No meio da série de debates e protestos dos sindicatos dos professores exigindo melhores condições de salários, trabalho e ambiência escolar, uma característica chama a atenção da estrutura física da rede pública de ensino do Recife: ela tem, entre creches e escolas, 323 endereços para um público de 95 mil alunos.
Seria ideal se tantos endereços abrigassem alunos em salas amplas e em prédios com todos os equipamentos de suporte didático e ambiental. Mas tantos endereços revelam que num município de distrito único construir escola é um desafio.
Com área territorial de aproximadamente 218 km² a densidade demográfica é de 7.370,68 habitantes/ km² com taxa de urbanização de 100%. O município tem 94 bairros, divididos em seis Regiões Politico-Administrativo, mas é formado por apenas um distrito e uma população de 1.661.017 segundo estimativa do IBGE em 2021. Ou seja, não tem mais terreno a ocupar.
Nas creches estão populações de até 80 crianças ocupando casas locadas pela Prefeitura. Escolas, com até 300 alunos estão em prédios adaptados num desfio adicional a professores e gestores.
Segundo o secretário de Educação, Fred Amâncio, deslocado do Estado para a pasta no Recife, a Prefeitura do Recife lançou há duas semanas o Programa Primeiras Letras. Com investimentos de R$ 15 milhões até 2024, a iniciativa vai beneficiar 255 unidades de ensino na busca pela alfabetização de todas as crianças que estudam na rede garantindo, além de uma educação de qualidade, o acesso às demais etapas de ensino com maior aprendizagem e melhores oportunidades de um futuro melhor.
Pelas contas do secretário, mais de 34 mil estudantes serão impactados pelo Primeiras Letras. “O grande objetivo do programa Primeiras Letras é garantir a alfabetização de todas as nossas crianças do Recife até os sete anos de idade", observa.
O problema, segundo, Fred Amâncio é achar terreno. "O Governo do Estado tem 1.060 prédios para 560 mil alunos. Pela dimensão consegue áreas de até 3 mil m². Isso é impossível no Recife. Numa comunidade tipo ZEIs nem pensar", diz.
Isso quer dizer que arranjar uma área padrão de 1.800 m² numa comunidade seria desalojar mais de 200 famílias. Amâncio afirma que o desafio da equipe é achar pequenas áreas para melhorar as condições das escolas sem criar outro problema.
"Viramos caçadores de pequenos terrenos. Até porque não faz sentido fazer escolas grandes longe da comunidade. O elevado número de endereços mostra que colocamos escolas e creches em espaços pequenos porque não existe terreno", explica o secretário.
META
Fred Amâncio diz que a Prefeitura vai dobrar o número de alunos em creches dos atuais 7 mil para 14 mil até 2024. Isso quer dizer encontrar mais espaços. O problema nem sempre é a falta de recursos aplicados no percentual de 25% exigidos pela lei, mas achar espaço físico mesmo.
Ele lembra que quando se acha área de expansão é uma alegria. Esse é o caso da nova sede da Escola Municipal Santa Luzia (no bairro da Estância), que tem capacidade para atender cerca de 400 estudantes do ensino fundamental, aumentando em 30% a oferta de vagas na área.
"A gente está ofertando mais vagas para a comunidade. Nessa escola serão mais 400 vagas no ensino fundamental, o que representa quase um terço a mais de vagas nas escolas aqui da região”, destacou Fred Amâncio.
"Estamos buscando espaços de escolas do Estado na capital, a terrenos para prédios em até 4 pisos no sentido de dar condições adequadas aos professores e alunos, seja numa minúscula creche, seja numa escola grande", informa Amâncio.
A fim de estimular o bom desempenho das escolas, o Programa Primeiras Letras vai premiar com R$ 80 mil as dez escolas com melhor resultados na alfabetização e com R$ 60 mil as dez unidades com maior crescimento.
A coordenadora geral do Sindicato Municipal dos Profissionais de Ensino da Rede Oficial do Recife (Simpere), Cláudia Ribeiro afirma que, desde o início da pandemia, os professores não pararam de trabalhar e que a categoria e os estudantes nunca receberam o suporte necessário para manter as aulas.
Diante do cenário de permanência das atividades remotas, o Simpere pediu que a prefeitura garantisse a estrutura necessária.
“A gente exige da prefeitura que, enquanto a gente esteja nessa atividade remota, ela possa proporcionar para as famílias, internet, computador e celular para que as crianças possam efetivamente ter acesso à educação", explica Cláudia.
Amâncio diz que a prefeitura vai ampliar a oferta de equipamentos aos professores além de focar em mais investimentos em capacitação. Enquanto procura espaços para melhorar a infraestrutura física.