Cenário econômico em Pernambuco, no Brasil e no Mundo, por Fernando Castilho

JC Negócios

Por Fernando Castilho
castilho@jc.com.br
Coluna JC Negócios

Importador de combustíveis sai do mercado e Petrobras agora paga conta da explosão dos preços do petróleo

Sem aumentar os preços dos combustíveis desde 12 de janeiro, a estatal está perdendo R$ 1,80 por litro no diesel e mais R$ 1,25 por litro de gasolina, sem perspectiva de baixar

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Fernando Castilho

Publicado em 08/03/2022 às 23:00 | Atualizado em 10/03/2022 às 17:03
Petrobras anunciou aumento de preços para as distribuidoras pela primeira vez desde maio - AGÊNCIA PETROBRAS

O Brasil é um país muito particular. Ele produz mais de três milhões de barris de petróleo por dia, mas é um dos maiores importadores de derivados de petróleo da América do Sul.

Ele tem um grande número de refinarias da sua empresa estatal de petróleo, a Petrobras, mas ela quer vender ao menos outras três delas, inclusive, uma novinha que só ficou pronta há quatro anos, e ainda assim apenas a metade.

No Brasil, a sua estatal de petróleo decidiu importar produto acabado em lugar de usar sua capacidade instalada de refino.

Mas por ironia do destino, a explosão dos preços petróleo - devido à guerra da Rússia com a Ucrânia - criou uma armadilha onde a pressão do Governo para não reajustar os preços na ponta expulsou o setor privado do negócio, deixando a empresa estatal sozinha no buraco que ela própria cavou ao dolarizar sua contabilidade mirando apenas sua lucratividade.

Enquanto o dólar esteve com as cotações estáveis, foi bom para o acionista. Mas agora, na crise da guerra e sem a presença do importador privado, a Petrobras ficou só carregando o prejuízo do barril do petróleo a US$ 126.

Na boca do caixa, a estatal está perdendo R$ 1,80 por litro no diesel e mais R$ 1,25 por litro de gasolina sem perspectiva de baixar.

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O problema é que a Petrobras hoje só refina 65% do óleo diesel que o mercado Brasil consome. Em tempos normais, o setor privado importa 20% e aguenta o tranco sem problemas.

Mas com a defasagem de preços agora em 2022, o setor privado deixou de importar de modo que a Petrobras está tendo que segurar sozinha o consumo e tomando o prejuízo.

Na verdade, o dólar de R$ 5,07 (como fechou nesta terça-feira 8), produz uma defasagem média -32% no óleo diesel e de -28% para a gasolina. E à medida que o tempo passa, a estatal toma mais prejuízo.

A Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom) afirma que se a Petrobras parar com a importação dos 35% do consumo, os empresários seguram o tranco sem problemas, embora repassando os preços em dólar.

Com isso a pressão se reduziria para um terço sobre o consumo e não 100%, como é hoje coma Petrobras fixando seus preços em dólar.

Dessa forma, a Petrobras poderia reorganizar sua política de preços sobre 65%, reduzindo a pressão e abrindo novas possibilidades de negociação.

Isso, é claro, exigiria uma decisão estratégica da empresas de abandonar a tal paridade de preços internacionais em dólar que pratica desde 2017 quando foi vítima do escândalo da Lava Jato nos governos do PT.

O setor privado defende que a Petrobras simplesmente pare de importar combustível pronto.

Até porque, segundo ele, esse não deve ser o negócio da Petrobras. A Petrobras é uma empresa de prospecção, exploração e refino de petróleo. Não é uma importadora de produtos acabados.

Eles defendem que a estatal deixe que o mercado regule o preço dos 35% de volume. Na prática, não existiria pressão na Petrobras pois os seus custos da produção são muito rentáveis.

O problema é que com os preços do barril do petróleo estáveis, a Petrobras virou comercializadora de produtos acabados e reduziu sua produção feita a partir de petróleo fino nas suas unidades do Sudeste, próximas aos centros de consumo.

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Do ponto de vista do acionista (inclusive o governo brasileiro), é um negócio da China. Importa o mínimo necessário para atender o mercado e exporta o máximo que o pré-Sal entrega com sua rentabilidade que já reponde por 75% da produção Brasil.

