Cenário econômico em Pernambuco, no Brasil e no Mundo, por Fernando Castilho

JC Negócios

Por Fernando Castilho
castilho@jc.com.br
Coluna JC Negócios

Produtos de preços baixos da China fazem indústria ótica brasileira virar periférica no setor, que fatura R$ 22 bilhões

Os brasileiros, a partir de São Paulo, sempre produziram máquinas para corte e processamento de lentes para retaguarda das óticas

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Fernando Castilho

Publicado em 06/05/2022 às 10:00 | Atualizado em 06/05/2022 às 15:50
Feira de negócios da indústria ótica e de varejo de lentes e armações - Expo Ótica 2022

Dona de um mercado estimado em R$ 22 bilhões, realizado por um varejo de 38 mil óticas, a indústria brasileira de produtos óticos, equipamentos para óticas, lentes e armações tenta sobreviver com a produção de máquinas e de suporte aos laboratórios de processamento de óculos, enquanto assiste a predominância de concorrentes chineses com preços de 60% mais baratos.

No setor, existe uma certa divisão onde os japoneses lideram nos produtos destinados aos exames da visão. Os alemães dominam o segmento de lentes de alta tecnologia e os italianos, com o seu design na produção de armações.

Os brasileiros, a partir de São Paulo, sempre produziram máquinas para corte e processamento de lentes para retaguarda das óticas, de armações e até mesmo lentes.

CHINESES DE BAIXO PREÇO

Marcelo Salibia, Diretor da Suplimed - Expo Ótica 2022

Mas a chegada dos chineses nos últimos 20 anos provocou um colossal deslocamento para importação de produtos similares em todos os setores da cadeia produtiva, de modo que hoje eles fabricam as armações, as lentes, parte dos equipamentos de avaliação de visão - transformando a participação dos japoneses num mercado de alto valor agregado - e competindo com os alemães no setor de lentes com produtos de baixa qualidade, mas de preços até 50% menores.

No setor de lentes, o segmento convive com a entrada de produtos falsificados, o que preocupa a classe médica em relação aos riscos à visão por uso de produtos aparentemente referenciados e, não raro, como se fossem dos gigantes alemães, que lideram a pesquisa e o desenvolvimento de produtos.

Expo Ótica

Este ano, as empresas brasileiras estão na principal feira de negócios, a Expo Ótica, a primeira de forma presencial depois da pandemia da covid-19, mostrando seus produtos mirando a renovação dos equipamentos para óticas independentes, que representam 75% do setor e precisam de retaguarda como máquinas de cortes, preparação de lentes, assim como as clínicas médicas, que precisam de sistemas de avaliação de visão.

Marcelo Salibia, diretor da Suplimed, uma empresa que fabrica equipamentos em parceria com a japonesa Shin Nippon, esclarece o comportamento do setor na área de máquinas de avalição da visão. Ela oferece ao mercado uma unidade de refração ao preço de R$ 30 mil, enquanto a concorrência tem o produto chinês importado a R$ 7 mil.

A indústria brasileira, que sempre teve parceria com os japoneses, como a nossa, hoje vende para os profissionais mais velhos, com clientela consolidada e que aceita pagar o preço de uma máquina mais robusta e precisa. Um médico jovem vai naturalmente procurar um produto mais barato, avalia.

A Suplimed produz uma linha de produtos de referência e importa do parceiro japonês, além de produtos, exames e suprimentos no mercado veterinário.

Adolfo Breternitz fundador da empresa de maquinas de processamento de lentes Brevil - Expo Ótica 2022

O empresário Adolfo Breternitz, que tem uma fábrica de máquinas para endurecimento de lentes de resina, está no mercado há mais de 40 anos. Sua empresa, a Brevil, é uma das que reduziu sua linha de produtos e montou uma importadora de armações para o atacado.

Ele revela que sua máquina anti-risco digital custa R$ 100 mil; os laboratórios de preparação de lentes nem sempre estão em condições de comprar um produto desse tipo, optando por um similar chinês.

Houve uma mudança muito grande no setor, e a indústria brasileira de ótica, que já forneceu a maior parte de equipamentos de suporte, não sobreviveu à importação.

Não só a de equipamentos para a preparação dos óculos, mas de lentes e armações. O governo nunca esteve próximo do setor, e ele, sozinho, virou importador com poucas empresas ainda com linha industrial, avalia Breternitz, que também é membro da Abiótica.

Tem empresas que preferiram fazer um mix de seus produtos, com o de importados, de modo a oferecer soluções completas ao empresário que está montando sua ótica.

SUPORTE PARA ÓTICAS

Esse é o caso da RM da cidade de Diadema (SP), que está no mercado há 50 anos e que tem como forte a linha de produtos de preparação de óculos e lentes.

Segundo Luciano Matos, que faz parte da segunda geração da família que iniciou a RM, a solução diante da nova realidade do mercado foi mesclar os importados com os nacionais e misturar componentes.

"Do nosso portfólio de 350 itens, temos 25 totalmente nacionais, especialmente as máquinas de cortar as lentes", diz o empresário. "Uma parte nós colocamos partes importadas e fechamos o produto e tem um outro grupo que a gente revende", esclarece.

 

Luciano Matos socio da RM Soluções - Expo Ótica 2022

Matos faz parte da geração de industriais do segmento ótico que não quis ficar apenas na importação. "Nosso objetivo é não deixar o cliente sair da loja. A gente vende a solução completa para que a ótica possa ser competitiva", conclui.

O perfil da empresa de Matos parece ser o da maioria das indústrias que ainda se mantém no setor, até porque existe um grande mercado de pequenas e médias empresas que fornecem serviços de confecção de óculos, que respondem por 75% do mercado.

Esse mercado também atende às clínicas de oftalmologia, que oferecem serviços com retaguarda de exames de olhos até chegar no médico. Esse mercado é o que mais compra equipamentos da China pelo seu preço baixo, embora quem deseje se diferenciar, opte pelos japoneses, que lideram em tecnologia.

BRIGA DE GIGANTES 

Embora haja uma crescente entrada de lentes chinesas que atuam em todos os segmentos com produtos que chegam a custar 30% dos itens, o segmento de lentes é claramente dominado pelos alemães da Zeiss e a Rodenstock, ambas com fábricas no Brasil, que enfrentam o grupo italiano Luxottica.

O mercado de lentes e armações é um negócio de R$ 22 bilhões, envolvendo indústria e lojas de vendas de óculos de sol e receituário, que tem 38 mil pontos de vendas.

Segundo Marcelo Kitsuda, CEO da Machon Brasil, a expectativa desse ano é de crescimento. Sua companhia, que é uma das maiores fabricantes e distribuidora de grandes marcas de armações, acredita que o setor deve crescer em 2022 até 8,9%.

Sua empresa faz as arações de marcas como Salvatore Ferramo, Calvin Klein e Larvi, cresceu em 2021 mais de 50% nas vendas e este ano acredita em números semelhantes pelo crescimento do óculos de receituário, devido ao grau de envelhecimento da população e da entrada no mercado do público jovem em função do excesso de exposição a telas de dispositivos eletrônicos, inclusive crianças e adolescentes.

 

EVENTO Até sábado, a Expo Óptica 2022 reúne 120 expositores, mais do que em 2019; área da feira também cresceu - DIVULGAÇÃO

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