Robótica para estudar física na prática

No ETE Ginásio Pernambucano e na Cesar School, alunos de todos os níveis são levados a buscar soluções para problemas reais
JC360
Publicado em 26/10/2022 às 8:00
COMPETIÇÃO Três projetos estão em andamento no ETE GP e serão apresentados no 28° Ciência Jovem, em novembro. Um deles é a automação de uma "casa inteligente", programada pelos próprios alunos com o robô Arduíno Foto: JAILTON JR/JC IMAGEM


Aprender conceitos da física através de projetos práticos e solucionando questões reais do dia a dia. Essa já é uma realidade para alunos de diversas escolas brasileiras, incluindo a Escola Técnica Estadual Ginásio Pernambucano (ETE Ginásio Pernambucano) no bairro de Santo Amaro, no Recife.

A partir das aulas da professora Karina Avelina no laboratório de robótica da instituição, os alunos do Ensino Médio têm transformado teoria em prática – num ciclo de aprendizado constante e estimulante.

"Em 2011, quando comecei, em outra escola, havia os kits de robótica, mas não tinha nenhum professor capacitado para utilizá-los. Pedi autorização para começar a desvendar o funcionamento das ferramentas e, 11 anos depois, é uma satisfação poder ver a evolução do aprendizado dos estudantes e o interesse despertado pelas aulas", explica a professora.

JAILTON JR/JC IMAGEM - A partir das aulas da professora Karina Avelina no laboratório de robótica da instituição, os alunos do Ensino Médio têm transformado teoria em prática

Karina ensina propondo projetos aos alunos, agregando os conhecimentos que seriam explicados apenas em teoria, numa proposta tradicional de ensino, e passam a ser experimentados a cada aula no laboratório de robótica.

A educadora trabalha unindo robótica e física dentro do espaço 4.0 da ETE GP, através de dois tipos de robôs: Arduíno e Lego. Atualmente, são três projetos em andamento, que serão apresentados no 28° Ciência Jovem, em novembro. Um dos projetos que está sendo desenvolvido é a automação de uma "casa inteligente", programada pelos próprios alunos, com o robô Arduíno.

Quem faz parte da iniciativa é Ewerson Pedro Silva, 17 anos, estudante do 2º ano do Ensino Médio. Ele perdeu o braço direito num acidente, em 2021, e a proposta de programar uma casa "inteligente" e automatizada foi um estímulo para solucionar questões que ele e outras pessoas com deficiência vivenciam no cotidiano.

JAILTON JR/JC IMAGEM - Alunos da Escola Técnica Estadual Ginásio Pernambucano (ETE Ginásio Pernambucano) com a professora Karina Avelina

Além da casa automatizada, os estudantes estão divididos em dois outros projetos: o Xereta – um robô espião que captura imagens de locais onde há risco para a presença de seres humanos, como lugares com vazamento de gás, ou terrenos com deslizamentos de terra, por exemplo -; e o Freud – aplicativo que auxilia pessoas com necessidade de acompanhamento psicológico.

"O aplicativo faz um mapeamento de lugares com atendimento psicológico, diz o valor da consulta e como entrar em contato. A ideia surgiu durante a pandemia, por causa do isolamento e todas as questões psicológicas que todo mundo passou", explica Clóvis Chakraian, 17, aluno do 3º ano do Ensino Médio.

SOLUÇÕES

A analista educacional, professora e pesquisadora na Cesar School, Tanci Simões Gomes, explica que desde 2006 – quando começou uma discussão sobre as habilidades profissionais exigidas no "futuro", a ideia de inserir em todos os níveis da educação o pensamento computacional se destaca, com base no modelo de pensar a resolução dos problemas.

Jailton Jr/JC IMAGEM - FUTURO A professora do Cesar School considera que as necessidades de conhecimento e profissionais desenvolvidas hoje vão atender a questões que ainda virão a ocorrer

De lá pra cá, o debate evoluiu para a definição de quando esse modelo de aprendizado deve ser iniciado: no infantil, no ensino fundamental, ou no ensino médio Tanci diz que, independente da corrente de pensamento, um consenso atual é que a aproximação com o pensamento computacional/digital é hoje o que já foi um dia o ensino da datilografia e da digitação. São habilidades consideradas diferenciais em cada época e, no caso do conhecimento computacional, algo considerado tão relevante quanto a escrita e a aritmética.

"Ter um pensamento analítico, crítico, saber abstrair e selecionar apenas informações importantes são elementos que hoje começam a fazer parte do cotidiano das pessoas, mesmo que não venha sobre a roupagem da ciência da computação. Conceitos como decomposição, abstração, algoritmos são pilares para a resolução de problemas, e se a gente segue trazendo esses conhecimentos minimamente nivelados para todas as pessoas, também estamos atuando com inclusão digital, inclusão social dentro da nossa realidade, independente se a pessoa vai ou não trabalhar com robótica e programação", explica a pesquisadora.

JAILTON JR/JC IMAGEM - A professora do Cesar School considera que as necessidades de conhecimento e profissionais desenvolvidas hoje vão atender a questões que ainda virão a ocorrer

A professora do Cesar School vai além e considera que as necessidades de conhecimento e profissionais desenvolvidas hoje vão atender a questões que ainda virão a ocorrer, salientando que pelo menos 65% das profissões do futuro ainda não foram criadas.

"Também não é só para a profissão, mas para o dia a dia. Existem processos de transformação digital em todos os lugares e quem não tem esse conhecimento acaba sendo excluído digital e socialmente. Do mesmo jeito que, no passado, a gente precisava digitar um currículo, meu palpite é que no futuro talvez a gente precise programar a geladeira porque ela deu um 'bug'", complementa a pesquisadora, destacando que é preciso pensar nas desigualdades sociais causadas já hoje pela falta de inclusão digital, que só tende a aumentar.

"É preciso um encaminhamento neste sentido, para evitar estas desigualdades. Formar mais professores e ter estratégias de larga escala, aliando o poder público e iniciativas variadas de parcerias. A falta de acesso à conectividade é uma questão grave e elementar para a construção de uma experiência de aprendizagem efetiva, dentro do processo de democratização do conhecimento", finaliza.

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