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Cena Política

Por Igor Maciel
Cena Política

O pronunciamento de Lula e a tentativa do PSDB de faturar com isso

O PDT é o responsável pela ação que deixou Bolsonaro, mas pode perguntar nas ruas e vão dizer que foi Lula ou o PT quem processou o ex-presidente.

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Igor Maciel

Publicado em 29/07/2024 às 20:00
O presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo - GERALDO MAGELA/AGÊNCIA SENADO

O presidente Lula (PT) inovou, criou o que está sendo chamado de “pronunciamento de um ano e meio”. O líder petista fez um discurso de sete minutos em rede nacional, num domingo à noite, listando as realizações de seu governo, apresentando alguns números e fingindo que outros números não existem.

Falou em responsabilidade fiscal, mas não recuou dos ataques que costuma fazer ao Banco Central por causa da taxa de juros. Citou que entregou o país, 14 anos atrás, com crescimento de 4% ao ano, mas esqueceu de comentar que a sucessora apoiada por ele e que o estava visitando esses dias no Palácio da Alvorada, Dilma Rousseff (PT), foi a responsável pelo movimento de ladeira abaixo que se deu depois na economia, principalmente na reeleição forçada por medidas irresponsáveis que devastaram a economia brasileira entre 2015 e 2016.

Disse que a proteção ao meio ambiente voltou a ser prioridade, dando como exemplo a redução em 52% no desmatamento da Amazônia, mas esqueceu de mencionar que o Pantanal teve este ano os maiores incêndios desde 1998.

Leão e gatinho

Lula disse até que o Brasil recuperou o protagonismo no cenário mundial, mas esqueceu de dizer que suas posições têm sido alvo de críticas pela parcialidade.

Lula costuma ser um leão contra líderes mais à direita e um gatinho manso quando se trata de líderes à esquerda, mesmo quando há ditaduras, arbitrariedades e até massacres na mesa da amizade.

Estratégia

Mas os dados apresentados no “pronunciamento de um ano e meio” não são o que mais chama a atenção no episódio. Dois pontos precisam ser observados e têm a ver com a estratégia por trás do momento.

Primeiro é que o discurso lulista entrou na sintonia de reativar a polarização com os adversários. Todas as apresentações de resultado foram feitas com menções diretas ao governo Bolsonaro (PL). O presidente chegou a dizer que encontrou o país em “ruínas”.

Paz atrapalha

Essa estratégia tem a ver com o período eleitoral se aproximando. Reacender a polarização é importante em cidades nas quais o PT disputa prefeituras ou nas quais apoia outros candidatos em partidos de esquerda contra candidatos à direita.

O lema do governo atual é “União e reconstrução”. O discurso de Lula só atendeu metade desse propósito, nada de pacificação, descer do palanque ou coisa do tipo.

Se tem algo que Bolsonaro e Lula sabem bem é que a paz não dá voto no Brasil, ainda.

Tucanando

O segundo ponto é a reação do PSDB, que decidiu procurar a Justiça Eleitoral exatamente para dizer que Lula fez um discurso em tom de eleições, incabível para a plataforma pública utilizada, em cadeia de Rádio e TV.

Na reclamação dos tucanos é interessante observar que o partido tenta aproveitar para se posicionar como a “outra parte” na polarização, antagonizando o petismo, posição que já ocupou um dia no passado.

PDT

É um movimento parecido com o que o PDT fazia, abrindo processos na Justiça toda vez que algum bolsonarista abria a boca no Congresso. O PDT nunca ameaçou Bolsonaro eleitoralmente, mas buscava fabricar um protagonismo como oposição.

Quando você perturba o grande, parece grande também. E se do outro lado houver resposta, melhor ainda.

Resultado não dá

Mas é um cenário difícil para o PSDB, como já foi para o PDT. No imaginário coletivo, o outro lado de Lula é Jair Bolsonaro e o outro lado de Bolsonaro é Lula. A polarização PSDB x PT precisaria ser refundada com uma disputa eleitoral, não de narrativas.

O PDT, por exemplo, é o responsável pela ação que deixou Bolsonaro inelegível e isso foi muito noticiado na época, mas pode perguntar nas ruas e a maior parte das pessoas vai dizer que foi Lula ou o PT quem processou o ex-presidente.

Ingenuidade

A ditadura de Nicolás Maduro fez mais uma vítima. Morreu de “fome” a franca ingenuidade de quem acreditava ser possível ter um processo eleitoral limpo e transparente por lá.

Num país em que o governante comanda os militares, beneficiando o alto escalão com acesso a muito dinheiro de corrupção, controla todo o poder judiciário, incluindo a comissão eleitoral, e ainda criou um poder Legislativo paralelo quando seus deputados foram derrotados no pleito anterior, esperar que uma vitória da oposição poderia ser declarada era ingenuidade natimorta.

Imparcial

Agora, o Brasil declarou que espera “verificação imparcial dos votos”. O governo brasileiro não reconheceu a vitória de Maduro. Lula enviou ao país vizinho não o ministro de Relações Exteriores, mas um assessor da presidência, o ex-ministro Celso Amorim.

O enviado brasileiro é um relativizador do regime chavista comandado pelo venezuelano desde que Hugo Chávez morreu em 2013.

Amorim poderia explicar como será possível ter “verificação imparcial dos votos”, como quer o Brasil, se Maduro proibiu a entrada de observadores internacionais que não fossem amigos. Os observadores convidados pela oposição foram todos impedidos de entrar no país.

Piada

Apenas dois fatos ficaram comprovados com a reeleição de Maduro na Venezuela. O primeiro é que estamos falando, sim, de uma ditadura. O segundo é que a diplomacia brasileira é uma piada, principalmente quando se tratam dos regimes autocráticos comandados por amigos do governo petista.

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