Servidores públicos concursados, Gustavo Krause e Paulo Roberto Barros e Silva saíram de cargos no governo depois 12 anos servindo aos governadores Moura Cavalcanti, Marco Maciel e Roberto Magalhães.
Decidiram virar consultores e vender serviços de processos de melhoria de gestão governamental.
Ao lado de Fernando Barros, João Macedo e Aloísio Sotero eles fundaram Multiconsultoria. Sotero e Macedo seguiram novos caminhos em 1989. Ficaram os três até que em 2008, Fernando Barros assumiu sua trajetória jurídica. Ficaram Gustavo e Paulo Roberto juntos há 35 anos no negócio.
Mas no dia 17 de março de 1987, dois dias depois de passarem seus cargos “e após uma farra que durou a noite toda de 15 para 16” o grupo abriu a empresa oficialmente e sem nenhum cliente.
O grupo não teve dificuldade de achar freguês. Talvez porque eles tinham uma expertise que não existia naquele momento traduzida no conhecimento do setor público de dentro e após 12 anos seguidos trabalhando na área.
Com o tempo, a feição da Multiconsultoria foi sendo alterada, focando na relação público-privada, um processo de articulação institucional, para solucionar pendências, construir alternativas, fazer acontecer em favor dos interesses mútuos das empresas e do governo.
Em 10 anos, a Multiconsultoria ajudou a estruturar planos de gestão, organização de cadastro tributário entre outros serviços especialmente nos estados do Nordeste, exceto o Ceará onde segundo Paulo Roberto, a Multiconsultoria “nunca venceu uma licitação”.
O crescimento da concorrência no setor publico com o surgimento de novas empresas fez a empresa sair gradativamente dele. Primeiro, direcionando seus trabalhos para empresas privadas que atuavam para o setor publico e, a seguir, saindo do segmento passando a essencialmente trabalhar para o setor privado no desenvolvimento de estruturação de grandes projetos em regiões metropolitanas, especialmente, quando elas começaram sofrer com a pressão urbana em áreas rurais.
Segundo Paulo Roberto, a Multiconsultoria tem a marca de ter feito projetos de ordenamento urbano para quase todas as usinas de açúcar do em Pernambuco, Alagoas e Paraíba e Rio Grande do Norte, primeiro definido os padrões de ocupação e depois estruturando grandes projetos imobiliários, novos bairros e distritos turísticos.
Começamos fazendo um em Pernambuco e depois fomos sendo chamados para outras usinas e no final fizemos isso em todas as empresas do setor. O que acabou gerando novos empreendimentos a partir de um planejamento estratégico para esses espaços, diz.
A Multiconsultoria também, fez projetos que viriam a ser referência como o Costa Dourada que foi desenvolvido como apoio do Ministério do Turismo e do BID para todo o Nordeste - a partir de Pernambuco e Alagoas e depois para Paraíba e o Rio Grande do Norte. Nesses quatro estados, os serviços foram feitos pela empresa e, a seguir, nos demais estados por outras consultorias.
Os problemas da Multiconsultoria só ficaram sérios quando o sócio fundador, Gustavo Krause saiu da companhia para voltar ao governo.
“A nossa crise mais grave, conta Paulo Roberto, foi nos 76 dias em que Krause virou ministro da Fazenda. Eu acho que se ele ficasse três meses no cargo, depois de ser convidado por Itamar Franco, a gente tinha quebrado. Porque eu fui junto com ele para Brasília e a empresa ficou sem ninguém para liderar. Graças a Deus ele deixou o cargo e nos voltamos para Recife, relembra o arquiteto ao falar do sócio.
Krause ainda voltou outra vez ao governo como ministro do Meio Ambiente e ficou lá por quatro anos quando se afastou da sociedade e para onde voltou em seguida a recusar o convite para ficar mais quatro anos.
Com a Multiconsultoria trabalhando para o setor público, a empresa se orgulha de alguns projetos icônicos como o projeto Recife Capital para o governo Roberto Magalhães que reuniu quase 100 especialistas para definir os projetos que a cidade deveria perseguir e caminhar.
O projeto não foi feito porque Roberto Magalhães perdeu a eleição para João Paulo. “Mas deve estar em algum lugar da biblioteca da Prefeitura” e, segundo Barros e Silva, ainda bem atualizado.
Outro projeto que a empresa se orgulha é de ter feito e, 79 dias, foi o EIA Rima do Estaleiro Atlântico Sul.
“A gente estava fora do setor público quando Jarbas Vasconcelos nos chamou lá com um problema. O Grupo Camargo Correia definira fazer o estaleiro em Suape, mas só poderia confirmar a opção com a Licença Prévia Ambiental. Nós reunidos uma das maiores equipes da universidade de Pernambuco e estruturamos o documento desafiando a enorme desconfiança do pessoal de Brasília” relembra.
Na verdade, Suape já tinha no seu Plano Diretor uma especificação para a construção de um estaleiro. “Estava na lei que aprovou o PD de Suape. Então, o desafio da consultoria era escrever e aprovar o EIA-Rima em prazo curto.
Nos últimos anos, a Multiconsultoria tem trabalhado na área de identificação, microlocalização e estruturação de projetos imobiliários em regiões metropolitanas.
A gente tem a crença de que podemos contribuir nas soluções de questões urbanas e, por conseqüência, da vida das pessoas. Por essa razão, propomos alternativas que transformem as cidades para melhor qualidade – um lugar bom de viver.
Ao longo de 35 anos, diz Paulo Roberto, nós fomos formando um grande banco de dados sobre grandes terrenos nas RMRs que podem se transformar em empreendimentos e estamos trabalhando nisso. Outra linha é a de assessoria para empresas para atuação de acordo com a legislação ambiental, inclusive, junto ao poder publico, diz o arquiteto que já presidiu a URB-Recife.
A empresa se orgulha de ter sido a primeira a usar o termo consultoria no Nordeste.
“No final da década de 80, quando a gente falava que era uma consultoria muitos secretários e governadores olhavam para a gente sem saber o que a gente queira fazer e ficavam desconfiados. O serviço era prestado por profissionais liberais quando a gente chegava com empresa muita gente olha mesmo desconfiada.
Mas em 35 anos a empresa também teve derrotas. Um delas foi o projeto da Linha Verde que as administrações do PT transformaram na Via Mangue iniciada por João Paulo e finalizada por Geraldo Júlio.
"Eles escolheram outro caminho", diz Paulo Roberto sem querer abrir novas polêmicas sobre o projeto. O conceito da Via Mangue tem críticos que a acusam de ser um caso único de uma via urbana que termina num túnel com dois semáforos nas extremidades. E ter chegado à cabeceira da ponte do Pina que ainda precisa ser duplicada.
Depois de 35 anos juntos, Paulo Roberto e Krause dizem que lideram uma empresa que não tem organograma, não tem Diretoria, Presidente ou “chefe” – nem pensar.
O modelo deu certo. Afinal, atravessou todas as décadas perdidas e aprendeu nas crises a fazer um pouco de quase tudo, desde que demandada “ou inventando uma projeção do amanhã. E quando o tempo era menos escasso, soltar a criatividade por caminhos inimaginados”, como o Marco Zero e o Parque de Esculturas ,resume o arquiteto.