Funcionou. Uma articulação dos governadores ameaçando comprar diretamente vacinas da Rússia, combinada com a aprovação de duas novas leis que permitiriam a facilitação das compras, provocou, em menos de 24 horas, um posicionamento mais firme do Ministério da Saúde, que anunciou, na noite desta quarta-feira (3), a compra (com dispensa de licitação) de R$ 139 milhões de vacinas contra covid-10 das farmacêuticas americanas Pfizer (R$ 99 milhões) e Janssen (R$ 38 milhões).
O ministro Eduardo Pazuello disse que pediu para a sua equipe "acelerar" os contratos numa reunião com a Confederação Nacional dos Municípios (CNM). Há seis meses, o seu ministério não tomava nenhuma atitude.
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Não vai adiantar muito porque, no caso da Pfizer, o Brasil não perdeu o lugar na fila de clientes. O Brasil saiu da fila depois que o ministro e boa parte dos ministros do governo no Palácio do Planalto se enrolaram na bandeira brasileira e disseram que o contrato da empresa era uma questão de segurança nacional.
No caso da Janssen, a situação foi mais simples porque o Ministério da Saúde nem chegou a conversar. E só mais recentemente foi que o ministério se sentou na mesa para ler a minuta do contrato. O governo brasileiro também tem na gaveta uma proposta da Moderna, que aguarda o posicionamento.
A notícia desta quarta-feira – é importante ficar claro – não garante nenhuma vacina antes da festa de Nossa Senhora do Carmo aqui em Pernambuco, por exemplo. Com um pouco de sorte, poderemos pensar numa vacinação no dia de São João.
O que nós podemos contar é com as vacinas da AstraZeneca feita pela Fiocruz e a Coronavac feita pelo Butantã. Isso quer dizer que não vamos ter vacina para acelerar a vacinação.
A pressão dos governadores, então, ajudou nesse sentido. Fazer o governo (isso não quer dizer o presidente Jair Bolsonaro) agir para não ser superado por uma ação dos governadores comprando as vacinas. Mudou o discurso em 24 horas embora isso não ajude muito diante de um quadro de 1.800 mortos por dia e crescendo.
O problema dos governadores é conseguir gerenciar o caos que vão ter daqui para frente diante de uma situação dramática, que começa a ficar mais difícil. E sem ter muita ferramenta como pessoal, equipamentos e leitos de hospital.
O problema é fazer isso com um presidente dizendo que a imprensa está criando “pânico” na população e se queixando de medidas de restrição e lockdown adotadas para conter a disseminação do vírus.
Ou mandar uma comitiva com dez integrantes do governo embarcará no próximo sábado à noite para Israel, para tratar da adesão aos testes de um medicamento em spray (EXO-CD24), usado para tratar pacientes com covid-19. A comitiva deve ser recebida pelo primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.