Por Fernando Castilho da Coluna JC Negócios
Das 438 empresas com ações da Bolsa de Valores do Brasil (B3), apenas 15 tem sede no Nordeste. A última delas foi o Grupo Mateus, com sede no Maranhão, que estreou no novo mercado na semana passada.
Antes, haviam sido feitos ofertas iniciais de ações (IPO na sigla em inglês), das empresas Moura Dubeux e Pague Menos, este ano; da Hapvida, em 2018 e o Grupo Ser Educacional, em 2013.
O número é pequeno porque, pela própria característica das empresas do Nordeste, a ideia de ter suas ações negociadas em bolsa nunca foi uma prioridade. A cultura regional é, essencialmente, crescer de forma orgânica e com algum endividamento bancário.
Mesmo o lançamento de debentures, conversíveis ou não em ações, não é um modelo muito usado pela companhia regionais. As empresas preferem os empréstimos, os financiamentos através do sistema de incentivos fiscais através da Sudene e linha especiais para a Região.
O outro problema é o acesso aos bancos privados que elas, como a maioria das companhias no Brasil, recorrem muito pouco se comparado a outros países.
Mas isso não quer dizer que não existam empresas nordestinas que não mirem a Bolsa. É um projeto que só começa a ficar no radar do empresário quando ele pensa em acelerar o crescimento, mas nunca é um projeto de partida de uma companhia recém criada.
E mesmo as empresas de TI do Porto Digital, nunca fizeram um IPO. Elas seguem o caminho de procurar investidores para deixar a condição de startups para crescerem e quase sempre ficam com fundos de venture capital como seus acionistas.
Das 15 empresas nordestinas listadas, as do setor de distribuição de energia - que são as mais antigas decorrência dos tempos quando eram estatais - embora hoje estejam com o setor privado. Celpe, Coelba Cosern e usina térmica a gás (Termopernambuco) pertencem ao Grupo Iberdrola. Assim como a Coelce hoje pertencente ao grupo Enel.
Outras duas empresas baianas têm tradição na B3 por virem de segmentos que já tinham ações negociadas quando os estados tinham suas bolsas estaduais. A Cia. Ferro Ligas da Bahia – FERBASA e a Cia Seguros Aliança da Bahia S.A. Elas estão listadas desde há décadas e vem de longa trajetória de empresas de capital aberto.
Entretanto uma das empresas do Nordeste com ações em bolsa é a mais emblemática. A Guararapes Confecções S.A, que nasceu no Recife e hoje tem sede em Natal, no Rio Grande do Norte. Ela é controlada pela família liderada hoje pelo empresário Flávio Rocha e Elvio Lisiane filhos do fundador da companhia Nevaldo Rocha falecido em junho deste ano.
Juntos eles têm ações que somam R$ 7,44 bilhões. Em 2018, a Guararapes converteu todas as suas ações preferenciais em ações ordinárias (GUAR3), papeis que são negociados na B3.
A Guararapes controla a rede de lojas de varejo Riachuelo que é considerada a marca mais admirada do setor de modas. Mas ela nasceu como empresa dentro do sistema incentivos fiscais da Sudene, através do Finor, e foi crescendo com a implantação de novas unidades. A entrada na bolsa em 1976 foi quase uma decorrência do seu crescimento. Hoje ela tem 10 plantas industrias e a rede Riachuelo tem mais de 300 lojas.
A outra empresa com grande tradição na B3 é a M. Dias Branco S.A. que, assim como a Guararapes entrou na Bolsa de Valores de São Paulo pelas mãos de seu fundador Ivens Dias Branco que morreu em 2016 aos 81 anos em São Paulo. A companhia tem Temos 15 unidades industriais e diversas unidades comerciais distribuídas em várias cidades brasileiras.
O M. Dias Branco tem sede em Fortaleza (CE) é hoje um conjunto de plantas em vários estados, entre elas, a marca Vitarella líder nacional no segmento de bolachas cream cracker cuja planta fica em Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco. A M. Dias Branco Alimentos tem ações negociadas em bolsa deste 2000.
