Pichação no Parque das Esculturas é tapa na cara do recifense

Principal cartão-postal da cidade foi vandalizado
Felipe Vieira
Publicado em 19/04/2020 às 19:55
Pichação no Parque das Esculturas de Brennand. Foto: LEO MOTTA/ACERVO JC IMAGEM


O Recife levou um tapa na cara hoje. Daqueles doloridos.

O Parque de Esculturas de Francisco Brennand foi vandalizado com pichações enormes, intencionalmente feitas para serem "contempladas" por quem está no Marco Zero.

A simbologia é enorme e evidente. É como se, no Rio de Janeiro, vandalizassem o Cristo Redentor. Ou, em Salvador, o Elevador Lacerda. Já pensaram o Teatro Amazonas, em Manaus, coberto por pichações? Essa é a analogia.

Ninguém foi furtivo para escrever com aquele tamanho e aquela precisão. Tiveram muito tempo. Foram protegidos pelo abandono do mais emblemático cartão postal da cidade.

Não foi um crime menor, não é uma besteira. É uma estocada na alma do recifense. Um delito que tem que ser investigado e os culpados, punidos com o rigor que a lei prevê. Nada de apenas passar tinta por cima e deixar pra lá.

Tem que ser repudiado por quem ama a cidade, chamado em alto e bom som pelo que é: um crime.

O caos a que o Parque está entregue não é de hoje. Abandonado à própria sorte, já foi palco inclusive de um assassinato. Em setembro de 2018, o advogado Flávio Mendes Amorim, 47 anos, foi morto na frente da esposa e da sobrinha, após ter a bicicleta roubada por dois homens. Pedalava com as duas pelo local aproveitando a manhã de sol de um domingo. Não reagiu.

O caso da pichação do parque pode parecer menor, visto que vivemos atualmente em guerra. Por nossas vidas e pelas vidas dos nossos semelhantes. Somos testemunhas dos mortos e doentes diários. Do comprometimento dos profissionais de saúde que, sem a devida estrutura e equipamentos de proteção, arriscam as próprias vidas para tratar os enfermos.

Mas não podemos esquecer desse dia infame. O dia em que o Recife viu um símbolo de sua história e o testemunho de amor de um de seus filhos mais ilustres ser ultrajado.

Justiça para o Parque das Esculturas. E mais cuidado e vigilância com o que é seu, Recife.

 

RESPOSTAS

A resposta da Polícia Militar ao ocorrido é no melhor estilo "formulário-padrão". Leiam:

"A Polícia Militar de Pernambuco informa que o policiamento no bairro de Brasília Teimosa, onde se localiza o Parque das Esculturas, é realizado pelo 19º BPM, que em apoio à atuação da Prefeitura do Recife lança viaturas e motopatrulheiros que patrulham no local. Além de equipes do Grupo de Apoio Tático Itinerante (GATI) reforçam as rondas na região. O comandante da Unidade foi cientificado da denúncia e intensificará o policiamento no local."

Ok. Foi assim no dia seguinte à morte do advogado Flávio Amorim, quando PMs passavam de moto por dentro da torre de Brennand. "Intensificará o policiamento". Até ficar deficiente de novo e desaparecer.

A Emlurb também respondeu. Segue:

"A Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb), em conjunto com a Secretaria de Turismo, irá enviar uma equipe ao local nesta semana para averiguar o dano causado pela pichação e programar as ações mais adequadas para o reparo. A depredação e o vandalismo são um problema que a Prefeitura do Recife combate o ano inteiro. Somente para recuperar monumentos, pontes e edificações públicas que sofreram ações de pichação e vandalismo a Prefeitura chega a gastar aproximadamente R$ 2 milhões por ano. Por isso, a gestão municipal conta com o apoio da população na manutenção do bem público. Para denúncias e sugestões, a Emlurb disponibiliza o número 156".

É verdade que o vandalismo causa muitos prejuízos aos cofres públicos. Mas também é verdade que a situação do parque se arrasta há bons anos sem que o poder público tome conta do problema.

O caso aqui é de polícia. É investigar quem são os criminosos. Prender. Mostrar à sociedade que não se ataca o principal cartão postal da cidade e fica por isso mesmo. Ou será que fica? A conferir.

 

 

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