Destaques e análises políticas do Brasil e Pernambuco, com Igor Maciel

Cena Política

Por Igor Maciel
Cena Política

O erro no discurso da oposição durante as convenções no fim de semana

A oposição precisa entender que é necessário convidar o eleitor a pensar e não criticá-lo por apoiar e seguir nas redes um "prefeito que dança".

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Igor Maciel

Publicado em 05/08/2024 às 20:00
Daniel Coelho é formado em Administração de Empresas pela Universidade de Pernambuco, com mestrado em Administração de Negócios Internacionais na Inglaterra - ARTHUR DE SOUZA / DIVULGAÇÃO

Quanto mais os candidatos de oposição se preocuparem em criticar a popularidade de João Campos (PSB) nas redes sociais, pior será. Duas regras são básicas nas batalhas de argumentação: não se chuta cachorro morto e não se ironiza um poder construído em bases populares, mesmo se ele for artificial.

Mas o principal problema desta estratégia é abrir ao socialista a possibilidade de fugir do assunto que realmente interessa aos eleitores do Recife: o Recife.

Schopenhauer

Em sua dialética erística, Arthur Schopenhauer escreveu um livro conhecido no Brasil pelo título “Como vencer um debate sem precisar ter razão”. O autor não ensina a enganar, apenas expõe os métodos pelos quais os maus filósofos criam ciladas argumentativas.

Um desses métodos tem um nome esquisito, mas sua prática é bem popular entre políticos, principalmente na eleição. É a “Homonímia Sutil”.

Trata-se de ampliar a crítica que se recebe para algo que nada tem a ver com o assunto, apenas para poder refutar com mais facilidade e gerar comoção.

Solidariedade

A Homonímia Sutil é usada, por exemplo, quando alguém diz que o adversário é agressivo e o agressivo diz que aquilo se trata de um preconceito por causa de sua “origem humilde”.

Uma coisa não tem nada a ver com a outra, a agressividade não tem nada a ver a com a origem humilde, mas a conexão acaba dando ao sujeito um ar de vítima, de perseguido, que vai esconder sua grosseria e agressividade dentro da discussão para suscitar solidariedade coletiva.

Popular

Como isso se encaixa no risco que a oposição corre ao criticar a popularidade digital do atual prefeito? O primeiro ponto é que a origem dessa popularidade, como já está óbvio pela expressão, vem do povo.

Não importa se foi fabricada a partir de investimentos em marketing de engajamento, não importa se essa popularidade tem mais a ver com “cabelo nevado” do que com realizações pela cidade.

Se a origem é popular, criticar a popularidade é criticar o povo.

O Recife

Depois, usando a homonímia sutil, é fácil para Campos rebater as críticas às danças, cabelos pintados ou stories do Instagram com um argumento muito simples: “eles criticam minhas redes sociais porque não há o que reclamar na cidade”. E pode apostar que é um argumento que pega. É quase uma vacina pra tudo. Embora exista muito o que ser falado sobre o Recife.

Captou

Daniel Coelho (PSD), é preciso reconhecer, foi o único que captou bem esse caminho. Quando questiona os problemas do Recife e expõe feridas da cidade, como os moradores de rua e dificuldade de infraestrutura do município em vários setores, mostrando dados, Coelho convida o eleitor à racionalização.

É preciso convidar o eleitor a pensar e não criticá-lo por achar graça e apoiar um “prefeito que dança”.

Ataques diretos contra alguém tão popular, saem pela culatra.

Vice

Do outro lado, ficou claro que João Campos precisa encontrar um papel mais ativo para seu vice. Uma forma de justificá-lo. Por maior que seja o incenso sobre a convenção da Frente Popular, inclusive na mídia, a verdade é que as falas do vice, respondendo sobre a própria suposta inexperiência, são frágeis.

Talvez não seja o caso de reinventar o ridículo, embora eficiente, “foi fulano quem fez”, usado para transferir a popularidade de Eduardo Campos para Geraldo Julio em 2012, mas algo precisa ser criado. Porque a escolha do vice, para além dos planos futuros de João, ainda não está bem explicada.

A relatividade do tempo

Dizer que “não caiu de paraquedas”, por “estar na prefeitura há três anos e meio”, como fez o vice de Campos, pode funcionar com eleitores muito jovens, entre os quais três anos e meio parecem ser muito tempo.

Quando o ouvinte tem mais de 30 anos, dizer que ficou em algum lugar por três anos evidencia inexperiência. Tem efeito contrário.

Três anos é metade de uma vida para quem está se alfabetizando, mas não significa nada para quem já passou dos 50, por exemplo. E estes, os mais velhos, também votam.

Conselho

Nesta terça-feira (06), o Conselho de Representação Empresarial do LIDE Pernambuco vai almoçar, no Mar Hotel, com a vice-governadora do Estado, Priscila Krause, e o secretário de desenvolvimento econômico, Guilherme Cavalcanti.

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