Partidos bolsonaristas na base de Lula? O verdadeiro rei da selva é o cupim e não o leão

Confira a coluna Cena Política deste domingo (16)
Igor Maciel
Publicado em 15/07/2023 às 21:00
LULA E BOLSONARO durante debate eleitoral. Foto: RENATO PIZZUTTO/BAND


Estamos numa savana africana e você tem que responder rápido qual é o animal mais importante, o rei daquela área. A resposta seria o leão?

Alguns dizem que é o elefante. Outros garantem que são hipopótamos. Mas, segundo um estudo da Universidade de Harvard em 2010, o animal mais importante da savana é o cupim. A rede de relacionamento criada pelas colônias do inseto, segundo a pesquisa, influencia mais na população de animais que os grandes predadores ou os gigantes da região.

Talvez você não saiba disso porque ninguém se dispôs a fazer um filme chamado “O Rei Cupim”. Mas o fato é que criar uma rede de conexões, faz com que esses bichinhos mantenham suas estruturas funcionando ativamente por mais de cem anos na floresta.

Essa lição vale para a política e para as coalizões partidárias que dão sustentação a um governo. Se o ensinamento fosse absorvido por quem faz política neste país, haveria menos surpresa toda vez que um partido sai da oposição e se “encosta” no governo.

Se fosse visto como algo natural, Bolsonaro (PL) não teria feito discursos de independência e “fim do toma lá, dá cá” para, na hora do aperto, entregar o governo inteiro ao centrão, em 2020, e ficar fingindo que era presidente por mais dois anos, como aconteceu.

Até Lula (PT) comete essa ingenuidade, mesmo com toda a experiência. O petista, depois de ser preso e solto, acreditou-se o novo Nelson Mandela e assumiu o terceiro mandato pensando em ganhar um prêmio Nobel da Paz, como o líder sul-africano. O roteiro era maravilhoso, mas era só um roteiro. Meteu-se numa guerra do outro lado do planeta e esqueceu de seu próprio quintal. Ficou sem base no Congresso por meses.

Quando entendeu o problema, correu para resolver e criar as conexões e redes políticas necessárias para aprovar projetos na Câmara e no Senado. Demorou, mas percebeu que o poder de uma gestão depende de quem constrói a ponte primeiro.

Bolsonaro ignorou as pontes e tentou atravessar o rio sem ajuda. Veio a pandemia, o rio pegou correnteza e ele só sobreviveu com as boias do centrão.

Você deve estar pensando, que Lula é experiente e isso não é um problema. É bom entender uma coisa: Lula nunca montou estratégia política no governo. Ele a seguia. José Dirceu, principalmente, e outros como Luiz Gushiken, Jaques Wagner e Ricardo Berzoini, além de Antônio Palocci, é que se preocupavam com isso.

Tem mais: o mundo mudou e a relação com o Congresso piorou em fisiologismo. A culpa foi do próprio PT, que comprou parlamentares e os acostumou de maneira trágica, com o Mensalão, e de Bolsonaro, que entregou a chave do cofre para eles na hora do desespero, quando estava à beira de um impeachment.

É nesse ambiente de entregar os anéis para não perder os dedos que o governo Lula se encontra hoje na relação com o Congresso.

Então, surpresa não deveria causar se o Republicanos e o PP estão ganhando ministérios nos próximos dias. Não deveria ser motivo de revolta para os petistas e aliados da esquerda se a gestão que a militância enxerga como sacrossanta está agora se aliando aos partidos que deram apoio a Jair Bolsonaro na eleição de 2022, ocorrida há pouco mais de seis meses. Se fossem um pouco mais maduros entenderiam isso.

Integrantes desses partidos, é verdade, estavam, já este ano, participando de mobilizações em frente aos quartéis, pedindo que as Forças Armadas derrubassem o atual governo. O mesmo governo para o qual vão indicar nomes que devem ocupar ministérios nos próximos dias. É a política real que não pode ser ignorada.

Talvez seja difícil para os apaixonados de esquerda aceitar os bolsonaristas no governo Lula e talvez seja duro para os apaixonados de direita aceitarem seus aliados assumindo cargos na gestão lulista.

A realidade, dos cupins, não rende produções cinematográficas e nem grandes espetáculos na Broadway, mas move o mundo.

A paixão política e a idealização de um mundo é que dão show e garantem grandes roteiros para a diversão do público, mas não aguentam uma votação simples no Congresso Nacional.

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