Em 2010, este colunista estava muito perto da tragédia que tomou a Mata Sul por causa das chuvas. Trabalhando na TV Jornal e na Rádio Jornal, no interior do estado, foi possível acompanhar desde o início das enchentes até o devastador resultado.
Viramos noites apurando, noticiando, registrando histórias dramáticas de sobreviventes e a dor de famílias que perderam seus pais e filhos.
Foram 82 mil famílias desabrigadas e 20 pessoas mortas.
A economia de algumas cidades acabou, por inteiro. Belém de Maria, praticamente, precisou ser reconstruída. Em Barreiros e Catende, comerciantes perderam tudo, equipamentos, estoque.
Faltava água potável e pessoas foram presas comercializando garrafinhas de água mineral por R$ 10,00, tentando aproveitar de forma covarde a desgraça.
O conceito de aproveitar a desgraça de forma covarde é bem amplo.
É difícil esquecer o helicóptero descendo no meio da lama e desembarcando o então presidente Lula (PT) junto com o, naquela época, governador Eduardo Campos.
Ambos estavam usando galochas, pisaram na água. O ex-presidente de camisa vermelha, o ex-governador com um casaco bege.
Houve choro e a promessa de que aquilo “nunca mais se repetiria”, porque medidas seriam tomadas. A construção de cinco barragens foi anunciada, elas tinham dupla função: iam evitar as enchentes e ainda ajudariam no abastecimento de água do estado.
Em 2011, outra chuva voltou a causar destruição. A justificativa era que não deu tempo de resolver. Em 2015, outra chuva forte e quase 300 famílias desabrigadas.
Em 2022, há alguns dias, outra tragédia.
O ano de 2010 foi um período eleitoral. Eduardo Campos ia tentar a reeleição e Lula precisava fazer sua sucessora.
Quando um grupo de personagens está presente a um evento desse tipo é importante observar o resultado que cada um obteve. Lula fez sua sucessora, o PSB conseguiu reeleger Eduardo Campos. As famílias voltaram a ficar desabrigadas, e voltaram a sofrer com as enchentes.
Porque das cinco barragens anunciadas, somente uma ficou pronta e, como bem trouxe a repórter Adriana Guarda, no JC, o dinheiro que está sendo gasto agora por Paulo Câmara (PSB), sucessor de Eduardo Campos, para pagar auxílio emergencial aos atingidos, teria dado para construir outras três barragens.
Nesse caldeirão das chuvas em Pernambuco, ao longo dos anos, tem tanta incompetência e falta de planejamento que parece maldade.