Numa conferência para executivos do Fundo Monetário Internacional (FMI), o ministro da economia, Paulo Guedes, disse que a prioridade do governo é o combate à pandemia, e a vacinação em massa. Nesta terça-feira (14), ele repetiu promessa a possíveis investidores que participaram do evento promovido pelo Bank of América.
Guedes previu aceleração forte no ritmo de vacinação e imunização de parte importante da população em "três a quatro meses".
O que o ministro afirma, em termos práticos, é que em agosto todos os grupos prioritários de brasileiros estarão vacinados e o País entrará na fase de vacinação dos que têm menos de 40 anos.
O ministro sonha acordado. Aliás, ele vem sonhado há muito tempo. Especialmente depois que percebeu que a melhor política econômica no Brasil é vacinar a população.
A melhora arma contra a covid-19 é, de fato, a vacina. Mas ninguém pode achar que apenas vacinando e sem um conjunto de medidas básicas como o uso obrigatório das máscaras, distanciamento, proibição de aglomeração e atendimento médico eficiente podemos sair da situação crítica em que nos metemos.
O ministro sabe que não teremos as vacinas suficientes para vacinar 100 milhões de brasileiros até julho. E que dificilmente teremos outra vacina além da CoronaVac e AstraZeneca. No máximo, um pouco das doses do Consórcio Covax da OMS - que optamos por comprar menos - e, talvez, a Sputnik V e a Covaxin - se a empresa indiana provar que tem boas práticas (o que, segundo a Anvisa, não tem).
Ainda assim, temos que considerar que se conseguirmos vacinar 100 milhões até julho, nada garante que o nível de contaminação se reduzirá drasticamente ao ponto de permitir a volta das atividades e retomar a tração da economia.
O ministro acredita numa quimera. Ou, ao menos, professa uma crença que ele como ministro não ajudou a se tornar realidade.
Desde o começo da pandemia, à sua maneira, o ministro e sua equipe resistiram a analisar do ponto de vista econômico os impactos da covid-19 na economia brasileira.
O maior exemplo foi a surpresa na aprovação do auxílio emergência que saiu do seu Ministério em R$ 200 e voltou em R$ 600.
Depois, porque foi mais a ação firme do Banco Central de ajuda (e não exatamente para as empresas) que permitiu que uma parte delas sobrevivesse.
E podemos observar que os programas de apoio como o BEm e o Pronampe levaram meses para serem desenhados e materializados. O ministério da Economia reagiu de forma catatônica ao impacto da crise.
E o ministro só a partir deste ano começou a falar em vacinação. Talvez porque não tivesse mesmo a dimensão do impacto dela na recuperação da economia.
O problema é que ele mais uma vez dimensiona mal o impacto da vacinação. Não basta apenas só o discurso, e apenas a vacinação não será suficiente para tracionar a economia.
Ele não pode deixar de incluir nessa conta de problemas o posicionamento do presidente Jair Bolsonaro - que tem revelado uma extraordinária capacidade de tumultuar os esforços de toda a sociedade.
Guedes sabe melhor que todos os seus interlocutores que não existe economia rodando com uma pandemia que mata mais de 4 mil pessoas por dia. E que sem que isso caia para menos de 400, ele não pode se dar ao luxo de pensar em retomada da economia ao nível pré-crise.
Mas o ministro sabe que está incluído no seu contracheque a missão de animar a economia. O problema é que ele exagera. E quando faz isso desacredita a si, sua equipe e ao Governo.
Mas ele acredita que está servindo ao Brasil. Como Pazuello acreditava e como Bolsonaro acredita.