O ciúme é um mal terrível, um apego egoísta e irracional que quando não bem administrado pode transformar-se em alguma tipificação patológica com muita facilidade. Mas não é raro que o objeto do ciúme acabe sendo o causador do problema. É o sujeito que acha o máximo ter alguém com ciúmes dele e acaba provocando isso para se sentir bem. Para além do ridículo, é uma crueldade com a relação.
Mas o que esse papo tem a ver com política? Tudo. Política, poder e ciúmes movem o mundo. A ciumeira petista na atual gestão federal já chegou perto de atrapalhar até o resgate dos brasileiros em Israel, como conto mais adiante.
Obra do outro
Em Pernambuco, a BR 232 foi abandonada pelos últimos 16 anos por causa de ciúmes. Acontece a duplicação da rodovia foi uma obra profundamente identificada com o governo Jarbas Vasconcelos (MDB) e deixar que ela se destruísse pelo tempo passou a ser uma regra das gestões socialistas desde Eduardo Campos no Palácio do Campo das Princesas.
Nem quando Jarbas se aliou ao PSB isso foi resolvido. Ciúme é coisa séria.
Espiões
Recentemente, um ex-secretário que deu expediente no Palácio do Campo das Princesas, conversava com a coluna e contava de uma época em que certos auxiliares do governo Paulo Câmara, aqueles ligados à família de Eduardo, tinham pessoas designadas nos arredores da porta do gabinete do governador para informar sempre que alguém estivesse entrando na sala.
“Toda vez que você ia despachar com o governador essa pessoa surgia, entrava perguntando se não estava atrapalhando e sentava junto”, conta.
Cercando
A ideia era não permitir que outras pessoas, além dele, influenciassem as decisões do governador para que os interesses do grupo familiar e da parcela majoritária, à época, no partido, não fossem contrariados.
A necessidade de controle excessivo também é ciúme.
Territorialidade
É a mesma ideia quando se afasta a gestão dos governos de qualquer parceria com a iniciativa privada usando o discurso de valorização da esfera pública, tratando o empresariado e o “mercado”, como “gananciosos”. Para muito além da ideologia barata e descolada da realidade que pinta empresários como maus, trata-se de não deixar espaço para que a população perceba que o Estado, na verdade, pode ser menor e poderíamos pagar menos impostos.
Se descobrirem isso, o liberalismo passa a ser mais atrativo.
Territorialidade excessiva também é ciúme.
Cruel
O ciúme pode ser extremamente ganancioso e até cruel também. Nos bastidores da operação de resgate que as Forças Armadas realizaram dos brasileiros em Israel, houve incômodo de pessoas dentro do governo por causa do protagonismo de José Múcio.
O ministro da Defesa estava em um voo sobre o Atlântico quando aconteceu o ataque terrorista no Oriente Médio. O pernambucano estava indo assinar um contrato para a compra de novos caças da FAB e precisou dar meia volta para organizar a missão.
Planalto assistiu
Como o Palácio do Planalto não apita em quase nada nessas horas, a ciumeira rolou solta. É uma operação realizada especificamente pela Defesa e pelo Itamaraty. Sem necessidade de qualquer participação constante dos ministérios sensíveis como Casa Civil e as pastas de articulação. Houve pedidos, por exemplo, para que a Defesa desse prioridade a pessoas ligadas a políticos. Os pedidos foram ignorados. A prioridade era para moradores do Brasil e depois cadeirantes, grávidas, idosos e bebês e isso foi respeitado.
Os políticos que pediram privilégios se chatearam.
Sucesso
Além de tudo, as Forças Armadas ficarem bem na fita depois de tudo o que aconteceu com Bolsonaro era algo que alguns petistas não queriam aceitar. Múcio também se saiu muito bem e os petistas que não gostam dele, como já se sabe, por causa da amizade dele com Lula.
O ciúme só não atrapalhou mesmo porque a operação foi um sucesso tão grande ao ponto de não dar espaço para qualquer reclamação. No fim das contas, a imagem do governo Lula ficou positiva no episódio. Ao todo, 1.413 brasileiros e 53 pets foram resgatados.
E o ciúme não venceu. Dessa vez. Esperemos os próximos capítulos.