Dizia Nelson Rodrigues que "a única paixão sem grandeza e capaz de imbecilizar o homem é a paixão política".
Tanto é verdade que o mau resultado dessa paixão emerge diariamente em nosso noticiário, terrivelmente configurado na economia, na segurança, na educação, na saúde.
Tanto é verdade que as pessoas seguem vivendo em palafitas, sem saneamento, sem perspectiva de futuro melhor, enquanto as campanhas eleitorais apelam para caracteres emocionais, tentando despertar "ondas", "mares", "exércitos de militantes", para recriar, eleição após eleição, essa malfadada paixão que nos emburrece e nos estaciona.
Todas as nossas pretensas mudanças nos últimos anos, infelizmente, foram arroubos de uma sociedade exausta, mas cega, que acorda de uma paixão para abraçar-se a outra, acreditando que só poderá sobreviver assim.
Todos os nossos gritos são ausentes de ação. A independência não nos deixou independentes, a república proclamada não nos fez republicanos e, saltando na história, o levante contra a corrupção não nos fez honestos.
Vivemos de grito em grito, saltando de uma paixão para outra como se precisássemos disso para sobreviver, porque foi assim que nos venderam a democracia após o regime militar, como uma "festa", como o exercício da liberdade e não da responsabilidade.
Seria bom descobrir, em 2020, que os novos políticos, ao menos estão cuidando de mudar isso.
Do que se viu até agora, não estão.