Por Leonardo Spinelli, para a coluna JC Negócios
O projeto de autonomia do Banco Central, aprovado no Senado, foi bem recebido pelo mercado porque deve contribuir para reduzir a volatilidade macroeconômica no Brasil.
Foram 56 votos a favor contra 12, para uma matéria que sempre despertou paixões acirradas no Brasil e ajudou a difamar a então candidata Marina Silva, em 2014, por defender a autonomia em seu plano de governo. Uma maior interferência política nos juros após o pleito pipocou a inflação no governo Dilma e ajudou, ironicamente, no seu impeachment.
Com o presidente do BC cumprindo um mandato que não coincide com o mandato presidencial, a leitura é de que ficará mais fácil manter a estabilidade da moeda, ou seja, o controle inflacionário. Na prática há uma melhor distribuição de poder.Perde o príncipe de plantão, que deixa de ter concentrado o poder político e também o poder sobre a moeda. Com isso, o Brasil se iguala, ainda que com décadas de atraso, às maiores economias do mundo. Um passo importante para melhoria do ambiente interno e de atração de investidores.
O texto da autonomia do BC deverá ser votado apenas em 2021 na Câmara. O que saiu do Senado dá um mandato duplo, além da inflação, o BC também vai perseguir taxas de pleno emprego.
“É uma notícia boa. Eu acho que o BC tem que ter de ter mandato. Tem que bloquear a política monetária de interferência política e o presidente do BC tem que ser sabatinado no Senado”, avalia o economista Jorge Jatobá.
“A política monetária tem que ser blindada e na maior parte dos países desenvolvidos tem isso. Independente de ser governo Bolsonaro, a medida em si é importante”, avaliou.
Jatobá acha difícil Jair Bolsonaro interferir no projeto, que na prática tira do presidente o poder sobre a moeda brasileira. “Isso é o plano de Paulo Guedes”, diz o economista. “É uma medida de Estado, não é de governo.”
Para Jatobá, o tema sempre despertou polêmica no Brasil porque pouca gente entende e sempre foi divulgada a história de que dar autonomia ao Banco Central era deixar a “raposa tomando conta do galinheiro”. “Esse foi um assunto politizado com informações falsas e desvirtuamento. É uma medida bem-vinda, mas que chegou tarde”, avalia.
"É uma notícia positiva do ponto de vista estrutural, de melhora no ambiente, mas pouco faz preço no dia a dia", disse o estrategista de Mercados da Harrison Investimentos, Renan Sujii em entrevista à Agência Estado.
“A independência do BC dá certa tranquilidade”, diz o sócio da Multinvest Capital, Osvaldo Moraes, pois evita que o presidente demita o dirigente do BC caso não goste de um aumento da taxa de juros, por exemplo.
“É como técnico de um time. Se o presidente do clube começa a escalar , atrapalha”, compara, admitindo, porém que nos últimos anos o Banco Central sempre funcionou independente. “Dilma bagunçou no final, mas vinha sempre independente. É mais uma questão de formalidade e de fundamento para o investidor estrangeiro se sentir seguro em investir no País. É positivo”, disse.