Aprender conceitos da física através de projetos práticos e solucionando questões reais do dia a dia. Essa já é uma realidade para alunos de diversas escolas brasileiras, incluindo a Escola Técnica Estadual Ginásio Pernambucano (ETE Ginásio Pernambucano) no bairro de Santo Amaro, no Recife.
A partir das aulas da professora Karina Avelina no laboratório de robótica da instituição, os alunos do Ensino Médio têm transformado teoria em prática – num ciclo de aprendizado constante e estimulante.
"Em 2011, quando comecei, em outra escola, havia os kits de robótica, mas não tinha nenhum professor capacitado para utilizá-los. Pedi autorização para começar a desvendar o funcionamento das ferramentas e, 11 anos depois, é uma satisfação poder ver a evolução do aprendizado dos estudantes e o interesse despertado pelas aulas", explica a professora.
Karina ensina propondo projetos aos alunos, agregando os conhecimentos que seriam explicados apenas em teoria, numa proposta tradicional de ensino, e passam a ser experimentados a cada aula no laboratório de robótica.
A educadora trabalha unindo robótica e física dentro do espaço 4.0 da ETE GP, através de dois tipos de robôs: Arduíno e Lego. Atualmente, são três projetos em andamento, que serão apresentados no 28° Ciência Jovem, em novembro. Um dos projetos que está sendo desenvolvido é a automação de uma "casa inteligente", programada pelos próprios alunos, com o robô Arduíno.
Quem faz parte da iniciativa é Ewerson Pedro Silva, 17 anos, estudante do 2º ano do Ensino Médio. Ele perdeu o braço direito num acidente, em 2021, e a proposta de programar uma casa "inteligente" e automatizada foi um estímulo para solucionar questões que ele e outras pessoas com deficiência vivenciam no cotidiano.
Além da casa automatizada, os estudantes estão divididos em dois outros projetos: o Xereta – um robô espião que captura imagens de locais onde há risco para a presença de seres humanos, como lugares com vazamento de gás, ou terrenos com deslizamentos de terra, por exemplo -; e o Freud – aplicativo que auxilia pessoas com necessidade de acompanhamento psicológico.
"O aplicativo faz um mapeamento de lugares com atendimento psicológico, diz o valor da consulta e como entrar em contato. A ideia surgiu durante a pandemia, por causa do isolamento e todas as questões psicológicas que todo mundo passou", explica Clóvis Chakraian, 17, aluno do 3º ano do Ensino Médio.
A analista educacional, professora e pesquisadora na Cesar School, Tanci Simões Gomes, explica que desde 2006 – quando começou uma discussão sobre as habilidades profissionais exigidas no "futuro", a ideia de inserir em todos os níveis da educação o pensamento computacional se destaca, com base no modelo de pensar a resolução dos problemas.
De lá pra cá, o debate evoluiu para a definição de quando esse modelo de aprendizado deve ser iniciado: no infantil, no ensino fundamental, ou no ensino médio Tanci diz que, independente da corrente de pensamento, um consenso atual é que a aproximação com o pensamento computacional/digital é hoje o que já foi um dia o ensino da datilografia e da digitação. São habilidades consideradas diferenciais em cada época e, no caso do conhecimento computacional, algo considerado tão relevante quanto a escrita e a aritmética.
"Ter um pensamento analítico, crítico, saber abstrair e selecionar apenas informações importantes são elementos que hoje começam a fazer parte do cotidiano das pessoas, mesmo que não venha sobre a roupagem da ciência da computação. Conceitos como decomposição, abstração, algoritmos são pilares para a resolução de problemas, e se a gente segue trazendo esses conhecimentos minimamente nivelados para todas as pessoas, também estamos atuando com inclusão digital, inclusão social dentro da nossa realidade, independente se a pessoa vai ou não trabalhar com robótica e programação", explica a pesquisadora.
A professora do Cesar School vai além e considera que as necessidades de conhecimento e profissionais desenvolvidas hoje vão atender a questões que ainda virão a ocorrer, salientando que pelo menos 65% das profissões do futuro ainda não foram criadas.
"Também não é só para a profissão, mas para o dia a dia. Existem processos de transformação digital em todos os lugares e quem não tem esse conhecimento acaba sendo excluído digital e socialmente. Do mesmo jeito que, no passado, a gente precisava digitar um currículo, meu palpite é que no futuro talvez a gente precise programar a geladeira porque ela deu um 'bug'", complementa a pesquisadora, destacando que é preciso pensar nas desigualdades sociais causadas já hoje pela falta de inclusão digital, que só tende a aumentar.
"É preciso um encaminhamento neste sentido, para evitar estas desigualdades. Formar mais professores e ter estratégias de larga escala, aliando o poder público e iniciativas variadas de parcerias. A falta de acesso à conectividade é uma questão grave e elementar para a construção de uma experiência de aprendizagem efetiva, dentro do processo de democratização do conhecimento", finaliza.