Há uma certa ingenuidade dos analistas da cena política em achar que, em algum momento, um governo como o de Jair Bolsonaro pensa na Petrobras como uma empresa estratégica para o País.
>> Bolsonaro indica general Joaquim Silva e Luna para assumir presidência da Petrobras
Não pensa nisso. Nunca pensou. Nem mesmo no governo Lula, quando ela decidiu apostar em tudo quando era negócio próximo de energia ou derivado de petróleo que aparecesse na porta da companhia.
Para muita gente dentro do governo, a Petrobras é para fazer o que Bolsonaro fez porque não está interessado na rentabilidade da companhia, nos seus dividendos e no seu papel estratégico. Porque o governo do Brasil, como acionista controlador da companhia, não tem interesse em vender nenhuma ação da empresa.
Isso leva a um outro comportamento meio estranho como investidor.
Certo, por achar que a ação vai sempre render um bom dividendo no longo prazo e, portanto, não haveria nenhuma razão para se preocupar com o curto prazo quando ela cai. E errado porque, exatamente, por não haver nenhuma chance de vender as ações, acreditar que o prejuízo, no curto prazo, será compensado de alguma forma no longo prazo.
Pode parecer meio insano esse tipo de raciocínio, mas Bolsonaro faz uma pergunta simplória e lógica: Eu vou vender essas ações aí do governo amanhã? Não! Então tanto faz perder valor de mercado hoje ou até segunda-feira. Dando prejuízo ou lucro, elas vão continuar com o Estado brasileiro? Então, está tudo certo. Responderia o presidente.
Isso pode ser interessante para os objetivos de um governo como o atual. Como também foi para o governo Dilma que usou a Petrobras para tentar influir na alta da inflação. A diferença de Bolsonaro para Dilma é que ele acredita que pode mexer na política de preços. Ou seja, uma coisa bem menor em termos estratégicos.
É claro que isso é uma estultice do ponto de vista do mercado. Onde já se viu um investidor atacar sua empresa porque pode aguentar prejuízos. Por que não ter intenção de vender suas ações? Mas do ponto de vista da lógica rasa de Bolsonaro, importa pouco se a Petrobras tem prejuízo hoje, se seu valor de mercado no Brasil cai num dia, R$ 28 bilhões. Ele não tem a menor ideia do que seja isso e nem quer saber.
Esse é o problema de um governo que não sabe se é liberal como diz no público, mas que é estatista até a medula como se confessa em privado. A única instituição que achou que era liberal foi o próprio mercado, em algum momento.
Repito. Pode parecer, e de fato é, absurdo. Mas tem muita gente no governo que tem certeza de que a Petrobras é igual a Caixa Econômica que é uma empresa 100% estatal. Que sua função é ajudar o governo. Se ela tiver lucro ótimo. Se der prejuízo, não tem muita importância já que o governo não vai vender nenhuma ação mesmo.
É isso que torna ingênua a avaliação que parta do princípio de que a rentabilidade da companhia deve ser o norte do governo. Não é. E muito menos num governo como esse.
Bolsonaro não está preocupado com a cotação das ações da empresa na NYSE ou na B3, não considera importante sua gestão ou a qualidade do seu Conselho de Administração. Ele quer que a Petrobras encontre um jeito de não subir mais os preços. Isso é o que interessa porque nas rede sociais seus apoiadores reclamam da autonomia do presidente da companhia.
Importa pouco se o novo presidente é o general Joaquim Silva e Luna que foi mandando para Itaipu cumprir tarefa ou alguém que ele encontre para o cargo. Silva Luna não está indo para a empresa pelas suas qualidades de gestor. Vai cumprir uma missão.
Por isso é que muita gente não compra Petrobras. Ela ate paga bons dividendos, mas que de vez em quando, cai de um jeito que anula todo o ganho. Não dá para confiar num sócio que por não tem interesse de vender suas ações acha que a empresa aguenta desaforo.
Não aguenta, mas nesse briga só quem perde o acionista minoritário.