A principal missão de Pazuello na CPI da pandemia, nesta quarta-feira (19), está bem clara. Ele nega que tenha alguma responsabilidade com o que deu errado no combate à covid e, ao mesmo tempo, evita que se chegue a responsabilizar Bolsonaro (sem partido).
Mas, a declaração de que Bolsonaro nunca interferiu nas decisões do ministério é o flagrante de uma narrativa que se tenta emplacar em relação ao presidente: a de que ele é duas pessoas, juridicamente independentes.
É como se existisse um presidente da República, responsável pela gestão Executiva de uma nação com 210 milhões de habitantes, em paralelo a um político de baixo clero, piadista de churrasco, inconsequente, que faz as postagens nas redes sociais.
Depois de garantir a compra de quase 50 milhões de doses de vacinas do Butantan, o ministro foi desautorizado publicamente, no Twitter, em postagem que dizia que a vacina não seria comprada.
Na CPI, Pazuello afirmou que nunca recebeu ordem para não comprar a vacina e que a postagem de Bolsonaro foi uma reação política, porque o presidente é também um político.
Disse também que o vídeo, também postado nas redes, em que diz que "o presidente manda e ele obedece", não tinha nada a ver com a compra de vacinas.
Segundo Pazuello, foi "coincidência", então, a vacina realmente não ter sido comprada naquele momento.
O problema não é o presidente ser duas pessoas: presidente e "tio do churrasco".
O problema é quando o "tio do churrasco" interfere nas decisões do presidente. E, ao que parece, é isso que tem acontecido.