As vendas do varejo em Pernambuco tiveram alta de 3,2% em fevereiro, após dois meses seguidos de queda, de acordo com a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada nesta terça-feira (13) pelo IBGE. O avanço do setor foi de 3,2% no período, o sexto melhor resultado do País e superior à média nacional (0,6%). Esse também foi o melhor índice do comércio para o mês de fevereiro no estado desde 2010. Apesar do cenário positivo, a realidade é que o setor não vem reagindo ainda como deveria.
Ainda segundo o IBGE, na comparação entre fevereiro de 2021 e o mesmo período do ano passado, Pernambuco teve desempenho acima da média brasileira no varejo. Enquanto as vendas recuaram 3,6% no Brasil, avançaram 2% no estado. No acumulado do primeiro bimestre, a tendência se repete, com queda de 2,1% no País e avanço de 1,7% em Pernambuco. Já a variação acumulada nos últimos 12 meses apresentou números semelhantes: aumento de 0,4% no Brasil e de 0,5% no comércio varejista pernambucano.
O economista da Fecomércio-PE, Rafael Ramos, demonstrou surpresa com os resultados apontados pela pesquisa. Ele faz algumas ponderações em relação à alta de 3,2% apontada pelo IBGE. “É importante citar que esta é um alta em cima de uma base já negativa, então, muitas vezes, o crescimento é apenas matemático, e não real”. Rafael Ramos lembra que houve quedas em dezembro e janeiro, o que acaba influenciando qualquer movimento para cima. O economista chama atenção ainda para a sazonalidade característica do mês fevereiro, com as famílias se preparando para a volta as aulas, o que explica o bom resultado de alguns setores, como papelaria e vestuário, por exemplo.
Para o economista da Fecomércio, o mercado de trabalho também colaborou para o bom desempenho do comércio local no início deste ano. “Pernambuco teve saldo positivo de vagas de emprego em janeiro (1.318 vagas) e em fevereiro (1.822). Mais pessoas voltando ao mercado trabalho significa mais pessoas com renda sustentável e de valor maior do que a obtida na informalidade; isso traz uma confiança maior, permitindo que as pessoas consumam mais”. Para Ramos até a vacinação pode ter influenciado a melhoria das vendas, com os idosos, já vacinados, indo mais às compras.
Ele lembra que a pesquisa do IBGE retrata o momento antes do recrudescimento da pandemia. Logo em seguida, em março, houve a implantação de novas medidas restritivas que resultaram na quarentena, com o fechamento do comércio não essencial. “No mês de março a pesquisa muito provavelmente vai apontar uma queda, reflexo das medidas tomadas pelo governo para tentar conter a pandemia naquele mês”, projetou Rafael.
É importante citar que esta é um alta em cima de uma base já negativa, então, muitas vezes, o crescimento é apenas matemático, e não real”Rafael Ramos - Economista da Fecomércio-PE
SETORES
O IBGE mostra que, em Pernambuco, das 13 atividades varejistas pesquisadas cinco tiveram alta entre fevereiro de 2020 e fevereiro de 2021: artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (36,3%), que ocupam a primeira posição pelo segundo mês seguido, veículos, motocicletas, partes e peças (29,6%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (25,5%) que englobam lojas de departamentos, óticas, joalherias, artigos esportivos, brinquedos e similares, material de construção (12,8%) e livros, jornais, revistas e papelaria (5,6%).
Marcelo Magalhães, assessor executivo do Sindicato do Comércio de Auto Peças de Pernambuco, salienta que, apesar de o IBGE apontar um crescimento expressivo neste segmento (29,6%), o setor vem reclamando. “Nosso segmento, o de autopeças, pôde permanecer aberto durante a pandemia. Mas não adianta ter a loja aberta se os clientes não estão circulando”. Marcelo disse que o faturamento das lojas caiu muito e algumas chegaram a fechar as portas. Segundo o Sincopeças, de fevereiro de 2020 a fevereiro de2021, foram abertas 187 novas empresas no segmento, muitas delas pequenos negócios empreendidos por ex-funcionários, e fecharam formalmente (que de fato deram a baixa na junta comercial) 145 empresas. Mas o sindicato acredita que este número pode ser maior porque muitas empresas simplesmente baixam as portas sem fazer o registro de encerramento das atividades.
Magalhães lembra que no ano passado, com o valor maior do auxílio emergencial e o governo cobrindo parte do salário dos empregados que tiveram a jornada reduzida, o setor até apresentou um crescimento “Mas de novembro [de 2020] pra cá, as vendas começaram a cair”, afirmou. O representante do Sincopeças explica que o setor de vendas e manutenção de motocicletas certamente teve um ganho (por conta do crescimento das atividades de delivery), já a linha pesada, de caminhões, teve uma queda menor que o setor de automóveis, que foi bastante prejudicado. “Como o IBGE coloca no mesmo segmento autopeças, motos e veículos, a queda de um dos setores é compensada pelo crescimento do outro, mas analisando cada um separadamente é que se vê que um sofre mais os efeitos da pandemia que outros”, explicou.
NACIONAL
A pesquisa do IBGE apontou que o volume de vendas no comércio varejista avançou em todo o País 0,6% em fevereiro, após três meses seguidos de queda. Segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC), os números ainda são modestos e registram perdas em relação ao período pré-pandemia na maioria dos segmentos. Mesmo assim, para o presidente da CNC, José Roberto Tadros, o resultado é animador, mas há um grande desafio de sustentabilidade para os próximos meses. “É um respiro. Um crescimento pequeno, mas sobretudo uma tendência que mostra a força que o setor mantém nesse cenário desafiador. É inspirador ver esse resultado em um começo de ano tão difícil, com o agravamento da pandemia e medidas de isolamento necessárias para contenção do vírus. O comércio se adaptou rapidamente às mudanças, mas ainda é muito dependente do consumo físico”, avalia Tadros.
Segundo acompanhamento do Google Mobility, utilizado pela CNC no estudo, a concentração média mensal da população em áreas residenciais em fevereiro ainda se encontrava 6,3% acima do observado no início de 2020. O percentual avançou para 10,5% em março e para 12% no início de abril, o que pode impactar o resultado das vendas a ser calculado nos respectivos meses.