmente", disse à AFP o astrônomo James Webb, da universidade internacional da Flórida.

"Muitas pessoas hoje em dia negam a ciência, de modo que esta é uma oportunidade de mostrar que realmente conhecemos o sistema solar", ressaltou.

O eclipse total, que acontece quando a Lua bloqueia completamente a luz do Sol, será visível ao longo de uma trajetória de 113 km de largura que passará por 14 dos 50 estados do país.

Um eclipse parcial começará na costa noroeste dos Estados Unidos pouco depois das 16H00 GMT (13H00 em Brasília) de segunda-feira, e se tornará total ao passar pela costa de Oregon, no Oceano Pacífico, às 17H16 GMT (14H16 em Brasília). Depois, seguirá um trajeto diagonal, e terminará às 18H48 GMT (15H48 em Brasília) na Carolina do Sul, na costa Atlântica, no sudeste do país.

Até o Brasil 

Apesar de que o fenômeno completo só será visível ao longo dessa trajetória, um eclipse parcial se estenderá muito além e poderá ser visto desde a província canadense de Alberta, ao norte, até o Brasil, ao sul, se o clima permitir.

Inclusive a França e o Reino Unido poderão observar uma pequena fenda durante o entardecer.

A última vez que um eclipse total ocorreu nos Estados Unidos de costa a costa foi em 8 de junho de 1918, do estado de Washington até a Flórida.

Os especialistas advertem para os riscos à visão de se olhar diretamente para o eclipse - inclusive com óculos de sol -, e por isso recomendam aos amadores se equiparem com óculos especiais.

"Provavelmente cerca de 100 milhões de pessoas vão observá-lo, mas os riscos de olhar para o Sol são reais e sérios", apontou Vincent Jerome Giovinazzo, diretor de oftalmologia do hospital da Staten Island University. "As sequelas podem ser permanentes", disse à AFP.

Preços nas alturas 

Após vários casos de lentes falsas contrabandeadas que não possuem os níveis adequados de proteção, as autoridades fizeram um chamado para que se use apenas os óculos marcados com o padrão de segurança ISO-12312-2.

Os que preferirem não observar diretamente o Sol podem fabricar projetores de papel ou papelão com um orifício que permita ver uma imagem do eclipse através deles.

Outros tentarão capturar a experiência sensorial provocada pelo eclipse. O projeto Eclipse Soundscapes estimula cientistas e cidadãos comuns a registrarem os sons ambientais, antes, durante e depois do fenômeno, com o objetivo de permitir aos cegos ou àqueles com problemas visuais "escutar e sentir as qualidades físicas do eclipse".

Para os que estão fora da trajetória, a Nasa prevê uma transmissão ao vivo durante todo o dia em seu site nasa.gov, que também será exibida em uma das telas da famosa praça Times Square, em Nova York. 

Espera-se que entre 1,85 e 7,4 milhões de pessoas viagem para a zona do eclipse total, gerando temores de engarrafamentos e acidentes, segundo o site Great American Eclipse.  

Com tanta movimentação, os preços também estão nas alturas. Motéis modestos à beira da estrada em Casper, Wyoming (oeste) - um dos melhores pontos de observação -, ofereciam na quinta-feira um dos seus últimos quartos por mais de 2.100 dólares a noite.

Mas há um grupo que aguarda o eclipse com um entusiasmo especial: os cientistas, que poderão estudar com mais facilidade a região exterior do Sol, conhecida como coroa.

Aos 85 anos e com 26 eclipses observados, Donald Liebenberg, cientista da universidade de Clemson na Carolina do Sul, não deixa de se maravilhar.

"Quando vejo os primeiros indícios do eclipse total, me impressiona sentir a queda da temperatura, ver que o céu escurece e os pássaros retornam aos seus ninhos", disse à AFP, antes de acrescentar, com admiração, que "até os babilônios eram capazes de prever quando e onde um eclipse ocorreria".

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