Pesquisa aponta que mentiras no currículo aumentam na pandemia. Saiba quais as consequências de mentir no processo seletivo

Atitude pode ser um ato de desespero ou de má fé; mas os profissionais precisam entender que esse não é o melhor caminho
Felippe Pessoa
Publicado em 16/11/2020 às 6:30
A Heach Recursos Humanos, empresa especializada em recrutamento e seleção de profissionais, divulgou uma pesquisa sobre as mentiras que os profissionais contam em seus currículos e mostrou que, em um universo de 750 currículos avaliados, 61% tinham alguma inconsistência em suas informações Foto: MARCELO APRÍGIO/JC


Recentemente, polêmicas surgiram no Ministério da Educação sobre o currículo de Ministros – ou candidatos à vaga. Primeiro, o ex-ministro Ricardo Veléz Rodrigues teve 22 inconsistências identificadas em seu currículo. Depois, Carlos Alberto Decotelli, indicado ao cargo pelo Presidente Jair Bolsonaro, foi impedido de assumir o cargo por deslizes em sua formação. Decotelli listou um doutorado na Universidade Nacional de Rosário, na Argentina, mas, segundo o reitor da Universidade, a tese apresentada pelo ex-futuro-ministro teria sido reprovada. Ainda foram encontrados indícios de que Decotelli copiou trechos de outros trabalhos acadêmicos em sua dissertação de mestrado, o que configura plágio.

Mas eles não estão sozinhos. Parece que, no Brasil, mentir no currículo é cultural. A Heach Recursos Humanos, empresa especializada em recrutamento e seleção de profissionais, divulgou uma pesquisa sobre as mentiras que os profissionais contam em seus currículos e mostrou que, em um universo de 750 currículos avaliados, 61% tinham alguma inconsistência em suas informações. Em 2019, esse percentual foi de 42%.

Mentir no currículo não é uma novidade e pode ser um ato de desespero ou de má fé; mas os profissionais precisam entender que esse não é o melhor caminho. Afinal, o velho ditado já diz: mentira tem perna curta. Imagine ser selecionado em um processo com um currículo cheio de mentiras e irregularidades? Em algum momento você será desmascarado e sua credibilidade vai por água abaixo. E saiba que os recrutadores estão bem atentos a essas mentiras.

A cronologia das experiências é uma das mais recorrentes – alterar o tempo de permanência nas empresas dá uma impressão de estabilidade e seriedade. E os mentirosos usam esse artifício para ganhar confiança. A realização de cursos também é uma das mentiras mais comuns. Sabe aquele curso de excel? E a faculdade completa? Pois é, muitas vagas exigem essas formações e é aí que muitos candidatos deslizam. Mas lembre-se, falsificar diploma ou certificados de cursos é crime e pode ter consequências bem maiores do que perder uma vaga de emprego.

Aumentar a fluência em idiomas e falsificar cartas de recomendações também são artifícios comumente usados por candidatos em processos seletivos. O que esses profissionais não sabem é que os recrutadores cruzam informações, buscam os antigos currículos, consultam redes sociais como o Linkedin e utilizam de seus relacionamentos no mercado para tirar dúvidas e checar a idoneidade do material enviados pelos candidatos.

Então por que candidatos ainda mentem em seus currículos? Na maioria dos casos, o profissional quer se tornar mais competitivo em um processo seletivo e busca esses artifícios para enaltecer suas experiências e responsabilidades em empregos anteriores, chamando atenção do selecionador e conquistando a vaga. Mas é aí onde mora o perigo. Ser aprovado no processo é apenas o primeiro passo. O grande desafio é entregar o que a vaga pede, assumir as responsabilidades empostas pelo cargo. Se a posição é maior do que você pode suportar, as consequências virão. E rápido. Nesses casos, ou o profissional se prova dentro da empresa ou será desligado rapidamente, o que gera um efeito “pula-pula”, quando o profissional não consegue se estabelecer e cumprir ciclos nas empresas. E Saiba, isso não é bem visto pelos recrutadores.

Outro aspecto impensável, mas comum, é a vaidade. Não é raro encontrar mentiras em currículos de profissionais mais estratégicos. O desejo de se mostrar mais importante, com uma experiência internacional ou um MBA reconhecido são parte da cultura da megalomania curricular. Como muitas empresas não checam as informações – especialmente para cargos mais seniores – a brecha continua existindo.

Ser ético e honesto não é qualidade para ninguém, é obrigação. O mercado está difícil, conseguir emprego não é tarefa fácil, mas nada melhor do que ser sincero consigo mesmo e buscar uma posição compatível a suas experiências e conhecimentos. Todos queremos crescer e evoluir na carreira, mas usar a mentira é prejudicial, antiético e desonesto com você, seu contratante e seus colegas de trabalho.

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