Quando o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) protocolou o pedido de CPI da Pandemia, o documento tinha 18 pontos que, segundo ele, precisavam ser apurados pela comissão.
Quando o governo Bolsonaro enviou aos ministérios uma lista com questionamentos que precisam ser respondidos para defender a gestão na CPI, mandou uma lista com 23 ítens.
O governo acredita que tem mais denúncias para responder do que a própria oposição julgava.
É mais ou menos como se, ao ser preso e questionado pela polícia apenas sobre um roubo, o bandido dissesse:
"Eu respondo, delegado, pelo roubo e pelo tráfico. Sou inocente". E lá vai a polícia, agora, investigar o tráfico do qual nem tinha conhecimento.
É verdade que a intenção do governo, claramente, é se antecipar aos assuntos que circulam na mídia e que, certamente estarão na pauta da CPI em algum momento. Mas é um novo exemplo da falta de habilidade política dos ocupantes do Planalto.
Não se falava na CPI, por exemplo, em "Genocídio indígena". Mas, o documento do governo pediu que os ministérios mandem justificativas sobre isso.
Quem colocou na pauta foi o governo.
A falta de habilidade política já havia se mostrado gigantesca na articulação da CPI. Perdeu-se o tempo para negociar a retirada das assinaturas, perdeu-se o tempo para influenciar na formação da comissão e se perdeu, ainda, o tempo para tentar influenciar na escolha do relator e do presidente.
Hoje, a CPI é uma tempestade perfeita. Pelo menos 7, dos 11 membros, são da oposição.
O presidente é da oposição.
O vice é da oposição.
E o relator... é da oposição.
Bolsonaro vai mostrando que sabe gritar e repetir frases em redes sociais como ninguém. Sabe fazer barulho e ameaçar rupturas democráticas o tempo todo, berrando que vai colocar o Exército nas ruas.
Mas, quando se trata de agir dentro das regras ou de um debate civilizado, perde-se completamente.