Uma opção com chances de se consolidar em alternativa ao marasmo e a maluquice

Confira a coluna Cena Política desta sexta-feira (7)
Igor Maciel
Publicado em 06/07/2023 às 20:00
Brasília (DF), 05/07/2023 - Ministro Fernando Haddad fala com jornalistas após reunião com Governador do Estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Foto: Diogo Zacarias/Ministério da Fazenda Foto: Diogo Zacarias/Ministério da Fazenda


Se você é um motorista de ônibus e precisa levar um grupo a um lugar para o qual essas pessoas, inicialmente, não desejam ir, a primeira medida é convencê-las a subir no veículo. Depois, você terá que fazê-las sentar, calmas, evitando que tentem lhe jogar pela janela no caminho. Quando chegarem ao destino, estarão tão longe de casa que vão acabar aceitando dar uma olhada nos arredores.

O motorista desse ônibus se chama Tarcísio de Freitas (Republicanos). Ele começou dizendo que era terminantemente contra a Reforma Tributária. Apoiado numa bancada com 70 deputados, deixou todo mundo preocupado e fez com que um diálogo nacional precisasse ser reforçado com o governo de São Paulo, comandado por ele. Disseram: venha a Brasília e vamos conversar.

Como estava contra a proposta defendida pelo governo Lula, conseguiu “encher o ônibus” com bolsonaristas de todos os cantos do país. Ávidos pela confusão que ele poderia criar, seguiram atentos por todo o percurso.

Tarcísio dirigiu até Brasília para reclamar da reforma. Mas, ao chegar lá, foi se reunir com o ministro da Fazenda Fernando Haddad (PT). Saiu da sala com um entendimento mútuo, posou para fotos, afirmou que concordava com 95% da proposta em discussão e que as discordâncias seriam “resolvidas com muita facilidade”.

Deu aula de sensatez e de espírito republicano. Mostrou-se um construtor de pontes e não um demolidor. Os bolsonaristas podem ter se arrependido da viagem, mas foram obrigados a assistir o ex-ministro de Bolsonaro dando uma demonstração extremamente eficaz de como se faz política e de que é possível encontrar soluções e entendimentos sem precisar chutar portas ou espancar a lógica em nome de apoio.

Eduardo Bolsonaro (PL) entendeu a jogada do aliado e reagiu, dizendo que “continuava 100% contra a reforma”. Foi como se avisasse aos aliados para “não descerem do ônibus e voltarem imediatamente para casa”, porque o motorista levou eles ao destino errado.

Depois disso, a bronca foi pública. O governador participou de uma reunião com o ex-presidente e com a bancada do PL. Tarcísio chegou a ser criticado por parte dos presentes e teve a fala interrompida, mas manteve o discurso de que a reforma deve ser aprovada para que "a direita não perca a narrativa".

Metade da plateia, que estava lá para um ato em desagravo ao presidente Jair Bolsonaro, hostilizou o ex-ministro. Ter sido apenas metade entre os apoiadores mais radicais deve ser visto como uma vitória.

A raiva de Bolsonaro, pelo que dizem, é mais pela foto de Tarcísio com Haddad, feita após a reunião dos dois, do que pela reforma.

Talvez seja tarde pra ficar chateado, porque o governador Tarcísio de Freitas leu as pesquisas e percebeu que é o nome mais forte para herdar a liderança da direita e da centro-direita no Brasil, esta última também órfã.

Percebeu também que, inelegível e prestes a perder até o salário que recebe pelo PL, Bolsonaro tende a se transformar numa figura “quase viva”, arrastada por aí em águas turbulentas, e limitada a um grupo radical em excesso.

Entendeu que a derrota do bolsonarismo na eleição de 2022 se deveu muito mais ao desejo por normalidade na mente cansada da maioria dos brasileiros do que às qualidades de Lula. E se propôs a atender a essa normalidade.

Nessa viagem à Brasília, o elogiado ex-ministro de Bolsonaro (adjetivo raro para um substantivo numeroso) mandou recados muito claros para os bolsonaristas que embarcaram com ele e para todos os que estavam acompanhando de longe, eleitores de centro e até de esquerda: ele é normal e deve continuar assim.

Bolsonaro não foi a opção sensata da maioria dos eleitores brasileiros, nem quando venceu a eleição. Bolsonaro foi consequência da situação insensata que o brasileiro foi obrigado a viver após anos tortuosos de contínuo descrédito da política.

Tarcísio pretende ser opção, não consequência. E isso, senhoras e senhores, pode fazer toda a diferença numa eleição.

Moura Brasil

Tarcísio de Freitas, aliás, foi um dos temas da conversa desta quinta-feira (6) com Felipe Moura Brasil, na Rádio Jornal.

Em sua participação no Passando a Limpo, o colunista lembrou que o ex-ministro divergiu de Jair Bolsonaro e isso chamou bastante atenção nos bastidores.

Arthur Lira (PP-AL), por exemplo, com seus interesses próprios, ficou animado pela desenvoltura do governador de São Paulo.

Uma coisa é outra coisa

Algo chamou a atenção no Radar Febraban de junho, pesquisa sobre economia e política realizada pelo Ipesp a cada bimestre. Há um otimismo crescente com a economia no Brasil, mas as pessoas não estão conectando isso com o governo Lula (PT), ao menos por enquanto.

A percepção em relação a inflação, por exemplo, melhorou bastante. O percentual dos que acham que os preços aumentaram no último período caiu de 67% para 59%.

O percentual dos que acham que os preços diminuíram cresceu de 12% para 18%. A percepção de que o país está evoluindo cresceu de 37% para 41%. A expectativa de que o Brasil vai melhorar até o fim do ano cresceu também, de 51% para 53%.

Já quando você pergunta aos mesmos entrevistados sobre o governo Lula, os dados são ruins. A aprovação da gestão caiu de 52% para 51% e a reprovação cresceu de 38% para 40%.

Nada alarmante para os petistas, ainda. É normal que as melhorias econômicas demorem a render dividendos políticos para o gestor sentado na cadeira. Como estão dentro da margem de erro em relação a última pesquisa, feita em abril, as quedas na avaliação de Lula mostram estabilidade.

Se a economia realmente melhorar, tudo pode mudar.

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