Desenvolver competências digitais é uma premissa para preparar melhor os jovens em uma sociedade cada vez mais digital. É o que tem defendido especialistas ao abordarem de que forma ter habilidades tecnológicas pode impactar na maioria das carreiras.
No último dia 15, foi realizado o Seminário "Avaliação de competências digitais de estudantes: perspectivas para a implementação no Brasil", onde se discutiu modelos de avaliação de competências digitais de estudantes e caminhos possíveis para o Brasil, em um contexto em que o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) passará a avaliar estas competências em 2025.
Para Lia Glaz, diretora presidente da Fundação Telefônica Vivo, em entrevista à coluna Enem e Educação, é comum associar essas habilidades exclusivamente ao uso de equipamentos ou recursos educacionais digitais. "Isso é uma parte, mas não é tudo. Precisamos olhar também para questões como cidadania digital, pensamento computacional e capacidade das crianças e jovens entenderem e criarem a partir da tecnologia. E, para desenvolver e implementar políticas públicas capazes de apoiá-los nessa jornada, é necessário ter indicadores para compreender os progressos e desafios", afirmou Lia Glaz.
As avaliações são necessárias para se obter parâmetros, tanto sobre o nível das escolas quanto a respeito do nível do sistema, o que pode contribuir para o avanços de políticas e estratégias pedagógicas nessa área. "Nesse contexto, estimular a discussão sobre o desenvolvimento de competências digitais e como realizar uma avaliação sobre tal aprendizado em estudantes é atualmente uma das demandas mais importantes da educação", ressaltou a diretora presidente da Fundação Telefônica Vivo.
DESAFIOS NO BRASIL
Países a exemplo da Alemanha, França, China, Estados Unidos e Uruguai também já estão em diferentes fases de implementação de seus modelos de avaliação. Questionada pela coluna sobre quais seriam os principais obstáculos para a implementação no Brasil, Lia Glaz destaca a desigualdade de acesso e a formação de professores.
"O relatório do PISA mostrou que, apesar de se distraírem com dispositivos eletrônicos nas aulas de matemática, estudantes de países-membros da OCDE que utilizavam equipamentos digitais por até 1 hora diária para atividades de aprendizagem, tendiam a ter um score 25 pontos mais alto em matemática do que estudantes que não utilizam tais equipamentos", explicou.
"Ou seja, a tecnologia pode ser um grande aliado no processo de aprendizagem, se utilizada adequadamente e com orientação dos professores. No entanto, apesar de terem nascidos em ambientes onde a tecnologia digital está muito presente, a 'geração digital 'ainda precisa desenvolver as competências para o uso da tecnologia, a fim de melhorar o próprio aprendizado e utilizar as tecnologias para o bem comum", completou a especialista.
PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO
No Plano Nacional de Educação (PNE), em debate no Congresso Nacional, a previsão é de que, em 10 anos, 60% dos estudantes brasileiros tenham desenvolvido competências digitais. O objetivo da Fundação Vivo Telefônica, inclusive, é justamente estimular as partes interessadas em prol da implementação de uma avaliação que meça o desenvolvimento de competências digitais de estudantes no Brasil, e, assim impactar diretamente o presente e o futuro destes jovens.
"Um dos objetivos do novo PNE, visa promover a educação digital para o uso crítico, reflexivo e ético das tecnologias da informação e da comunicação para o exercício da cidadania. Para isso, foram estabelecidas estratégias, entre elas, a estruturação da avaliação das competências e habilidades relacionadas à educação digital, conforme as diretrizes da BNCC, considerando os saberes pertinentes à cultura digital, ao mundo digital e ao pensamento computacional para a educação básica. Uma vez inseridas no currículo, as competências digitais também precisam ser contempladas em mecanismos avaliativos", reforçou Lia Glaz.
FORMAÇÃO DE PROFESSORES
O relatório Diagnóstico do Nível de Adoção de Tecnologia nas Escolas Públicas Brasileiras (2022), realizado pelo Centro de Inovação para a Educação Brasileira (Cieb), a partir do Guia Edutec e participação de docentes de 104 mil escolas, mostrou que, em uma escala de letramento digital para fins pedagógicos – considerando 5 o nível mais alto e 1 o mais baixo –, os professores consultados se identificam com o?nível 2, mesmo após a pandemia.
Esse cenário mostra que, apesar de identificarem a relevância dos recursos digitais como suporte ao ensino, os docentes ainda estão em um estágio inicial de conhecimento.
"Não existe solução única, mas o uso qualificado de tecnologia precisa ganhar capilaridade para transformar de maneira igualitária todo o processo educacional brasileiro, garantindo acesso e permanência desde a base. Levando em conta a digitalização como fator cada vez mais crucial", finalizou a diretora presidente da Fundação Telefônica Vivo.