A fidelidade dos seus liderados é uma característica que líderes de verdade provocam naturalmente. E, aqui é bom explicar, liderança pode ser exercida para o bem e para o mal.
Lula, goste ou não dele, é um líder para os seus, capaz de fazer com que os apoiadores e aliados se incriminem sozinhos se for para livrar a imagem dele. Vide José Dirceu (PT), no Mensalão, que foi preso, mas não entregou o colega.
Bolsonaro, nem para o bem nem para o mal consegue provocar isso em seus apoiadores. A lista de ex-subordinados que viram acusadores do presidente da República é imensa, com ex-ministros, ex-secretários, militares e parlamentares que antes declaravam paixão e, hoje, apontam todo tipo de problema na gestão bolsonarista.
De Sarah Winter a Sergio Moro, há todo tipo de decepcionado. Depois que deixam o governo, sem acesso a cargos e influência, passam a desnudar o antigo chefe publicamente.
Com a população que o aborda nas ruas, acontece algo também curioso. São inúmeros os episódios em que o presidente tenta falar com populares sobre assuntos que ele considera sérios. E ninguém presta atenção, porque querem fazer uma foto ou gravar um vídeo com o "ídolo".
Nas ruas, entre apoiadores, ninguém está preocupado com o que Bolsonaro fala. Nos corredores do Planalto e no Congresso, a única preocupação é o que ele pode proporcionar com a caneta.
Faz pensar que, para os apoiadores, Bolsonaro é apenas duas coisas: um mito ou uma galinha dos ovos de ouro. E não passa disso.
Como se ele fosse incapaz de liderar, está ali para prover ou para ser admirado.
É pouco para alguém que deveria governar uma nação.
Na "bombástica" entrevista que o ex-Secom do Planalto Fábio Wajngarten concedeu à Veja, chama atenção a impressão dele sobre o episódio em que ele próprio contraiu covid-19 e enfrentou a doença.
Na entrevista ele diz: "Eu contraí Covid, até hoje sofro com as sequelas da doença, três dos meus melhores amigos foram intubados, dois se salvaram e um faleceu." Isso foi agora.
É um relato bem mais sério do que o que ele próprio fez em março de 2020, quando detalhou a rotina de 20 dias com a doença pelo Twitter e tratava "como se não fosse nada demais".
Na época, Bolsonaro chamava a covid de gripezinha. Osmar Terra dizia que não iam morrer nem mil pessoas. O próprio Wajngarten fez postagens, depois, comemorando a reabertura do comércio em Santa Catarina, afirmando que bastava usar máscara e estava tudo bem.
Na entrevista à Veja, agora, reclamou que o presidente é "mal orientado" por algumas pessoas da equipe que o fizeram acreditar que a pandemia ia acabar em 2020. Ele fazia parte da equipe.
Não é apenas nessa gestão. Infelizmente é comum. Mas, é curioso como, após serem exonerados, os mais fiéis apoiadores têm surtos de consciência nesse governo.
Bolsonaro não sustenta fidelidade sem ter algum cargo para oferecer, nem que seja uma foto ou m vídeo mandando beijo para alguém. Isso diz muito sobre liderança e sobre os seres humanos que cercam o presidente.