No meio da tragédia humana da guerra da Rússia conta a Ucrânia, países começam a exibir uma estratégia de proteção contra o efeitos econômicos desse conflito armado. Eles estão ampliando seus estoques de alimentos mais como uma forma de proteger-se da inflação que eles certamente terão com a saída, ao menos temporária desses dois grande produtores agrícolas.
O Brasil se envolveu num debate sobre os efeitos das possíveis dificuldades de importação de fertilizantes uma vez que por ano precisaremos de até 45 milhões de toneladas para produzir nossa safra de quase 300 milhões de toneladas de grãos em 2021 quando segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) deixamos de fazer qualquer tipo de estoque das 10 principais culturas agrícolas enquanto nos tornávamos uma potencia exportadora.
O caso da soja em bem curioso. O Brasil nunca teve nenhum estoque regulador da cultura. Nos tornamos o maior produtor mundial do grão sem que o governo tenha gasto um real para proteger o consumidor de preços altos.
Na verdade, o Brasil consome e exporta toda sua safra, inclusive, antecipando a vendas das que serão plantadas nos próximos cinco anos.
Mas no caso do milho, feijão, arroz e açúcar até o ano de 2014 quando (na crise do governo Dilma), o país abandonou a estratégia de ter algum tipo de proteção para regular os preços no mercado interno.
Houve um tempo em que o Governo federal chegou a importar esses produtos apenas para servir de estoque regulador. Mas, na maioria dos anos, o próprio ministério da Agricultura cuidava de comprar parte da produção para guardar e ir distribuindo ao longo do ano.
O caso do arroz chamou atenção no final de 2020 passado quando os preços dispararam e chegaram a subir 35% assustando os consumidores e dando inicio a explosão dos preços em 2021.
Sem uma saca do produto nos armazéns da Conab o governo prometeu facilitar a importação cortando as taxas que normalmente servem para tornar o produto mais barato no mercado interno.
Na verdade, a partir de 2014, quando a Conab teve 221.9 mil toneladas tomadas em estoque ao longo ao ano o Brasil zerou seus estoque de arroz.
Era uma situação completamente diferente do ano de 2006 quando o Brasil começou a se destacar como produtor mundial de outras culturas e chegou a guardar, no ano, 1,34 milhões de toneladas de arroz.
O caso do milho é mais emblemático. Em 2007, no primeiro ano do segundo governo Lula a Conab teve em estoque 2,11 milhões de toneladas no programa de Aquisição do Governo Federal (AGF). No ano passado fechou com apenas 7.628 toneladas. Em oito meses, o Governo não comprou uma única saca de milho através da Conab.
No caso do açúcar, a Conab chegou a comprar 62.640 produzidas no programa de agricultura familiar em 2006. Desde 2017 nenhuma tonelada do produto.
Mas talvez o caso mais emblemático seja o do feijão uma cultura que tradicionalmente o governo mantinha estoques reguladores até o final de 2000 e que hoje também é zero.
Em 2010, o Governo Federal chegou a comprar, ao longo do ano, 1,56 milhão de toneladas e mais 1,29 milhão de toneladas ao longo do ano de 2011. Desde 2017 a compra é zero.
Tudo isso mostra como, apesar de ser uma potencia agrícola, o Brasil não vem tomando nos últimos anos nenhum atitude de proteção deixando o mercado funcionar livremente.
No caso do governo Bolsonaro, isso se deve a política liberal do ministro Paulo Guedes de deixar o mercado regular tudo. Até porque a produção do Brasil está crescendo.
Mas isso também expõe a fragilidade de não ter qualquer proteção em caso de crise como a que estamos vivenciando e com os preços em alta no mercado interno.
No ano passado, o caso do arroz se tornou um bom exemplo com os preços estourando.
Este ano, se houver um estouro nos preços do milho (cotado em dólar) ou nos demais produtos, o governo não tem nenhuma ferramenta de regulação sobrando a conta para o consumidor e com o estouro da taxa de inflação no final do ano. O que certamente este ano vai acontecer de novo.
O Brasil é um caso raro de um país que alimenta vários países, mas que sua população sofre com problemas básicos de fome de cereais e grãos.