Pernambuco está na rota das grandes redes de hotéis. Está previsto para os próximos dois anos o início das novas operações da rede Ibis/Accor no Agreste (em Garanhuns e Caruaru), e no Sertão (Petrolina, Arcoverde e Serra Talhada). Em Jaboatão dos Guararapes, no bairro de Piedade, a unidade Ibis/Accor será entregue no final deste ano. Além desses, o grupo Hilton anunciou um hotel para o Recife Antigo que deve ficar pronto em 2024. São hotéis com estruturas que vão de 90 a 140 apartamentos.
Ao anunciar, no início deste mês, os investimentos do Grupo Accor no Estado, o governador Paulo Câmara destacou o impacto econômico que as novas operações provocarão. Somente os três empreendimentos que serão erguidos nas cidades de Caruaru, Serra Talhada e Petrolina, somam investimentos na ordem de R$ 90 milhões. Na semana passada, foi anunciado o Ibis Arcoverde, projeto de R$ 20 milhões. Cada empreendimento desses, tem capacidade de gerar entre empregos diretos e indiretos, desde a construção até operação, cerca de 300 vagas de trabalho, totalizando cerca de 2 mil postos de trabalho. As obras começam ainda este ano e se estendem, no caso de alguns projetos, até 2024.
“Estamos muito felizes em fazer esse anúncio. As construções dos três hotéis, além de incentivar o turismo, também vai gerar empregos diretos nos três municípios, localizados no interior do nosso Estado” pontuou Paulo Câmara na ocasião.
A notícia da chegada dos novos hotéis a Pernambuco foi recebida com menos entusiasmo pelo presidente da Associação Brasileira da Indústria Hoteleira em Pernambuco (Abih-PE), Eduardo Cavalcanti. Para ele, o desafio é garantir uma ocupação sustentável. “Eu vejo com uma certa preocupação. No caso de Recife e em Porto de Galinhas a preocupação é maior porque, antes da pandemia, a gente já trabalhava com uma taxa de ocupação pequena e uma diária com valor baixo. Os novos hotéis do Recife vão dividir uma fatia que já está pequena. Recife trabalha com uma ocupação, no momento, entre 25% e 35%. Porto de Galinhas está com 65% de ocupação e Gravatá chegou a 55%”, revela Cavalcanti.
Eduardo reconhece, no entanto, que a interiorização dos hotéis foi bem vinda. “A chegada de novas operações em cidades como Serra Talhada e Arcoverde vai contribuir para a melhoria da rede hoteleira como um todo. A concorrência faz com que os outros melhorem”, observou Cavalcanti que não deixou de alertar para a necessidade de promoção destes destinos. “Os hotéis do interior não podem ficar atrelados apenas ao turismo de eventos ou festas (Carnaval, Semana Santa e São João); o ano tem 365 dias. É preciso dizer o que o Estado tem”, afirmou.
Apesar da reabertura das atividades, com a flexibilização do decreto de controle da pandemia, o presidente da Abih-PE lamenta que um dos principais equipamentos de geração de hospedagem no Grande Recife, o Centro de Convenções, esteja, segundo ele, “em estado de abandono e com a pauta ocupada por eventos locais, como formaturas”. Para o presidente Eduardo Cavalcanti, cabe ao governo promover uma grande campanha para incentivar a movimentação turística no Estado e promover a ocupação da rede hoteleira. “Seria uma atitude salutar”, resumiu.
O arquiteto Rafael Amaral Tenório, diretor da Madeira de Lei Desenvolvimento Imobiliário, está a frente como arquiteto e desenvolvedor dos hotéis de Garanhuns, Serra Talhada e Arcoverde além de projetar o de Petrolina. Rafael Tenório explica que as grandes redes hoteleiras identificaram uma demanda por hospedagem , e uma necessidade de qualificação das acomodações, nas cidades de médio porte. “É um processo de interiorização do padrão internacional de atendimento, que antes ficava restrito só as capitais, e que hoje caminha não só em Pernambuco, mas em outros estados do Nordeste”, pontuou.
Rafael acredita que a concorrência gerada por esses empreendimentos irá elevar o padrão e profissionalizar melhor o setor. "O padrão de atendimento dos funcionários desses hotéis é diferenciado, o que vai acabar alterando o perfil dos funcionários que hoje estão nos hotéis dessas cidades do interior. Ganha a cidade toda', diz o arquiteto.
Em relação a infraestrutura e a promoção dos destinos turísticos locais, Tenório acredita que esse desenvolvimento está acontecendo em paralelo. "Nós já temos voos para Serra Talhada e, em menos de dois meses, teremos voos para Garanhuns. Também já temos voos para Caruaru e já se fala de rotas para Araripina. Então a base de aeroportos de pequeno porte está se consolidando. Eu entendo que, na hora que esses hotéis se instalarem, eles aceleram ou até obrigam a instalação de outros fatores de desenvolvimento, até porque a demanda fica muito exposta", acredita Rafael Tenório.
O secretário de Turismo e Lazer de Pernambuco, Rodrigo Novaes, vê os investimentos privados como fundamentais para o turismo avançar com eficiência. "É um investimento estratégico porque estão localizados no interior, onde a infraestrutura hoteleira não é suficiente para que a gente possa fomentar ainda o turismo em alguns municípios [...] vai dar capacidade de a gente poder avançar na promoção, na publicidade, e na articulação de mais voos para atrair mais turistas", afirmou o secretário.
Rodrigo Novaes citou o programa Caminhos de Pernambuco, criado em 2019 com a proposta de recuperar mais de 5.500 km em 51 estradas pernambucanas, e as reformas dos aeroportos de Garanhuns (Agreste) e Araripina (Sertão) como exemplo de obras que vão ajudar a fomentar a atividade turística, dando suporte aos investimentos privados. "Conquistamos os voos da Azul para Serra Talhada e Caruaru, o que dá uma nova condição a aviação regional. Já temos também o compromisso da Azul de operar para Araripina, fazendo com que aquela região não fique dependente do aeroporto de Juazeiro, no Ceará".
Sobre divulgação, Rodrigo Novaes mencionou o Bora Pernambucar, campanha publicitária que já existe há dois anos com a intenção de divulgar atrativos não só do litoral, mas promover também o Agreste e Sertão. Novaes reconhece que para a Capital, o Centro de Convenções precisa ser modernizado, já que é uma estrutura de mais de 40 anos, por isso mesmo está passando por reformas no piso, cozinha e banheiros para que, até o final deste ano, seja oferecido para a concessão privada.
"Estamos concluindo os estudos para entregar o Centro de Convenções, via concessão, para que o investimento privado faça as melhorias que sabemos que precisam ser feitas. Mas o Centro continua funcional, operacional, um dos melhores do Estado. Nós temos um pavilhão único de 18 mil m2, que atrai muitos eventos. 80% do turismo de Recife é turismo de negócios, por isso a necessidade do Centro de Convenções ser renovado para que funcione bem', admitiu o secretário.