O diretor técnico da Hemobrás, Antônio Edson de Lucena, estranhou a informação divulgada nesta sexta-feira (26) pelo vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, que anunciou a criação de uma rede para o tratamento de pacientes com covid-19 por meio da transfusão do plasma de convalescente.
Lucena disse que esse tipo de iniciativa é função da Hemobrás, que já está tratando disso há bastante tempo. "Eu não conheço essa iniciativa, mas hoje a prerrogativa de gerir o plasma em todo o Brasil é da Hemobrás".
A Hemobrás inclusive já contratou um parceiro para participar do co-desenvolvimento da "Imunoglobulina anticovid", que será distribuída ao Sistema Único de Saúde (SUS) pela Hemobrás. "Não é nem plasma, é um derivado mais avançado que será lançado em breve", explicou.
O presidente do Butantan, Dimas Covas, disse pela manhã, em São Paulo, que até o momento não há terapia específica contra a covid-19 e que e o tratamento com o plasma tem trazido bons resultados.
"O objetivo do plasma é transferir ao paciente anticorpos de maneira passiva, até que o organismo afetado tenha tempo de reagir e montar a sua resposta imune", disse.
Lucena, porém, disse que a Hemobrás já está vendo o tempo necessário para ensaios clínicos, porque vai entrar em parceria com empresa Suíça, a Octapharma. "Então, o que posso dizer é que Butantan não pode fazer isso. Essa é uma prerrogativa da Hemobrás a partir da portaria 17 de 10 de julho de 2020. Eu não sei por que eles estão se aventurando nisso".
Segundo o presidente do Butantan, as exigências para doar plasma são equivalentes às da doação de sangue: ter boas condições de saúde, entre 16 e 69 anos, pesar no mínimo 50 quilos, evitar alimentação gordurosa antes da doação e apresentar documento com foto. Para eficácia, é fundamental que o doador já tenha sido contaminado pelo menos 30 dias antes da doação.
Segundo Covas a nova estrutura que está sendo montada, sob o chapéu do Instituto Butantan, deverá garantir a logística necessária para coletar, distribuir e usa o plasma nos serviços de saúde de todo o estado.
Os pilotos do projeto serão implantados, inicialmente, nas cidades de Santos, no litoral, e Araraquara, no interior paulista. A rede tem colaboração de cinco grandes hemocentros: Hemo, Fundação Pró-Sangue e Colsan, em São Paulo; Hemocentro da Unicamp, em Campinas; e Hemocentro de Ribeirão Preto.