No segundo semestre de 2021, o governador Paulo Câmara pegou a estrada para, ao lado da secretária da Infraestrutura, Fernandha Batista, anunciar uma série de ordens de serviço de construção e reforma de estradas estaduais. Ele juntou nos eventos uma série de anúncios para as demais secretarias, nas áreas de educação, saúde, entre outras, de modo a criar uma onda de obras em todas as regiões do Estado.
A movimentação foi tão intensa que o nome da secretária Batista chegou a ser lembrado como uma possível candidata ao governo nas eleições de 2022. O governo lançou um ambicioso programa de investimentos estimado em R$ 5 bilhões, chamado de Retomada.
O tempo passou e o nome de Batista foi esquecido. Mas em 2022, as viagens continuaram, especialmente depois que começou a pré-campanha eleitoral.
Mas os primeiros resultados das pesquisas eleitorais revelam que Paulo Câmara não conseguiu, com suas visitas e ordens de serviço, imprimir a imagem de tocador de obras com que pretende terminar seu governo.
Isso certamente tem a ver com a imagem de dificuldades que o próprio Paulo Câmara projetou ao longo de sete anos, quando, a partir de 2015, precisou, já nos primeiros seis meses, reorganizar todo o planejamento financeiro do Estado.
Paulo Câmara precisou pagar as parcelas da dívida pública do Estado contraídas em dólar na gestão Eduardo Campos, e somente ano passado pode comemorar o pagamento no mês de competência, quando o crédito é feito no último dia útil do mês.
Ao longo dos anos, cresceram as críticas no setor de infraestrutura relacionadas com a conservação das estradas e segurança, uma vez que em 2017 o Estado bateu os recordes com queixas sobre a falta de infraestrutura dos departamentos e delegacias.
Um detalhe curioso da situação de penúria no caixa tem a ver com a sede do laboratório de genético da SDS ter começado suas obras no Governo Eduardo Campos e só este ano ter sido retomada.
O movimento iniciado a partir do anúncio festivo do Retomada não conseguiu criar uma imagem de obras que pudesse dar a ideia de mais investimento.
Este ano, o governador empenhou, apenas em janeiro e fevereiro, segundo dados da secretaria da Fazenda, R$ 500 milhões, mas até o final de fevereiro, só pagou pouco mais de R$ 50, o que revela que existem poucas obras sendo faturadas.
O governador, de fato, tem muito mais recursos para investir este ano, e está livre das amarras do período eleitoral, porque decidiu ficar no Governo. Ele pode terminar o ano aplicando tudo que planejou e ajudar ao candidato do seu partido, Danilo Cabral, que o tem acompanhado nos eventos.
Mas o governador não conseguiu ainda criar a imagem de que está desenvolvendo um grande programa de investimentos em todo o Estado, o que ainda pode acontecer, uma vez que existem recursos.
Mas ele também herdou problemas de projetos com o BRT, aliás, iniciado na gestão do seu candidato ao governo, Danilo Cabral, que era o secretário encarregado do projeto. O projeto nunca foi concluído e contribui para uma ação deficiente no setor de transporte da Região Metropolitana do Recife, agravando a imagem da gestão Paulo Câmara nessa área.
Paulo Câmara deve deixar o governo entregando ao sucessor não só obras - que ele poderá entregar já nos primeiros meses - mas capacidade de pagamentos. Ele pode tomar emprestado até R$ 2 bilhões, o que poderá turbinar sua gestão.
Mas dificilmente, pelo menos até agora, não pode transmitir uma imagem de obras que impactaram. E mesmo que esteja liderando as verbas para os projetos de água e construção dos projetos de recursos hídricos, e tentando concluir o projeto da Adutora do Agreste, isso não ajuda muito na construção de uma melhor imagem junto à população.