A tradição da família Coelho em apoiar o governo é uma marca do clã fundado pelo “coronel” Clementino Coelho no século passado. Os Coelhos cresceram como grupo empresarial com recursos do Sistema Finor em vários negócios, mas o seu foco de atuação sempre foi o Sertão do São Francisco.
É importante fazer o registro histórico, do ponto de vista político, nenhum grupo fez mais pela região do chamada submédio São Francisco. Mas não foi feito sem um controle absoluto do que acontece na política e na economia. Nenhuma instituição foi mais aparelhada que a Codevasf através dos Coelhos. Rigorosamente, nenhum dirigente da estatal comandou a empresa sem o apoio do grupo político Coelho.
Isso pode explicar a presença do líder do Governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho, entre os parlamentares que mais destinaram recursos para o orçamento da Codevasf, que recebeu emendas de R$ 459 milhões em repasses à Codevasf em dezembro do ano passado.
Pode-se afirmar que as chances de que uma movimentação na Codevasf, sem que o grupo Coelho estivesse informado, seriam próximas de zero.
Como informa reportagem do jornal O Estado de S. Paulo na lista dos deputados que mais indicaram compras e obras por meio da Codevasf, em 2020, estão aliados influentes do Planalto – o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho, do MDB de Pernambuco (R$ 125 milhões); o deputado Arthur Lira (R$ 70 milhões) e o senador Ciro Nogueira (PI), presidente do Progressistas (R$ 50 milhões).
Para que se tenha ideia do que é a Codevasf para o Coelhos, é importante observar que em 1967 quando o Decreto-Lei nº 292 criou a Superintendência do Vale do São Francisco (Suvale), autarquia vinculada ao então Ministério do Interior, o governador de Pernambuco era Nilo Coelho, falecido em 1983 como presidente do Senado.
Foi Nilo Coelho quem praticamente estruturou a Suvale, que virou Codevasf em 16 de julho de 1974. O primeiro presidente Nilo Peçanha Araújo de Siqueira teve forte apoio da família Coelho. Um dos irmãos de Fernando Bezerra, Clementino Souza Coelho foi presidente da empresa entre 2011 e 2012.
O fato novo nessa informação de engorda do orçamento da empresa está no fato de ter sido o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, o autor do projeto de ampliação de sua área de atuação aprovado definitivamente pelo Senado em 13 de agosto de 2020, sancionado sem vetos pelo presidente Jair Bolsonaro.
A nova lei autorizou a Codevasf a atuar nas bacias hidrográficas dos rios Araguari (AP), Araguari (MG), Jequitinhonha, Mucuri e Pardo (MG) e as demais bacias hidrográficas e litorâneas dos estados do Amapá, Bahia, Ceará, Goiás, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte (antes apenas Alagoas, Maranhão e Sergipe tinham todo o território contemplado).
É importante observar que com a Codevasf, sob influência dos Coelhos, que o Nordeste começou a desenvolver uma tecnologia de irrigação que transformou o vale numa espécie de Califórnia brasileira.
Nilo Coelho e seu irmão, o deputado Osvaldo Coelho, sempre atuaram em defesa do modelo de irrigação na região, que começou pelo famoso projeto Bebedouro, ainda está em funcionamento próximo de Petrolina, e que serviu de base para que fosse desenvolvido todo o conceito de irrigação na região.
Nilo Coelho usou toda sua influência nos governos militares e, o seu irmão, todo o prestígio para alocar verbas para o Vale do São Francisco. Com a morte de Osvaldo Coelho, a bandeira de recursos para a companhia ficou o deputado Guilherme Coelho, filho de Osvaldo e primo de senador Fernando Bezerra Coelho.
A influência se materializa, por exemplo, na 3ª Superintendência, em Petrolina (PE), hoje sob o comando um ex-assessor parlamentar do senador Fernando Bezerra Coelho, Aurivalter Cordeiro, com quem o atual prefeito de Petrolina, Miguel Coelho (MDB), filho do líder do governo no Senado, assinou em janeiro dois convênios no valor de R$ 46 milhões para pavimentação na cidade.
E mesmo a indicação do diretor-presidente da Codevasf, Marcelo Moreira, empossado em agosto de 2019 pelo deputado Elmar Nascimento (DEM-BA), teve a aprovação do senador Fernando Bezerra Coelho, como líder do Senado.
O fato novo nessa denuncia é a entrada de personagens como o senador Ciro Nogueira (PI), o deputado Arthur Maia (DEM) e o senador Davi Alcolumbre e Rogério Marinho (PSSB). Nenhum deles tem qualquer aproximação com a Codevasf ou tinham até que começou a onda de direcionamento de emendas de verbas destinadas a Codevasf.
Até porque dentro do Congresso costuma-se dizer que assim como o assunto DNOCS é assunto do Ceará, Codevasf é de Pernambuco. Dos Coelhos.
Não há na história da Codevasf informações de destino de verbas parlamentares de fora da área de sua atuação e muito menos de deputados que não tem qualquer ligação com a atuação da companhia.
O fato novo na revelação do esquema do presidente Jair Bolsonaro para controlar o Congresso foi além da criação de um orçamento secreto de R$ 3 bilhões, é a divisão do mando da Codevasf por vários atores, conforme o Estadão.
Quando o presidente Jair Bolsonaro expandiu e turbinou a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), ficou claro que a estatal que era um assunto dos Coelhos de Petrolina foi loteada pelo Centrão que vai aplicar cerca de um terço desses recursos por imposição dos políticos que a controlam.
Isso não quer dizer que os Coelhos estão dividindo o seu controle na região que lhe interessa. Mas que a ampliação da área de atuação da Codevasf significou também uma redivisão do controle.
E revela uma deformação do conceito original da estatal de se contrapor ao DNOCS que não obtiveram sucesso no semiárido.
A Codevasf nasceu focada em irrigação para o pequeno, médio e grande produtor com o suporte de Estado que financiava a infraestrutura. Não tem nada a ver com a realidade do setor rural do Amapá, do senador David Alcolumbre.