Durou apenas duas semanas. O Comitê de Coordenação Nacional para Enfrentamento da Pandemia da Covid-19 criado por decreto (decreto nº 10.659) que deveria estabelecer a discussão das medidas a serem tomadas e o auxílio na articulação interpoderes e interfederativa acabou nesta quarta-feira, em Chapecó.
Lá, o presidente fez uma de suas mais enfáticas falas em defesa do uso de medicamentos sem eficácia cientificamente comprovada, como a hidroxicloroquina, no tratamento da covid-19. Ele estava ao lado do ministro da Saúde.
O presidente disse que não teme o "isolamento mundial" em relação à postura adotada frente à pandemia do coronavírus, reforçando que não dá importância para eventuais danos à sua "biografia".
O posicionamento não enganou a ninguém. Muito menos aos presidentes do STF, Luiz Fux, da Câmara Federal, Artur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, que estão no grupo.
O Comitê de Coordenação é composto pelo Presidente da República, que o coordenará; pelos presidentes do Senado Federal; da Câmara dos Deputados e, na condição de observador, por autoridade designada pelo presidente do Conselho Nacional de Justiça. A Secretaria-Executiva do Comitê será exercida pelo Ministério da Saúde.
Bolsonaro já tinha demonstrado que não mudara nada em relação à Covid-19. Quando esteve na primeira reunião, na última quarta-feira (31), fez um pronunciamento no qual voltou a criticar medidas de distanciamento social. Bolsonaro divergiu do próprio ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).
Nesta quarta-feira, ele se encarregou de tornar sem justificativa as próximas reuniões. Em Santa Catarina, na manhã de hoje voltou a reafirmar suas posições.
O prefeito de Chapecó, João Rodrigues (PSD), que administra uma cidade que vive o problema de ter 100% de suas UTIs ocupadas, defendeu o tratamento ao qual foi submetido quando contraiu a doença, dizendo que não iria dizer o nome do medicamento que tomou, mas que se curou em 24 horas.
Bolsonaro também disse que no que depender dele, não haverá "lockdown nacional'. O presidente foi a Chapecó depois que o João Rodrigues (PSD) distorceu uma série de informações médicas, reproduzidas por Bolsonaro nas suas redes sociais.
No domingo, o prefeito postou um vídeo de uma clínica que ele criou para tratamento de covid-19, e que se tornou inócua porque não tem atendimento para casos graves. E como os casos graves cresceram ninguém está indo ao tão centro.
O problema é que a visita a Chapecó com o presidente afirmando que o isolamento social prejudica a economia - ele voltou a criticar medidas de governadores que adotaram restrição da circulação de pessoas - torna o comitê sem qualquer relevância, pois o principal integrante dele não está disposto a seguir nenhuma das orientações.
Desta forma, a presença dos presidentes da Câmara e do Senado deixam de fazer sentido; como aliás já era esperado, pois, nenhuma autoridade sanitária concorda com o posicionamento do presidente.