Por Fernando Castilho da Coluna JC Negócios
Dono de um negócio de R$ 50 bilhões em 2019, o setor de beleza resistiu à crise dos anos de 2015 e 2016, quando o PIB do Brasil caiu 3,8% e 3,6% respectivamente. Apostando na autoestima, foi à luta e não teve queda. Mas em 2020, a covid-19 produziu uma situação impensável em termos de receitas porque, entre as restrições do isolamento social, está o fechamento dos salões responsáveis por 46% de toda mão de obra empregada apenas com cabeleireiros.
Depois de um mês de confinamento, as mulheres perceberam que não podiam mais deixar expostas as mechas de cabelos brancos. Elas começaram a pressionar a indústria e o varejo por soluções de entrega de tinturas, xampus e esmaltes, de modo a melhorar o visual e o alto astral. E exigiram que o e-commerce e o delivery do setor se reinventassem para atender um mercado ávido de soluções domésticas devido ao isolamento.
A indústria e o varejo não estava preparados para isso, diz a empresária Marcelle Sultanum, da Rishon, que além de reorganizar a empresa em termos de pessoal, precisou transformar suas demonstradoras de loja em consultoras de beleza e, a seguir, em vendedoras no e-commerce e no delivery da loja virtual. Do outro lado, reforçou o site criando projetos de apoio a cabeleireiros para quem não percam os contatos com suas clientes. Não podemos deixar de dizer a mulher que ela pode ficar linha em casa, diz empresária.
Com lojas fechadas, empresas do varejo apostaram no caminho de marketplace de shoppings. A plataforma do Riomar Online, que já atende a dezenas de empresas, foi um caminho para o segmento de beleza, especialmente aquelas que não tinham canais de distribuição robustos no e-commerce. Após a pandemia, a plataforma RioMar Online percebeu um aumento de 20% na adesão de lojistas ao meio digital de vendas. E empresas de porte como a The Body Shop também apostaram na plataforma.
No Brasil, milhares de pequenas empresas que empregam 11% do pessoal ligado ao setor também foram à luta. “Nas primeiras semanas, ficamos paralisados. Mas em seguida vimos que realmente havia uma demanda reprimida e corremos para o delivery. Já estamos operando”, diz Marta Farias, da rede Bazar do Cabeleireiro.
Mariana Moraes, da rede Mundo do Cabeleireiro, também, não ficou parada. Com as lojas fechadas, ela começou a receber muita cobrança dos clientes nos canais virtuais. “Foi um desafio. Somos uma empresa em que cliente vai à loja. Quebramos a cabeça, reformatamos os sites e já habilitamos o delivery no Recife e em SP.” A empresa respira.
Comprar e retirar na loja. Vendas pelo WhatsApp e entrega através dos sites de aplicativos foi o caminho do varejo. “O Rappi virou nosso canal de distribuição!” brinca Mariana Moraes, que se lembra dos tempos em usava o aplicativo para comprar comida na empresa.
As empresárias pernambucanas sentiram que o jogo no e-commerce é pesado. “De uma hora para outra vimos que precisávamos colocar até cinco mil itens na loja virtual”, diz Marta Farias, confirmando desafio também enfrentado por Mariana Moraes que precisou robustecer a loja do site.
Marcelle Sultanum lembra que, mesmo empresas como a Rishon, ativa nas redes sociais, ainda não voltaram a reabastecer clientes. Raphael Cireno, da Hairflay, líder do segmento de tintura para cabelo no Estado, diz que enquanto o varejo não compra tintura, focou na produção de álcool gel para gerar faturamento.
“Os nossos clientes são lojas especializadas de cosméticos. Elas estão fechadas e a demanda da gente caiu. Migramos para álcool em gel que está respondendo por 70% de nossa produção. Continuamos fazendo produtos capilares e apostando no e-commerce, que aumentou um pouco nossas vendas”, diz Cireno.
O mercado de beleza é um negócio tão sedutor que apenas a feira Hairnor que se realiza no Recife, em agosto, leva 60 mil participantes. A Beauty Fair, 200 mil no Expo Center de São Paulo. A meca do setor, a Cosmoprof Bolonha (Espanha) 500 mil.
A covid-19 expos cabelos brancos, deixou homens barbudos e freou uma onda de salões masculinos que já ocupa parte das 15 feiras do setor. Transformou o Brasil no “faça você mesmo”. Mas é um arranjo.
Enquanto a cabeleira não reassume seu posto.
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