No mês passado, segundo a ANP, o pré-Sal entregou 2,912 MMboe/d (milhões de barris de óleo equivalente por dia), sendo 2,292 MMbbl/d de petróleo e 98,6 MMm3/d (milhões de metros cúbicos diários) de gás natural. Detalhe: ao custo de R$ 7,90, o barril.

Assim, a Petrobras que já ganha muito dinheiro explorando o pré-Sal, apenas com as exportações, entendeu de virar importadora para ganhar mais dinheiro e ficar com uma fatia maior do negócio no Brasil.

É uma coisa meio estranha. A mesma empresa vendeu sua empresa de distribuição. A empresa que criou a BR distribuidora na década de 70 e que virou líder do mercado, em 2019, vendeu a empresa e sua rede de postos de combustíveis.

O argumento é que a Petrobras quer se concentrar apenas na extração do petróleo do pré-Sal que é, de fato, o seu melhor negócio.

A vantagem do pré-Sal é que ele é muito rentável. Toda essa produção de quase 3 milhões de milhões de barris de óleo equivalente por dia teve origem em apenas 134 poços e correspondeu a 74,7% da produção nacional.

E esse volume é quase todo exportado porque nossas refinarias são desenhadas para petróleo fino não processam esse óleo. A rentabilidade da Petrobras na operação do pré-Sal e considerada uma das melhores do mundo.

Porque agora o pré-Sal não precisa mais fazer prospecção. Já se sabe que o petróleo está lá e então é só colocar a plataforma para retirá-lo. É por isso que empresa estima o custo do barril em US$ 7,90. Imagina a rentabilidade com o barril sendo vendido a mais de US$ 100?

A explicação para a exportação do óleo do pré-Sal e a importação do petróleo no Oriente Médio remonta a década de 70, antes do primeiro choque do petróleo, quando a estatal comprou suas refinarias para processar petróleo fino.

Hoje, a Petrobras reduziu o refino do petróleo porque existe oferta de combustíveis no mercado internacional. Ela então decidiu competir com o setor privado (que poderia fazer isso) para ganhar mais.

O azar é que com a guerra de Rússia os preços subiram muito e aumentou a pressão do governo para não aumentar os preços na bomba. Então, desde 12 de janeiro que não tem aumento de combustível fazendo com que a defasagem a cada aumentam.

E como não quer perder dinheiro o setor privado deixou de importar deixando a Petrobras sozinha importando tudo e tomando um cano grande.

De certa forma, a Petrobras está pagando pela decisão de lucrar mais e premiar seus acionistas em detrimento do contribuinte que indiretamente também é o dono da empresa. Não faz muito sentido, numa crise com essa, a empresa manter a politica porque isso impacta na própria inflação do país. As pressões politicas estão aumentando muito.

É verdade que no passado, quando não existia o pré-Sal - cujo óleo é de um tipo grosso que só é refinado na nova refirmaria Abreu e Lima, desenhada para ele - a Petrobras importasse petróleo do Oriente Médio para suas refinarias. Hoje, com o pré-Sal a empresa deveria estar construindo refinarias para processar o seu petróleo.

Mas ela não quer nem ouvir falar em refino.

Ela deseja vender a Refinaria Abreu e Lima, em Suape, depois de terminá-la. Mesmo que ela processe o petróleo do pré-Sal. Mas a refinaria de Pernambuco só reponde por 10% do diesel consumido no pais. Assim, a Petrobras exporta óleo grosso do pré-Sal e importa o óleo fino do Oriente Médio.

Em tempos normais, a opção por dolarizar sua contabilidade e reduzir o refino garantiu à Petrobras uma rentabilidade em todas as frentes, inclusive, quando importava combustível.

Mas aí a guerra de Putin mudou tudo com o consumidor pagando a conta para o acionista. Agora, sob pressão, a estatal terá que decidir se mantém sua política de preços ou se muda e ajuda o Governo. Porque os preços dos combustíveis impactam direto na inflação do Brasil. 

 

Brasileiros devem sofrer no bolso com os impactos do conflito entre Rússia e Ucrânia - GUGA MATOS / JC IMAGEM

Sabendo que qualquer uma das opções ou perde valor nas Bolsas do Brasil e de Nova Iorque ou se continua punido o consumidor devido aos preços da guerra da Ucrânia.

Isso para não falar dos impactos na política e na economia brasileira que esse ano terá eleições gerais.

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