Pessoas estão perdendo ou limitando contato com familiares por discussões políticas. Pais, mães, filhos e irmãos precisam escolher com cuidado os assuntos abordados à mesa, tudo por uma completa incapacidade de respeitar o pensamento de alguém.
E isso onde só deveria existir amor e compreensão.
Amizades estão sendo desfeitas por intolerância mútua.
O filho evita assuntos com a mãe, que evita com o avô, ou haverá briga. E todos se afastam aos poucos.
A verdade é que toda tragédia começa quando dois ou mais seres humanos não conseguem se comunicar pacificamente e passam a evitar o diálogo. A tragédia não se inicia na violência. Começa com o silêncio que a precede.
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Começa nas desavenças mais próximas, com familiares e amigos. Quando você é incapaz de ser tolerante com sua própria família, rapidamente isso vai à rua de uma forma mais violenta, com motivações bárbaras de tão ridículas.
No caso de Foz do Iguaçu, em que um pai de família morreu, a tragédia tem início e fim bem definidos. Os tiros são apenas um desenvolvimento.
Essa tragédia começa no silêncio do diálogo, passa pelos tiros e se consolida nas justificativas.
A reação de quem “analisa” o fato nas redes sociais diz muito. Quem passou pelo Twitter nas últimas horas, por exemplo, viu de tudo em termos de justificativas. Fala-se em “terrorismo”, questiona-se a “prisão, por roubo, na Argentina, de um dos convidados da festa”. Quem “provocou” quem, quem “atirou primeiro”.
Um emaranhado de cretinices ou justificativas para a cretinice alheia. Coisa de quem não quer admitir que se chegou ao limite ou apenas concorda com a violência.
O resumo que importa do que aconteceu é que um homem estava comemorando seu aniversário de 50 anos e o fato de ter escolhido um tema político para a festa foi visto como “intolerável” por outro homem, que resolveu ir lá provocar.
O dono da festa jogou pedras no carro dele, ele voltou com uma pistola e matou o dono da festa, foi baleado e pode morrer também.
O já morto tinha filhos, uma bebezinha pequena inclusive.
O atirador tinha ao menos um filho, também um bebê.
Imagine que agora você tivesse que explicar a essas crianças que o contato com os pais não vai mais existir nessa vida e que o motivo foi a “escolha de um tema para um aniversário”.
Tem algo mais infantil do que um aniversariante escolher um tema para sua festa? E isso tirou (ou pode tirar) o pai da vida delas.
Agora imagine, por um momento, que você precisa falar com essas crianças, consolar sua tristeza, e vai usar as justificativas que bolsonaristas e lulistas distribuem nas redes: “mas o seu pai provocou”, “mas na festa do seu pai tinha um homem que foi preso na Argentina”, “mas o seu pai era bolsonarista”, “mas o seu pai era petista”.
A canalhice e a cretinice subverteram sua humanidade, se você acredita que esses são argumentos plausíveis para explicar a um filho a morte do pai dele.
Votar, seja em quem for, é importante sempre. Mas, ao contrário do que se tem falado em relação a essa tragédia, não é na urna que se resolve o problema. Não adianta votar fulano ou sicrano porque tudo vai ser melhor ou pior com um ou com outro.
É só mais uma justificativa protelatória, feita para não ter que encarar o verdadeiro problema.
Porque esse problema se resolve em casa, exercitando a tolerância. E não na urna.
Enquanto você não for capaz de respeitar o pensamento das pessoas que você ama, isso não acaba e, infelizmente, vai piorar.