Toda boa história com personagens pesados tem, ali, carregado como um acessório de alívio cômico, uma figura meio patética. É como uma fuga zombeteira para que o público aguente o drama. Essa figura, no Brasil de hoje, é Paulo Guedes.
Guedes que surgiu como mastro da bandeira liberal de um governo que, hoje se sabe, nunca foi liberal, faz hoje o papel de animador do mercado, vivendo em uma realidade paralela.
Quando a inflação aumenta, ele diz que é cumprimentado nos supermercados. Imagine a cena: "obrigado, ministro. O feijão aumentou e eu nunca estive tão feliz".
Quando o gás de cozinha e a gasolina sobem de preço ele diz que a culpa é da pandemia.
Mas, Guedes dá palestras para empresários dizendo que as pessoas o agradecem nas ruas. "Ministro, perdi meu emprego e tô fazendo Uber, mas não tô tendo lucro porque a gasolina aumentou. Eu amo você", devem dizer a ele, quando o ministro está indo comprar seu pão, que também aumentou, na padaria.
Agora, Guedes resolveu usar a próxima eleição como mote para tentar animar de novo o mercado. Diz que, "com a campanha, a economia vai pro ataque". O que isso quer dizer, na prática, é difícil prever.
Imagina-se que vão se romper todos os tetos e festejar uma irresponsabilidade eleitoral com as finanças brasileiras para reeleger Bolsonaro. É isso?
Se for, certamente depois ele vai relatar o contato com as pessoas nas ruas. "Obrigado, ministro. Quebrar o Brasil foi a melhor coisa que o senhor podia ter feito. No fundo do poço o aprendizado é maior", dirão, na fantasia de Guedes.