No final de 2006, quando surgiram especulações sobre a eventualidade de o empresário Jorge Gerdau Johannpeter virar ministro, o jornalista Clóvis Rossi, da Folha de São Paulo, escreveu um texto criticando o “minueto que Lula dança com Delfim Netto” na tentativa de dar um perfil mais de centro ao seu segundo governo.
Lula tinha sido reeleito e o ex-ministro dos tempos dos governos militares começou uma aproximação que ajudou Lula a conversar com outras forças políticas.
Delfim Netto aproveitou o termo e escreveu uma série de artigos onde disse que Lula tinha mesmo que “dançar o minueto” se quisesse avançar nas conquistas de seu primeiro governo inserindo-se no contexto internacional.
Lula, como se sabe, entendeu errado a recomendação e seguiu caminhos que nos levaram ao Escândalo da Petrobras. E Johannpeter só conseguiu ser membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do Governo Federal. Mas a frase serve para ilustrar a dança que Jari Bolsonaro terá que dançar para se reinserir no contexto internacional.
Minueto, como se sabe, é uma dança em compasso de 3/4, de origem francesa ou uma composição musical que integra suítes e sinfonias. Exige do participantes adequação e disciplina aos compassos.
A carta de ex-ministros da Fazenda e ex-presidentes do Banco Central (BC) defendendo uma retomada econômica atenta ao meio ambiente, cobrando desmatamento zero na Amazônia e no Cerrado quer dizer - por voz de gente de experiencia internacional - que Jair Bolsonaro terá sim que “dançar o minueto” que o mercado internacional exige.
Importa pouco o que pensam os ministros do Meio Ambiente, Ricardo Sales, e o da Relações Exteriores Ernesto Araújo que incendiaram a imagem do Brasil internacionalmente em menos de 12 meses.
Em algum momento, eles terão que ser descartados por já terem perdido prazo de validade. Não têm mais audiência (se algum dia tiveram) no cenário internacional e pronto!
O desafio agora é fazer com que o vice-presidente, Hamilton Mourão, diga a Jair Bolsonaro que, se ele quer ter a chance de continuar governando, vai ter que “dançar o minueto internacional.” E isso inclui passar a ideia de que o Brasil decidiu se reposicionar na questão ambiental.
Mas antes disso, Hamilton Mourão terá que convencer aos seus amigos de farda - com quem tem interlocução - de que é necessário dar um download nos conceitos geopolíticos que aprenderam nos cursos da Escola Superior de Guerra e da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME) sobre a posição estratégica da Amazônia para o Brasil.
Aqueles que ensinam que ali está um bem inalienável dado a sua importância estratégica para o protagonismo do Brasil na América do Sul.
O protagonismo, de fato, continua sendo estratégico para o protagonismo do Brasil no continente. Mas o discurso de defesa agora é outro.
Talvez mais importante que as cartas dos fundos internacionais, dos executivos de grandes empresas e do discurso do Emanuel Macron, fechando com os ambientalistas verdes franceses, vetando a aprovação do acordo do Mercosul com a União Europeia, seja esse documento dos ex-ministros da Fazenda e ex-presidentes do Banco Central (BC).
Porque muito mais do que todos os outros que pressionaram antes, essas pessoas têm os contatos internacionais. São para “eles” que os formadores de opinião internacional ligam.
No texto, eles dizem que “defendemos que critérios de redução das emissões e do estoque de gases de efeito estufa na atmosfera, e de resiliência aos impactos da mudança do clima sejam integrados à gestão da política econômica”.
Estão dizendo outra coisa: vocês não podem seguir com essa bobagem de justificar os seus atos insanos praticados até agora. Parem, mudem a atitude e provem que estão se reposicionando. Ninguém está interessado em suas explicações.
O que os bolsonaristas de raiz não perceberam (até pela visão tosca do mundo atual) é que ao se posicionar contra o ICMBio, Ibama e instituições sérias como o INPE, o governo passou a mensagem aos madeireiros, garimpeiros e grileiros que atuam na Amazônia de que agora eles estavam no poder.
Na ponta, ou melhor, dentro da mata, o grupo se sentiu encorajado a ampliar os negócios ilegais, os grileiros a incendiar terra e, a seguir, fazer pastagem para vender rápido sair da área antes que o Ibama chegue.
Talvez Bolsonaro não tivesse essa percepção. Mas essa foi sua mensagem a este segmento. Então, quando viu o estrago já estava feito.
O problema é que o presidente dúvida de informação oficial. Ele acha que tem como coletar dados mais confiáveis. Já disse isso, inclusive. Mas satélite não mente nem faz análise geopolítica. Mostra dados.
Então, depois de achar que, ano passado tinha dado uma resposta altiva ao mundo ensaiando um dobrado militar, o governo está vendo que o setor econômico não quer essa associação com grileiros, madeireiros e garimpeiros. Quer que ele dance um minueto verde.
O governo está numa situação crítica. O Brasil não é país que possa passar despercebido. Está no “Topo 10” da economia global. Ou se adequa ou sai do jogo. Aliás já saiu. O que se discute neste momento é como voltar.
No limite, o Bolsonaro deveria fazer era juntar sua tropa de organizar uma política ambiental séria e profissional.
Mas convenhamos, talvez seja esperar demais. No fundo o presidente olha para a Amazônia e acha que aquilo ali está cheio de comunistas. Aí fica mais difícil a tarefa de Hamilton Mourão.