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Enem e Educação

Por Mirella Araújo e equipe

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Enem 2024: Jovens pernambucanos falam sobre a conquista das notas mil e 980 na redação

Em Pernambuco, apenas uma estudante tirou nota mil e 114 redações receberam notas entre 980 e 1.000, sendo 21 delas de estudantes da rede pública

Publicado em 14/01/2025 às 14:11 | Atualizado em 14/01/2025 às 19:59
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A introdução da redação trouxe uma referência ao romance brasileiro Torto Arado, do escritor baiano Itamar Vieira Junior. No desenvolvimento, citações da filósofa, escritora e ativista Sueli Carneiro, e do sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, também serviram para a construção do texto dissertativo-argumentativo de Camila Ellen Gonzaga de Aguiar.

A estudante do município de Belo Jardim, de 19 anos, foi a única candidata de Pernambuco a alcançar a nota mil na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2024. Ela se destacou entre as 12 redações de todo o Brasil que obtiveram a pontuação máxima nesta edição, que teve como tema “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”.

“Eu estava muito nervosa para ver a nota, mas não iria abrir hoje (segunda-feira). À tarde, recebi um e-mail de uma mulher do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) , dizendo que viu minha nota e queria entrar em contato comigo. Eu fiquei incrédula e mandei para uma amiga minha, dizendo que isso só poderia ser golpe. Depois tentei entrar no site, mas ele estava caindo muito, até que consegui ver a nota”, relatou a estudante em uma live realizada com sua professora de Linguagens e Redação, Fernanda Pessoa.

Durante a transmissão, Camila Ellen revelou que sempre teve gosto por escrever redações e que manteve uma rotina disciplinada e regrada para alcançar seu maior objetivo: cursar Medicina. Na edição do Enem 2023, a jovem já havia se surpreendido ao conquistar 960 pontos na redação.

Esse resultado motivou Camila a continuar investindo nos estudos, com dedicação especial ao curso online, preparando-se intensamente para o exame do ano seguinte.

 

REPRODUÇÃO/ REDES SOCIAIS
Aluna de Pernambuco nota mil na redação do Enem 2024 - REPRODUÇÃO/ REDES SOCIAIS

Surpresa e motivação

A nota da redação também foi motivo de surpresa para Arthur Alexandre Braz, de 18 anos. Egresso de escola pública e aluno do curso de Linguagem e Redação oferecido pelo IJCPM (Instituto João Carlos Paes Mendonça de Compromisso Social), o jovem alcançou 980 pontos em sua produção textual.

Residente em uma comunidade no bairro do Pina, na Zona Sul do Recife, Arthur mora com a mãe e o irmão e alimenta o sonho de cursar Medicina. Em 2023, ele frequentou o Pré-Universitário do IJCPM e realizou o Enem pela primeira vez.

Apesar de conseguir nota suficiente para ingressar no curso de Nutrição da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), sua segunda opção, Arthur decidiu abrir mão da vaga para insistir no sonho de se tornar médico.

Em Pernambuco, 114 redações receberam notas entre 980 e 1.000, sendo 21 delas de estudantes da rede pública. Já entre as notas 950 e 980, houve um total de 1.928 redações, das quais 352 foram escritas por alunos da rede pública de ensino.

"Eu tinha uma rotina de estudos de cinco a seis horas por dia e fazia uma redação por mês. Para mim, a redação era algo mais tranquilo", contou Arthur Alexandre Braz à coluna Enem e Educação.

"Em 2023, participei do curso Pré-Universitário do IJCPM e tirei 900 na redação. No ano seguinte, fiz o curso de Linguagens e Redação para melhorar minha nota. Achei o tema deste ano muito bom, e o repertório que utilizei abordou as raízes preconceituosas que ainda são mantidas na sociedade", explicou.

Divulgação/IJCPM
Arthur Alexandre Braz, aluno do curso Pré-Universitário do IJCPM - Divulgação/IJCPM

Número reduzido de notas altas 

Apesar de o tema "Desafios para a valorização da herança africana no Brasil" ter sido considerado acessível por grande parte dos candidatos, o número de notas altas na redação nesta edição levanta outra reflexão.

A Lei nº 10.639/2003, que tornou obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira nos sistemas educacionais do país, completou 22 anos de vigência, mas ainda enfrenta dificuldades em sua aplicação prática. Esse cenário pode ter impactado os repertórios dos estudantes.

"Tanto nas redes pública quanto estadual, o que vemos é que as atividades relacionadas a esse tema são pontuais. Por exemplo, em novembro, durante o Mês da Consciência Negra, são realizadas várias atividades sobre o tema, mas, ao longo do ano, a questão não é trabalhada de forma contínua. Então de fato os alunos têm um repertório escasso", avaliou Karlla Dantas, coordenadora pedagógica do IJCPM.

A professora também observou que, embora a produção textual seja mais trabalhada no Ensino Médio com foco no Enem, deveria ser um processo contínuo desde o Ensino Fundamental. "Isso também pode ter contribuído para que muitos alunos enfrentassem dificuldades ao escrever uma boa redação no Enem", completou.

Para Karlla Dantas, é fundamental também desenvolver as habilidades socioemocionais dos alunos. Muitos demonstram um amplo conhecimento do tema e boa oratória, mas têm dificuldade em transferir isso para o texto escrito.

"Eles esbarram em diversos critérios que frequentemente os deixam desconfortáveis e inseguros, muitas vezes devido à baixa autoestima proveniente do contexto sociocultural em que vivem. Por isso, trabalhamos bastante no desenvolvimento dessas competências, principalmente nas mentorias, com o objetivo de fortalecer essas habilidades socioemocionais. Não é uma nota abaixo da média que vai apagar todas as outras habilidades deles", explicou a coordenadora.

 

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