Mas a partir 2013, os nordestinos começaram voltar a se interessar pela Bovespa. A primeira delas foi o Grupo Ser Educacional. A empresa fundada e liderada pelo empresário Janguiê Diniz aproveitou o mercado de ensino superior criado nos anos 2000 e turbinada no governo Lula que através do Programa Fies fez a Ser Educacional catapultar seu faturamento.
Janguiê estreou na bolsa em 24 de outubro de 2013 e captou R$ 620 milhões, mas reinvestiu fortemente na sua companhia quando na crise o Governo Dilma, em 2016, cortou os financiamentos públicos aos estudante.
O Ser Educacional tem hoje mais de 180 mil alunos e se consolidou como a maior rede no Norte e Nordeste. A partir de 2015, o grupo chegou à região Sudeste com a aquisição da Universidade de Guarulhos.
A empresa sobreviveu à crise e continuou a crescer organicamente adquirindo novas empresas nos últimos anos. Este ano está tentando seu maior projeto: a aquisição da operação da Laureate no Brasil para quem ofereceu R$ 3,8 bilhões iniciando uma disputa com as empresas
Recentemente, duas novas empresas do Ceará a Hapvida Participação E Investimentos. Ela controla o plano de Saúde Hapvida e pertence aos empresários Candido Pinheiro Koren de Limave e seus filhos Jorge Fontoura e Candido Júnior. O Hapvida é um case de sucesso no Nordeste hoje com abrangência nacional. O Hapvida estreou na B3 no dia 25 de abril de 2018.
Depois do Ser Educacional a outra empresa de Pernambuco a entrar na B3 foi a Moura Dubeux Engenharia S.A., A MD é um caso bem interessante de crescimento orgânico a partir de uma empresa de pequeno porte que se especializou num novo formato de empreendimento, o condomínio imobiliário que os irmãos Marcos, Aloisio e Gustavo Duebux aperfeiçoaram e conquistaram o mercado.
Em 13 de fevereiro último, eles estrearam na B3 com uma operação que transformou suas dividas com grandes banco em ações permitindo a companhia ter um novo folego e se projetar como a maior imobiliária do Nordeste estando sozinha num mercado crescente onde nenhuma companhia do setor listada em bolsa tem operações.
A empresa fundada em 1983 pelos irmãos Aluísio, Gustavo e Marcos Moura Dubeux no Recife, a incorporadora Moura Dubeux detém um completo e variado portfólio de empreendimentos, que vão de imóveis econômicos até hotéis e unidades de alto padrão, localizados nos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte.
A outra empresa nordestina, também com sede do Ceará é a Empreendimentos Pague Menos S.A. liderada pelo empresário Deusmar Francisco de Queiroz. Deusmar é um caso típico de um varejista de medicamentos que se diferenciou num mercado hoje dominando por gigantes através de fundos de investimentos com sucesso extraordinários e quebras espetaculares como o caso da Big Bem do Pará que quebrou depois de perder mercado.
Deusmar construiu a marca Pague Menos a partir de Fortaleza e hoje tem a incrível marca de estar presente em todos os estados do Brasil embora sua força continue no Nordeste onde lidera o setor. As Farmácias Pague Menos estrearam no dia 02 de setembro já no formato de live devido à convid-19. A presidente da emprea é Patriciana de Queirós, filha do fundador da Pague Menos, Deusmar Queiróz
Finalmente, o Grupo Mateus S.A. que estreou em formato de live, atendendo às medidas de distanciamento social devido à covid-19. O Grupo Mateus, liderada pelo ex-garimpeiro, Ilson Mateus passa a ser a 156ª empresa listada no Novo Mercado, segmento com os mais elevados padrões de governança corporativa e a 15 do Nordeste.
Mateus é dono de um império varejista e de uma fortuna estimada em R$ 20 bilhões. Ele tem 57 anos começou a carreira ainda na adolescência, tentando a sorte como garimpeiro em Serra Pelada (PA), nos anos 1970 e só em 1986, abriu sua primeira mercearia. O seu grupo tem 137 lojas físicas, presentes em mais de 50 cidades no Pará, Maranhão e Piauí.