A pesquisa mensal de endividamento e inadimplência do consumidor (Peic), elaborada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), mostra que continua alto o nível de endividamento das famílias brasileiras. O estudo registra um novo recorde no número de endividados no mês de agosto: 72,9%, o que equivale a 11,89 milhões de famílias com alguma dívida em aberto. Mais uma vez, a maior parte das dívidas (83%) está no cartão de crédito.
Segundo a CNC, o aumento na contratação de dívidas pelos consumidores começou a se tornar frequente no último trimestre do ano passado e segue com forte tendência positiva, ou de crescimento, nos meses recentes. As fragilidades no mercado de trabalho formal e o avanço do trabalho informal, com elevado nível de desocupação, aliado a inflação elevada, estão contribuindo para a maior contratação de dívidas pelas famílias, apontou a CNC. Outros fatores como as taxas de juros ainda relativamente baixas e mudanças do comportamento dos consumidores também vêm influenciando a maior contratação de crédito e, consequentemente, o endividamento no País.
FEIRA
O estudo mostra ainda que, entre as famílias mais pobres, o orçamento apertado tem influenciado o maior uso do cartão de crédito também para aquisição de itens de primeira necessidade, como alimentos e produtos de higiene, por exemplo. Já as famílias de renda mais alta estão utilizando mais o cartão de crédito no consumo de serviços.
O uso preferencial do crédito no cartão, nas modalidades à vista, parcelado e rotativo, aumentaram 31% em julho, em relação a julho do ano passado, segundo os dados do Banco Central, a maior taxa dentre os principais tipos de dívida. A partir de abril deste ano, os números apontam crescimento ainda mais expressivo, coincidindo com a aceleração do endividamento global dos consumidores.
O que os especialistas sempre alertaram é que o cartão de crédito é a modalidade mais difundida pela facilidade de acesso e de uso. O problema, é que ele também tem o maior custo ao usuário em se tratando de juros, especialmente quando se torna crédito rotativo, que é quando parte da fatura é paga e outra parte fica para o mês seguinte. Aí a conta fica bem mais cara porque vai somar juros sobre juros, desestimulando, ou até impossibilitando o pagamento total da fatura em curto prazo aumentando o risco da inadimplência.
ATRASO
A CNC esclarece na pesquisa que estar endividado não é o mesmo que estar inadimplente. "Ao se comprometer com o pagamento de um valor no futuro, o indivíduo contraiu uma dívida e está endividado. Ele estará inadimplente caso não pague o valor até a data do vencimento da obrigação", diz a análise.
A boa notícia é que o novo recorde do endividamento neste mês de agosto veio acompanhado da redução dos indicadores de inadimplência apurados na pesquisa. O percentual de famílias inadimplentes com pagamentos em atraso acima de 90 dias, e que recebem até 10 salários mínimos, está em queda desde dezembro do ano passado e chegou a 42,2% em agosto. Isso indica que, em alguma medida, os consumidores inadimplentes estão conseguindo quitar seus compromissos em aberto em menos tempo ou antes de três meses.
Mesmo com a inadimplência controlada até o momento, a alta dos juros amplia o risco para o agravamento desses indicadores à frente, num cenário de predomínio de restrições nos orçamentos das famílias, especialmente as de menor renda, diz a CNC.