Dizem que o tango é uma tragédia que se pode dançar, uma tristeza bonita. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o líder do governo dele na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR) têm se desdobrado em um número bem chamativo.
Dançam a tragédia enquanto sorriem para fingir que nada acontece. E se ameaçam.
Barros, por exemplo, deu uma declaração recente que parece inofensiva, mas tinha um recado. Perguntado sobre as suspeitas contra ele próprio, lembrou que teve dez encontros com o presidente desde que o deputado Luis Miranda (DEM-DF) teria denunciado a Bolsonaro a corrupção no ministério da Saúde e que o chefe do Planalto nunca comentou nada disso com ele, Barros, e que nunca foi confrontado com essas suspeitas.
Apesar de parecer que está colocando panos quentes, na verdade ele deu a senha para o crime de prevaricação do presidente.
Barros jogou no ar a declaração, sabendo que o deputado Luis Miranda pode ter gravado a conversa com Bolsonaro. Caso a gravação vaze e Bolsonaro realmente esteja no áudio acusando o seu líder, somando com o relato de Ricardo Barros, a prevaricação estaria bem caracterizada.
Barros é um bom dançarino.
Bolsonaro, por sua vez, mandou demitir um servidor suspeito de corrupção e que tinha ligação com Barros, também mandou (somente agora) a Polícia Federal investigar o caso.
Foi uma ameaça ao deputado que é seu líder, um novo passo na dança.
Uma dança que, para o contribuinte brasileiro, não tem beleza nenhuma.