Por Fernando Castilho, da Coluna JC Negócios, do Jornal do Commercio
Assim como na Geometria comum é errado dizer que duas linhas paralelas se encontram no infinito, na política, quando se erra na partida não dá para juntar lá na frente. É feito forquilha de árvore. No máximo, dá para fazer estilingue.
A imagem serve para ilustrar o novo equívoco do governo Bolsonaro quando tenta comprar 2 milhões de vacina na Índia, na carreira, numa tentativa “meia boca” de obter as doses prontas e criar um factoide político. Mais um a entrar na lista nessa colossal série de erros do Brasil ao enfrentar a covid-19.
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O governo Bolsonaro errou na partida. Não percebeu a dimensão da pandemia. E o presidente, mesmo o então ministro Henrique Mandetta tendo, literalmente, desenhado para ele do que se tratava, não entendeu nada.
A partir daí começou a série de bobagens recheadas de visões políticas equivocadas. Deu no que deu, mas essa não é a questão de que se trata aqui.
A questão é que parece claro que Bolsonaro mandou o governo arranjar uma vacina para competir com a vacina que João Doria tinha anunciado. Fosse mais esperto, diria que ficava com as vacinas, já que no Brasil quem distribui vacina à população é o Ministério da Saúde.
Mas ele caiu na armadilha do governador de São Paulo e começou a brigar a partir da escolha da AstraZeneca. Tinha certeza que a inglesa chegaria primeiro e ele, embora não gostando de vacinas, sairia na frente.
Mas a aposta deu errado. A vacina da AstraZeneca teve problemas e o tempo foi passando sem que a inglesa tivesse seu imunizante. E quando você parte errado não tem como corrigir. Então, Bolsonaro começou a botar gosto ruim em tudo que era vacina.
O ministro da Saúde, general Pazuello se encarregou da tarefa. Ele vem dando informações insuficientes, para dizer o mínimo, Mas já não faz mais sentido falar da incompetência dele para gerir a crise.
Enquanto isso, a Coronavac foi sendo produzida e enviada ao Brasil. Hoje, Doria tem sob sua guarda 11,5 milhões de vacina prontas e estocadas. O Laboratório Farmacêutico Federal Farmanguinhos, o laboratório oficial do Ministério da Saúde., que estará produzindo vacinas da AstraZeneca, ainda não mandou uma dose sequer para o Brasil.
Isso mostra a diferença de atitude dos chineses e os ingleses. A Sinovac, com as suas informações, começou a produzir as vacinas em regime de 7x24. Os ingleses ficaram esperando e ainda não mandaram o insumo ao Brasil. Se tudo correr bem, chegam em fevereiro.
Mas chegou o ano de 2021 e Bolsonaro viu que não teria outro jeito senão comprar as vacinas de Doria, já que não tinha uma vacina para chamar de sua.
Isso explica a decisão de mandar a Fiocruz comprar 2 milhões de doses entre o Natal e Ano Novo.
O problema é que parece claro que a Índia não está a fim de liberar vacina. Quem tem que mandar vacina para o Brasil é a Inglaterra a partir de suas plantas em Londres e na China. Até antes do Natal ninguém na Fiocruz nem na Índia tinha falado em mandar vacina pronta para o Brasil.
Mesmo sendo 2 milhões é complicado. Imagina a pressão que o primeiro-ministro Narendra Mobi internamente?
Além disso, não se sabe se o laboratório indiano tem mesmo 2 milhões de vacinas prontas.
Na verdade, a ideia de Bolsonaro não é começar a vacinação para valer feito Israel. O que o governo brasileiro quer é criar um factoide e dizer que o Brasil está vacinando. Isso está acontecendo em vários países onde os governos anunciam a vacinação, ela até começa mais fica ali em poucas pessoas.
A verdade é que Bolsonaro é que ele errou na partida e tudo indica que, a menos que a Anvisa barre a autorização a Coronac, João Doria vai faturar. Até mesmo se o ministério da Saúde decidir comprar a vacina, Doria ganha.
O fato é que Doria diz que vacina a partir do dia 25, ou seja, daqui a 20 dias. Na prática, Bolsonaro tem 20 dias para arranjar uma vacina para chamar de sua.
Resta saber se Narendra Mobi vai atender a Bolsonaro que esteve lá ano passado. Vai ver que o indiano decide dar uma força ao capitão?