Por Fernando Castilho da Coluna Jc Negócios do Jornal do Commercio
No meio da confusão do ministério da Saúde na questão do plano de aplicação vacina contra a covid-19, dezenas de prefeitos estão anunciado a formalização de protocolos para a compra direta do imunizante, produzido pelo Instituto Butantã, com a chancela do governo do São Paulo.
É uma providência interessante do ponto de vista de inserção dos novos prefeitos nas suas redes sociais, embora as chances de que algum deles possa assumir a aplicação de vacinas pela inércia do governo federal até agora sejam próximas de zero.
Isso não quer dizer que os prefeitos do Recife, Petrolina e Carnaíba não possam ter os seus pedidos atendidos pelo presidente do Butantã, Dimas Covas, que tem uma lista de mais de 180 cidades com a mesma demanda. Mas sejamos sensatos: Como isso poderia acontecer?
Para começo de conversa e ainda bem que nos seus comunicados os prefeitos façam a ressalva de que, "se" o MS não for capaz de proceder a vacinação, as suas cidades estarão dispostas a tomar para sim a tarefa.
É importante observar que a vacina do Butantã custa caro, exigirá disponibilidade de oferta e, na lista de prioridades do Ministério da Saúde, a prefeitura está no fim da fila. O contrato entre o governo de São Paulo e o laboratório chinês SinoVac tem um custo de 90 milhões de dólares. Cada uma custa 10 dólares (R$ 54,00).
Difícil imaginar que mesmo com as estultices de Eduardo Pazuello o MS abra mão de não liderar o processo.
Aliás, ele já disse as 100 milhões de vacinas do Butantã, assim como as 100 milhões da Fiocruz, estarão sob a guarda federal no ministério da Saúde que, na verdade, é quem vai pagar a conta.
Mas ainda assim se, num gesto de rebelião, fosse possível comprar as vacinas do Butantã? Ora, os estados como entes subnacionais seriam a primeira opção dessa linha de ação. Até porque eles teriam que bancar a compra e distribuí-las igualitariamente.
Imagina o Governado Paulo Câmara comprando um lote de 2,8 milhões de vacinas da Sinovac e distribuindo somente no Recife, em Petrolina e em Carnaíba porque João Campos, Miguel Coelho e Anchieta Patriota se dispuseram a comprá-las? Alguém acha que os demais 181 municípios ficariam calados?
Tem mais: alguém pode imaginar o que aconteceria se o ministério da Saúde não fazendo sua parte, o governo de Pernambuco também não fazendo a sua parte e essas três cidades decidindo começar a vacinação sozinhas? Teriam condições de aplicar vacinas apenas os munícipes registrados na suas secretarias de saúde?
Segundo o Butantã, 913 dos 5.568 municípios brasileiros anunciaram a intenção de compras das vacinas. E pelo que pediram a demanda já soma mais de 200 milhões de doses.
O Instituto Butantã que vai produzir as vacinas tem tradição no setor. Mas ele só tem um cliente: o ministério da Saúde. Faz vacina para os programas nacionais do Brasil. Alguém já viu uma Nota Fiscal do Butantã para prefeitura?
Então, é importante que o gesto das prefeituras seja compreendido mais como uma forma de pressão junto ao Governo Federal do que a possibilidade de chegar na ponta de uma campanha desse porte.
Embora isso ajude ao governo do São Paulo que assumiu a compra das vacinas na esperança de repassar a fatura para a União. Vale mesmo como gesto político.
Então, talvez seja mais interessante para os três prefeitos de Pernambuco, e os outros 910 espalhados pelo Brasil, seguirem o gesto de Eduardo Paes, do Rio de Janeiro, que se apressou em comunicar o obvio: Como o governo federal anunciou que vai comprar todo o estoque do Butantã não faz mais sentido se falar em compra direta.
A questão central da ConoraVac hoje é como entregar a Anvisa todos os documentos para se ela aprove o uso de 6 milhões de doses prontas para serem enviadas aos 26 estados e mais o Distrito Federal de modo que, ainda em janeiro, elas possam ser aplicadas junto com as outras 2 milhões que a Farmanguinhos vai receber direto da Índia.
Se até a próxima semana pudermos contar com 8 milhões de vacinas terá sido um avanço enorme no meio dessa barafunda que a questão se tornou por absoluta incompetência do governo.
É verdade que isso que acabou, como se viu, criando um excelente oportunidade para os prefeitos usaram posts nas suas redes sociais e prometer "veementemente" o nunca terão chance de cumprir.
Mas e daí? Ninguém recusar um click de GOSTEI numa rede social.