Quando os aliados precisam garantir que serão aliados, algo está errado no governo

Confira a coluna Cena Política desta quinta-feira (11)
Igor Maciel
Publicado em 11/05/2023 às 0:01
Palácio do Planalto Foto: Antonio Cruz / Agência Brasil


O deputado federal Felipe Carreras (PSB) é líder de seu partido na Câmara e também lidera o “blocão” que substituiu o antigo “centrão”. O PSB tem 14 deputados na Casa e o Blocão está, hoje, com 173 parlamentares. Carreras, que lidera os dois grupos, participou de uma reunião no Palácio do Planalto, esta semana, garantindo que os socialistas e o Blocão estão com o governo. Disse que os deputados liderados por ele "vão votar fechados com o Executivo".

Observando o texto da história, tudo normal. O contexto é que, nesse caso, fala muito mais e melhor sobre a realidade.

Vamos lá. O PSB é o partido do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB). Os socialistas também ocupam três ministérios dentro da Esplanada, sem falar em todos os cargos de segundo e terceiro escalão. Secretarias estratégicas, por exemplo. No Blocão, dos 173 integrantes, 91 estão em siglas que ocupam ministérios no governo Lula (PT).

Quando, com esse contexto, o líder dos dois grupos precisa ir ao Palácio verbalizar que vai votar com o governo é porque há algo de muito esquisito acontecendo.

Se o Presidente da República anda precisando reafirmar sua certeza no apoio de grupos que estão dentro da gestão, como seus auxiliares, ocupando ministérios e "tomando cerveja no seu quintal", ele vai contar com quem para aprovar o que precisa ser aprovado?

Outro Congresso

O que Lula, talvez, ainda não tenha entendido é que o Congresso mudou completamente nos últimos anos e isso aconteceu junto com o Brasil, que também passou por mudanças.

Algo que passou quase despercebido na última eleição foi a justificativa do eleitor não militante (maioria) para ter escolhido Lula e não Bolsonaro. Enquanto as torcidas apaixonadas estavam bem divididas, esse eleitor pendeu um pouco mais para o petista por ter certeza de que ele era alguém estável. Os episódios com Roberto Jefferson e Carla Zambelli na reta final da campanha, todos envolvendo armas e descontrole emocional visível, fizeram com que esse eleitor médio buscasse a “paz” do outro lado.

O eleitor que decidiu a eleição em favor de Lula não votou por acreditar no discurso de bem contra o mal que foi vendido pelo PT, mas porque estava cansado das confusões bolsonaristas que criavam guerras inteiras com assuntos como “meninas vestem rosa e meninos vestem azul”, enquanto problemas muito mais sérios batiam à porta, no meio de uma pandemia, com 700 mil mortos no jornais.

Foi nesse ambiente que o eleitor elegeu um presidente de esquerda para dialogar com um congresso cuja maioria dos deputados tem perfil conservador e comunga de ideias econômicas liberais. Lula não foi eleito porque é bom ou porque é de esquerda. Lula foi eleito porque não é Bolsonaro. Mas o perfil do parlamento escolhido pelo voto popular, à direita, mostra que o pensamento desse eleitor está muito mais na linha seguida pelo deputado Felipe Carreras (que é de um partido socialista, mas atua como liberal), do que nas trincheiras estatizantes e utópicas da esquerda, cavadas e defendidas por gente como Gleisi Hoffmann (PT).

Durante viagem à Nova Iorque, esta semana, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), fez um discurso tentando explicar isso e a fala foi vista como um recado para Lula. Não é de se duvidar que tenha sido. “O Congresso aprovou muitas leis, cabotagem, saneamento, regularização fundiária, preservando o que é mais caro, que é a segurança jurídica. O Brasil de 2023 não é o mesmo de 2002, 2010, 2014”, disse Lira, chamando a atenção para o poder do Parlamento. “Isso precisa ser ajustado”, completou.

João e Geraldo

A decisão do Governo do Estado, afirmando que a prefeitura do Recife não prestou contas corretamente dos recursos utilizados durante a pandemia de Covid-19, trazida por Jamildo Melo nesta edição do Jornal do Commercio, é mais um capítulo dos problemas que João Campos (PSB) foi obrigado a herdar, sob o silêncio da fidelidade partidária, de seu antecessor.

O ex-prefeito Geraldo Julio (PSB) foi personagem de um período em que a sintonia entre governo e prefeitura facilitava as coisas. João ainda aproveitou isso por dois anos. Agora, embora as cobranças sejam referentes a Geraldo, João será apontado para responder por algumas consequências. Se vai continuar poupando o aliado, com uma reeleição à porta, é o que vamos descobrir.

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