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Cena Política

Por Igor Maciel
Cena Política

O que está acontecendo com os candidatos diretamente apoiados por Bolsonaro

A dificuldade que os candidatos de Bolsonaro enfrentam no Recife e em outras cidades consideradas prioritárias pelo ex-presidente da República.

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Igor Maciel

Publicado em 27/08/2024 às 20:00
Gilson Machado e Jair Bolsonaro - Divulgação

Dentro da campanha de Gilson Machado (PL) e entre seus apoiadores há certeza de que muitos bolsonaristas estão declarando intenção de votar em João Campos (PSB). Como o atual prefeito aparece com 76% na última pesquisa datafolha, essa certeza é bem fundamentada.

É por isso que se espera uma movimentação cada vez forte e polêmica do ex-ministro de Bolsonaro (PL) na campanha. Ele dizer, como fez em sabatina esta semana, que terá apoio de Donald Trump dos EUA no caso de ser eleito prefeito do Recife, é só um exemplo. Rende piadas, como a de que Trump iria financiar um muro dividindo Recife de Olinda, mas também tenta mostrar um alinhamento entre pautas e posições que Bolsonaro defendeu nos últimos tempos.

Até agora, porém, essa vinculação não atraiu resultado.

E voto tem

Se os votos dados a Bolsonaro em 2022, menos de dois anos atrás, fossem todos transferidos para Gilson Machado ele deveria estar com cerca de 39% das intenções em pesquisa. O melhor resultado do candidato a prefeito do PL, até agora, foi 6%.

O problema é Gilson? O problema é estar no Nordeste? Não exatamente. E outros números, em outros estados, mostram isso.

Rio de Janeiro

No Rio de Janeiro, por exemplo, origem política do ex-presidente, o candidato bolsonarista Alexandre Ramagem (PL) tem 9%, contra 56% do atual prefeito Eduardo Paes (PSD). Quando isolados apenas os eleitores evangélicos, público em que há domínio de Bolsonaro nos últimos anos, Ramagem ainda perde feio, tem só 11% contra 49% de Paes. Até aqueles que votaram em Bolsonaro em 2022 o resultado é ruim: Ramagem chega a 23%, mas Eduardo Paes tem 44%.

BH, Fortaleza e São Paulo

O problema é o candidato que escolheram no Rio de Janeiro, alguns podem dizer. Pois saiba que os candidatos bolsonaristas estão atrás nas pesquisas em Belo Horizonte, Fortaleza e São Paulo também. São os estados nos quais havia mais esperança de Bolsonaro quando foram montados os palanques. É onde ele acreditava ter mais força. Mas há outra característica que chama atenção nessas eleições. O principal fator da dificuldade de Bolsonaro não é a esquerda.

Não é a esquerda

Os candidatos bolsonaristas oficiais não estão perdendo para nomes da esquerda, não perdem votos para o PT e nem para Lula. Com exceção do Recife, é a centro-direita quem absorve essa votação bolsonarista. Bolsonaro está perdendo em alguns estados para os bolsonaristas que já lhe apoiaram. Em Belo Horizonte, Mauro Tramonte (Republicanos) é o adversário principal. Ele já admitiu ter votado em Bolsonaro em 2022 e hoje tem o apoio de Romeu Zema (Novo). É só um exemplo.

Ex-aliados

Em Fortaleza, o candidato de Bolsonaro, André Fernandes (PL), não consegue decolar e chegou só a 16% em terceiro lugar. O líder nas pesquisas é o Capitão Wagner (União Brasil), que também já votou em Bolsonaro, com 29%. José Sarto (PDT) é o segundo com 23%.

O bolsonarismo e…

São Paulo é o mais famoso desses casos. Ricardo Nunes (MDB), o atual prefeito, é o candidato de Bolsonaro. Mas foi perdendo posições na disputa com a entrada de Pablo Marçal (PRTB). Esse talvez seja o pleito que mais tem chamado a atenção porque o próprio Bolsonaro percebeu o risco e entrou em atrito público com Marçal.

Mas é fato que o bolsonarismo está se dividindo e se diversificando por não ter uma unidade além do próprio ex-presidente.

…os bolsonaristas

Na esquerda, o lulismo e o petismo são frequentemente confundidos como se fossem a mesma coisa, mas não são e esse é o segredo da longevidade. Quando um se mete em problemas, o outro sustenta os apoiadores. Se Lula está em baixa, o petismo segue reunindo apoiadores. Quando o PT está mal, os petistas se reúnem em torno de Lula.

No caso do bolsonarismo ele depende totalmente do ex-presidente e, estando ele inelegível, sem perspectivas de reassumir o poder tão cedo, acontece uma pulverização dos eleitores. Vários novos “líderes” aparecem, com perfis bem diferentes para atrair diferentes públicos, dos mais tradicionais aos mais esquisitos.

Recife

O que acontece no Recife tem a ver com isso também, mas aqui há outro fator. Ninguém imagina que seja possível Gilson alcançar os 39% que teve Bolsonaro em 2022 na cidade e nem mesmo a votação que o próprio Gilson Machado teve na campanha para o Senado, algo próximo de 320 mil votos que o deixariam também com 40% das intenções de voto.

Isso é impossível hoje por dois erros estratégicos da direita no Recife em 2020, quatro anos atrás. O primeiro erro foi não ter lançado um candidato da cozinha de Bolsonaro alguém "raiz".

O segundo erro foi já durante a campanha. Explico abaixo.

2020

Na última eleição, os bolsonaristas e o próprio Bolsonaro é que decidiram a eleição no Recife. Mas o fato de João Campos, do Partido Socialista Brasileiro, ter sido eleito deve dar uma ideia de que algo deu errado para eles, né? O que aconteceu?

Para quem não lembra, Bolsonaro não declarou voto em ninguém até a reta final da eleição. A direita na cidade tinha uma preferência que era Mendonça Filho (UB) e as pesquisas indicavam que ele iria para o segundo turno com João Campos ou com Marília Arraes (na época pelo PT).

Vídeo mudou eleição

Na última semana da campanha, porém, por causa de picuinhas ideológicas, Bolsonaro gravou um vídeo declarando apoio não a Mendonça, mas à Delegada Patrícia (Podemos). Os eleitores ficaram divididos e deu errado pra todo mundo. Nem Mendonça e nem Patrícia passaram. Marília com o PT e João com o PSB disputaram o segundo turno. Entre uma petista e um socialista, a direita votou em Campos que, até o momento, não os decepcionou.

A dificuldade

Campanhas com a participação de ocupantes de cargo em busca de reeleição são plebiscitárias. O cidadão vai às urnas basicamente para decidir se o incumbente merece ficar mais quatro anos ou não. Esse eleitor de direita, por enquanto, não vê motivo objetivo para deixar de votar no atual prefeito. Até escapar de entregar a vice ao PT, João conseguiu. E por isso ele tem, nesse momento, 76% enquanto Gilson tem 6%.

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